O Estado de São Paulo, n. 45096, 06/04/2017.  Política, p. A12

‘Cuspiria de novo em Bolsonaro’, diz Jean Wyllys após advertência

Conselho de Ética da Câmara aplica censura por escrito ao deputado do PSOL, que afirma não se arrepender do gesto

Por: Daiene Cardoso

 

O Conselho de Ética da Câmara rejeitou ontem pedido de suspensão do mandato do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que sofreu representação por ter cuspido no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) na sessão de abertura do processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em 17 de abril do ano passado.

O colegiado decidiu por uma advertência por escrito, a ser lida no plenário. Questionado ontem sobre a decisão, Wyllys disse não se arrepender do ato. “Naquela circunstância, eu cuspiria de novo. Se você me perguntasse isso antes daquele dia, eu diria que jamais cuspiria na cara de uma pessoa, porque meus valores não permitem isso”, declarou.

Wyllys disse ainda que esperava que o processo por quebra de decoro fosse arquivado.

“Vou acatar, claro, mas considero que o ideal seria o arquivamento.” Ele reafirmou que apenas reagiu a insultos homofóbicos de Bolsonaro no dia da votação.

“Essa advertência eu guardo como um troféu”, afirmou.

“A violência contra homossexuais é tão naturalizada que os insultos e agressões deste homem contra mim são tratados como naturais. Quando eu reajo cuspindo, os paladinos do bom costume vêm para me censurar”, criticou Wyllys.

O relator no Conselho de Ética, Ricardo Izar (PP-SP), havia proposto, em vez de suspensão por quatro meses, uma pena reduzida de 30 dias. Os conselheiros Júlio Delgado (PSB-MG), Marcos Rogério (DEM-RO) e Leo de Brito (PT-AC), no entanto, apresentaram sugestões de pena mais branda. O relator rechaçou pedidos favoráveis à advertência e disse que houve quebra de decoro. “Caberia cassação, mas a gente levou em consideração atenuantes como as provocações sofridas”, disse Izar. O parecer do relator foi rejeitado por 9 votos a 4.

Delgado alegou que a cusparada foi uma reação ao comportamento de Bolsonaro. “A censura escrita é justa.” A advertência foi aprovada por 13 votos favoráveis e uma abstenção.

 

Apoio. Wyllys fez campanha nas redes sociais e conseguiu apoio de personalidades contra a suspensão, como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff. Havia pressão também do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que a punição fosse revista. Maia considerava a medida exagerada.

Procurado ontem, Bolsonaro, que estava em viagem, não comentou a decisão do Conselho de Ética da Câmara.

 

Decisão. Para Wyllys, ‘ideal’ seria arquivamento do caso
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Deputado tenta montar palanque ‘geraldino’ no MA

Por: Pedro Venceslau / Valmar Hupsel Filho

 

Conhecido por ter anulado – e depois voltado atrás – a votação do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff em maio do ano passado, o deputado Waldir Maranhão (PP-MA) desembarcou ontem em São Paulo para acertar sua filiação ao PTB e iniciar o movimento “geraldino” no Maranhão.

Aliado “incondicional” do governador maranhense, Flávio Dino (PC do B), o parlamentar pretende concorrer ao Senado pelo Estado no ano que vem e abrir seu palanque para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que pleiteia a vaga de candidato à Presidência da República em 2018.

“O Alckmin vai equalizar as forças políticas no Maranhão.

Com certeza podemos ter uma aliança com ele lá, mas sem sair do grupo do Dino”, afirmou Waldir Maranhão ao Estado.

Ele participou na manhã de ontem, em São Paulo, de uma reunião com o deputado estadual Campos Machado, secretário- geral do PTB, partido que já declarou publicamente apoio ao projeto de Alckmin em 2018.

“A lealdade dele ao Dino é a mesma que eu tenho pelo Geraldo (Alckmin). O ato de filiação dele vai colocar o PTB no epicentro do Brasil”, disse Machado.

O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, avalizou a filiação, mas fez uma ressalva.

“O PTB recebe a nomeação lembrando a ele que a orientação no partido é não apoiar mais o PT. O grande arrependimento que o PTB tem é ter se aliado ao PT no passado. Isso não vai se repetir”, declarou.

Segundo Jefferson, a posição do partido é apoiar a candidatura de Alckmin à Presidência “ou quem ele indicar”. “Ele (Maranhão) vai ser bem recebido, mas depois não pode abrir uma dissidência para enfraquecer a unidade do partido”, disse.