Funaro contrata novo advogado para acertar delação premiada 
Jailton de Carvalho 
13/06/2017
 
 
Doleiro acena com informações sobre vínculos entre Temer, Cunha e Loures

-BRASÍLIA- O doleiro Lúcio Bolonha Funaro contratou o advogado Antônio Figueiredo Basto para intermediar um acordo de delação premiada entre ele e a Procuradoria-Geral da República. Basto é o advogado com o maior número de acordos de delação obtidos desde o início da Operação Lava-Jato. Nos primeiros contatos com vistas à colaboração, Funaro teria sinalizado com informações que podem turbinar as investigações sobre os vínculos entre o presidente Michel Temer, o ex-assessor Rocha Loures e o ex-deputado Eduardo Cunha, entre outros políticos supostamente ligados ao mesmo grupo.

As tratativas para o acordo estão avançando. As partes até cogitam, neste momento, transferir Funaro do presídio da Papuda para uma cela na Polícia Federal ou para outro lugar onde pudesse definir com Basto os anexos da delação a serem apresentados aos procuradores responsáveis pela Lava-Jato em Brasília. Antes de partir para contratar Basto e tentar a delação, Funaro conversou longamente sobre o assunto com o advogado Bruno Espiñeira Lemos, que era o principal responsável por sua defesa.

Na conversa, ficou acertado que Espiñeira se manterá como advogado nos casos já em andamento. Caberá a Basto levar adiante as negociações com vista ao acordo. A aproximação com Basto já teve um impacto. Na semana passada, o advogado César Bitencourt anunciou que deixaria a defesa de Funaro porque o doleiro resolvera fazer delação. A decisão de Funaro o colocaria em conflito com outros clientes. Bitencourt é advogado de Rocha Loures e trabalha para que o ex-assessor de Temer não faça delação.

MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA DE PROPINAS

Loures é acusado de receber propina em nome de Temer. O nome dele apareceu numa conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista, dono da JBS, em 7 de março deste ano, no Palácio do Jaburu. Na conversa, Temer indica Loures como interlocutor dele com liberdade para conversar sobre “tudo” com Joesley. Dias depois do diálogo, Loures foi gravado negociando decisões e cargos estratégicos do governo com o dono da JBS. Também foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, um dos operadores da propina da JBS.

O caso está sendo investigado em inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ministro Edson Fachin a partir de um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Temer e Loures são investigados por corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa. Funaro está preso desde junho do ano passado. Ele é acusado de movimentar dinheiro de propina para Eduardo Cunha e outros políticos do PMDB. Em um dos casos, ele é acusado de desviar recursos do FI-FGTS, administrado pela Caixa Econômica Federal.

Para investigadores e também para pessoas próximas ao doleiro, uma eventual delação de Funaro poderia ser mais explosiva que uma colaboração de Cunha. Operador do mercado financeiro, Funaro teria documentos para comprovar movimentação financeira de políticos influentes. Para investigadores da Lava-Jato, Cunha fazia negócios entre empresários e políticos. Funaro intermediava os pagamentos.

Até recentemente, o operador negava ter cometido qualquer crime. Mas decidiu partir para delação e emitiu sinais de que pode mesmo contribuir com as investigação. Em depoimento à Polícia Federal, no início deste mês, Funaro revelou que o exministro Geddel Vieira Lima, um dos mais próximos a Temer, o sondou para saber se ele iria fazer delação. Geddel teria ligado várias vezes para a mulher de Funaro querendo informações sobre o assunto.

Disse ainda que Geddel era o interlocutor de Joesley Batista no governo. As informações deverão constar da denúncia que a Procuradoria-Geral da República deverá apresentar contra Temer e Rocha Loures até segunda-feira.

 

O globo, n. 30626, 13/06/2017. País, p. 8