Em fórum global, Brasil vira ‘país da Lava Jato’

Rolf Kuntz

09/04/2017

 

 

Em reunião do Fórum Econômico, País é citado como exemplo de como se pode condenar corruptos, incluindo políticos e empresários importantes

 

 

 

o Fórum Econômico Mundial mais como país da Lava Jato do que como potência emergente. Depois de mais de dois anos de recessão, a produção mal começou a se mover e o consumo continua deprimido. Mas o País aparece como exemplo de como se pode investigar e condenar corruptos – mesmo políticos importantes, assim como donos e dirigentes de empresas com atuação internacional, como a Odebrecht. Esse nome ganhou notoriedade em sessões do fórum e foi citado, na sexta-feira, durante um debate sobre corrupção.

A corrupção tem custos enormes, inflando, por exemplo, o preço das obras de infraestrutura. Distorce a alocação de recursos pelos governos, causa desperdícios e agrava a desigualdade, já muito ampla na América Latina, lembrou um dos participantes. O tema tem aparecido com destaque em reuniões internacionais de organismos voltados para a economia. Em janeiro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, participou da reunião anual do Fórum em Davos, na Suíça, como convidado. Para a reunião regional em Buenos Aires, nesta semana, nenhuma autoridade envolvida na Lava Jato foi convidada, mas o assunto continuou em pauta.

Na quinta-feira, o presidente argentino, Mauricio Macri, convidado para a sessão de abertura do encontro, qualificou o combate à corrupção no Brasil como “fundacional”, isto é, como elemento básico para o fortalecimento das instituições. No debate sobre corrupção, na sexta-feira, todos os participantes mostraram familiaridade com as investigações e os processos vinculados à Operação Lava Jato.

Delação. O chileno Daniel Zovatto, diretor do International Institute for Democracy and Electoral Assistance, organismo intergovernamental, classificou a delação premiada como um “instrumento fantástico”. Segundo ele, é fundamental o exemplo brasileiro de “ir fundo” nas investigações, envolvendo figuras políticas e empresários de peso como Marcelo Odebrecht. É essencial, insistiu, pôr os chefes na cadeia, para se evitar a saída “gattopardista” (referência ao romance O Leopardo, de Lampedusa) de conceder alguma mudança para nada mudar de fato. Combate à corrupção, insistiu, deve ser como varrição de escada: de cima para baixo.

Zovatto advertiu, no entanto, para um limite importante: sempre haverá forte estímulo à corrupção, no Brasil, enquanto houver mais de 30 partidos e as campanhas eleitorais forem muito caras. A reforma política, com imposição de uma séria cláusula de barreiras, é passo indispensável, segundo ele, para a limpeza da vida política. Sem isso, o presidencialismo de coalizão continuará funcionando como um sistema dependente da distribuição de cargos e de vantagens.

Liberdade de imprensa, transparência do governo e independência da Justiça e das instituições de investigação foram apontadas por todos como fatores essenciais para o controle das ações de administradores públicos, de políticos e de agentes privados.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45099, 09/04/2017. Economia, p. B8.