Temer minimiza derrota e diz que o importante é votação no plenário

Vivian Oswald 

21/06/2017

 

 

Antes, presidente dissera a parlamentares russos que tinha amplo apoio

“Tem várias etapas. Ganha uma vez, perde outra. O que importa é o plenário”

Michel Temer

Presidente

-MOSCOU- O presidente Michel Temer começou a viagem à Rússia convencido de que a distância do noticiário do Brasil o pouparia dos problemas domésticos pelas pouco mais de 48 horas em que permanecerá no país. Chegou a avisar a jornalistas brasileiros, após falar a quase 200 pessoas em um seminário para investidores, que só comentaria sobre a viagem. Acabou respondendo rapidamente a duas perguntas sobre o impacto da crise política na economia e na exportação de carnes. No fim do dia, contudo, viu-se obrigado a convocar uma entrevista exclusivamente para comentar a derrota da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado.

Ele minimizou o revés, ressaltando ter sido apenas uma etapa do processo.

— Não é surpresa negativa. Tem várias etapas. Ganha uma vez, perde outra. O que importa é o plenário. O Brasil vai ganhar no plenário — disse Temer antes de deixar o hotel Ritz-Carlton rumo ao Teatro Bolshoi, onde veria a final do concurso internacional de balé na companhia do presidente russo, Vladimir Putin, na tribuna de honra.

Nos três encontros que teve ontem na Duma (a câmara baixa do Parlamento), com o vice-primeiro-ministro, Arkady Dvorkovitch, e, mais tarde, com empresários russos, Temer repetiu que o Brasil está saindo de uma crise aguda e que as reformas estavam sendo aprovadas com apoio maciço dos parlamentares. E assegurou que o governo tem tido forte apoio no Congresso para a aprovação de medidas.

— Faço presidencialismo semiparlamentarista, porque tenho conseguido produzir vários atos com o apoio que me dá o Congresso Nacional — afirmou Temer, citando o exemplo da aprovação do teto para os gastos públicos. — Não paramos por aí. Estamos fazendo reforma trabalhista, desburocratizando os serviços públicos e trabalhando pela reforma da Previdência. Tudo isso com o apoio do Congresso.

Segundo Temer, há 28 partidos políticos no Brasil, 21 dos quais apoiam o governo.

Aos investidores, o presidente afirmou que o Brasil está deixando para trás sua pior crise e que este é o momento para investir no país. Não fez qualquer menção ao imbróglio político do qual é um dos pivôs:

— O Brasil está deixando para trás a mais aguda crise da nossa História — disse Temer, destacando as reformas e a retomada do crescimento. — Quem quer ganhar hoje, investe no Brasil.

Hoje, último dia da visita à Rússia, Temer assina alguns acordos bilaterais. Entre eles, um entendimento entre as aduanas dos dois países. Ao GLOBO, o secretário de Receita Federal, Jorge Rachid, afirmou que será firmado um convênio para facilitação de exportações, por meio do chamado Operador Comercial:

— Estamos fazendo isso com outros países. Mas aqui, onde o comércio é muito intenso, é uma medida muito importante. Podemos ter muitos ganhos com a fiscalização conjunta.

 

O globo, n. 30634, 21/06/2017. Economia, p. 20