Murici, terra do senador, vê ‘fuga’ de moradores

Leonencio Nossa

09/04/2017

 

 

Cidade ganhou centro tecnológico, postos da Previdência e da polícia, mas não se recuperou de longa estiagem e do sumiço de empresas por causa da crise

 

 

 

De falta de investimentos ao longo das últimas décadas, a cidade de Murici, onde nasceu o senador Renan Calheiros (PMDB), a 44 km de Maceió, não reclama. Com 28 mil habitantes, o município não conseguiu, no entanto, se recuperar do abalo do fechamento de uma antiga usina de cana.

A perda da lavoura para a longa estiagem e o sumiço de empresas no rastro da crise econômica forçaram moradores a buscar emprego fora. De 1991, início da ascensão nacional de Renan, para cá, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no município passou de muito baixo (0,273) para baixo (0,527).

A poucos quilômetros da cidade, homens e tratores duplicam a BR-101. Uma outra rodovia, a BR-104, chegou aos limites do município. Um centro tecnológico federal, postos da Previdência e da polícia foram construídos.

O nome do pai de Renan, Olavo, está na placa de identificação de um conjunto habitacional onde moram atingidos da cheia de 2010 do Rio Mundaú. A prefeitura, hoje ocupada por Olavo Neto (PMDB), sobrinho do senador, foi laboratório político do governador Renan Filho, que comandou o município de 2005 a 2010.

O motorista Manoel Vicente da Silva, de 55 anos, e a mulher, Maria Lúcia, de 53, contam que passam ao menos sete meses do ano em canaviais de Goiás. “Não tem serviço aqui”, diz Silva.

No outro lado do Estado, Arapiraca, de 240 mil moradores, transformou-se em um lugar de doutores. A cidade atraiu faculdades públicas e privadas, tem mais de 50 cursos superiores e abriga cerca de 300 professores com mestrado e doutorado.

Foi um docente que derrubou o grupo do vice-governador Luciano Barbosa, do PMDB, no ano passado, com 259 votos de diferença. Rogério Teófilo, do PSDB, mantém conversas frequentes com Renan Filho, mas está comprometido com o tucano Rui Palmeira, que pode se lançar ao governo. “Fui eleito em Arapiraca sem o poder dos caciques”, diz Teófilo. 

 

Em família. Cidade é governada por sobrinho de Renan

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Adversário diz que Estado dificulta gestão

Leonencio Nossa

09/04/2017

 

 

Principal adversário da família Calheiros atualmente, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), observa que o senador sempre “pula do barco” quando não vê futuro político em um grupo. “Renan é governo desde Cabral. Foi líder do Collor, mas na hora em que o barco afundou votou pelo impeachment.

Estava com a Dilma, quando viu que não dava, se agarrou a Temer”, afirma. “Agora, já sente que Temer, com essas reformas impopulares, está sem força, então começa a olhar para frente”, completa.

“Ele olha para 2018 e vê que a alternativa é abraçar Lula.” Palmeira diz que, desde as eleições municipais no ano passado, Renan deixou de lado o estilo “esfinge” e “racional” para bater boca em rádio e cobrar empenho de vereadores para atacar a prefeitura. O prefeito reclama que o governo do Estado e o grupo do senador tentam dificultar sua gestão.

Palmeira diz ainda que Renan se acostumou a ser o “imperador” de Alagoas, mas sentiu o baque quando Temer nomeou o conterrâneo Maurício Quintella para a pasta dos Transportes.

“Ele soube da nomeação pela imprensa. Antes, pela influência, costumava saber antes e aproveitava para telefonar para os indicados, como se tivesse dado aval à nomeação.” O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) afirmou, por meio de assessoria, que divergências pontuais com adversários ocorrem porque ele não se dá “bem com governos que não ouvem”.

 

Pobreza. Em último lugar no ranking brasileiro do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com 0,631 ponto, Alagoas apresenta extrema pobreza no interior e na capital. Em Maceió, o bairro Benedito Bentes, de 120 mil habitantes, e os corredores do Hospital Geral, apinhados de pacientes, são retratos de um Estado que tenta a médio prazo atrair recursos com os serviços, em especial o turismo.

Alagoas está entre as seis piores economias do País, mas apresentou o terceiro maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014. Embora tenha uma das maiores dívidas, o Estado paga o funcionalismo em dia.

O Supremo Tribunal Federal (STF) atendeu a pedido do governador para suspender o pagamento das parcelas da dívida com a União, o que garante R$ 60 milhões a mais por mês. 

 

Lado. ‘Renan é governo desde Cabral’, diz Palmeira

Senadores relacionados:

 

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45099, 09/04/2017. Política, p. A5.