Cabral vira réu pela 11ª vez, por uso de joias para ocultar propina

JULIANA CASTRO

20/06/2017

 

 

Só da H.Stern, que fez delação, foram R$ 11 milhões; peças estão desaparecidas

A partir de informações reveladas em delação premiada por donos e diretores da joalheria H.Stern, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) virou ontem réu pela 11ª vez na Operação Lava-Jato. Além dele, também vão responder mais uma vez por lavagem de dinheiro a exprimeira-dama Adriana Ancelmo, que está em prisão domiciliar, e os operadores Carlos Miranda e Luiz Carlos Bezerra, ambos presos desde novembro do ano passado. Ao Ministério Público Federal (MPF), os executivos da H.Stern informaram novas compras de joias feitas por Cabral e Adriana, num total de R$ 4,5 milhões, por intermédio de Miranda e Bezerra.

Na primeira da série de denúncias contra o ex-governador, a da Operação Calicute, o MPF já falava sobre a aquisição de pelo menos R$ 6,6 milhões em joias na Antonio Bernardo e na H.Stern feitas a mando de Cabral. Na Operação Eficiência, descobriu-se diamantes da loja e pagamentos no exterior, feitos pelos delatores Renato e Marcelo Chebar. Com os R$ 4,5 milhões na nova denúncia, já são mais de R$ 11 milhões em joias compradas pelo peemedebista e a ex-primeira-dama.

“As aquisições eram feitas com o propósito indisfarçável de lavar o dinheiro sujo angariado pela organização criminosa, com pagamentos em espécie, por intermédio de terceiros, ou compensando valores de outras joias, sem emissão de notas fiscais e sem emissão de certificado nominal da joia”, afirma o MPF na denúncia.

O que os procuradores da força-tarefa da LavaJato ainda tentam descobrir é onde estão a maioria das joias compradas por Cabral e a mulher na H.Stern. Isso porque os delatores da joalheria confirmaram a venda de aproximadamente 40 peças, mas apenas duas delas foram apreendidas nas operações contra o ex-governador.

Em alguns casos revelados pela H.Stern, Cabral devolvia uma joia de menor valor para pegar outra mais cara. A diferença era paga com dinheiro em espécie. Foi o caso da aquisição de um brinco de ouro amarelo 18 quilates com brilhante solitário, cujo valor de R$ 1,8 milhão foi pago com a devolução de uma joia de R$ 1,2 milhão e mais R$ 600 mil em espécie pagos em três parcelas. Em outro caso, a aquisição de um brinco de ouro branco 18 quilates com brilhante solitário, avaliado em R$ 1,2 milhão, foi bancada com a devolução de peças de R$ 1 milhão e R$ 192,9 mil em espécie.

 

CABRAL DESISTE DE TER PEZÃO COMO TESTEMUNHA

O acordo de delação envolve o presidente da joalheria, Roberto Stern; o vice-presidente, Ronaldo Stern; o diretor financeiro, Oscar Luiz Goldemberg; e a diretora comercial, Maria Luiza Trotta. Eles concordaram em pagar multas que somam R$ 18,9 milhões.

A diretora comercial da H.Stern afirmou em depoimento à Justiça Federal no início de junho que Adriana Ancelmo pedia, na maioria das vezes, a fabricação de joias exclusivas.

Em depoimento a Bretas, Cabral afirmou que usou sobras de campanha para comprar joias. Já Adriana disse que as joias apreendidas em sua casa foram compradas por ela com dinheiro lícito ou foram presentes de seu marido. O ex-governador está preso desde novembro de 2016. Procurada, a defesa de Cabral afirmou que só vai se manifestar nos autos do processo.

Ontem, os advogados do peemedebista desistiram do depoimento do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB). Ele seria ouvido na tarde de amanhã, mas não vai ter mais que comparecer. Pezão já depôs como testemunha de defesa de Cabral no processo da Operação Calicute, que está em fase final.

Em uma das ações contra Cabral, o juiz Sérgio Moro condenou o ex-governador a 14 anos e dois meses de prisão. Adriana foi inocentada, mas o MPF afirmou que recorreria da decisão. Os demais processos contra o ex-governador tramitam na 7ª Vara Federal Criminal do Rio, cujo responsável é o juiz Marcelo Bretas.

O globo, n.30633 , 20/06/2017. PAÍS, p. 7