Presidente de fundo do FGTS renuncia ao cargo

Geralda Doca

29/06/2017

 

 

Citado em delação, Luiz Fernando Emediato foi eleito há menos de um mês

O presidente do comitê do fundo de investimento em infraestrutura do FGTS (FI-FGTS), Luiz Fernando Emediato, eleito há menos de um mês, renunciou ao cargo ontem, durante a reunião do colegiado. Ele é citado no acordo de colaboração premiada feito por executivos da JBS. A vaga será ocupada por Suzana Ferreira Leite, representante da União Geral dos Trabalhadores (UGT). A presidência do comitê é rotativa e é ocupada por representantes do governo federal, empregadores e trabalhadores.

Emediato vinha sendo pressionado a se afastar, diante das acusações de recebimento de propina. Ele nega. Diz que são “indevidas” e se referem a uma data anterior à sua entrada na comitê do fundo de investimento em infraestrutura do FGTS.

 

SUSPEITA DE PROPINA

“Minha defesa é simples. Não estava no FI (...), mas infelizmente eu pago à vista o custo de ter sido injustamente citado e recebo a longo prazo a comprovação da minha inocência” afirmou Luiz Fernando Emediato, em nota.

Em uma gravação, o então diretor da holding (J&F), Ricardo Saud, conta que pagou propina a Emediato quando ele era assessor especial do ex-ministro do Trabalho, Brizola Neto (entre 2012 e 2013). Na gravação, Saud contou que se aproximou de Emediato para pedir ajuda do ministério na área de fiscalização. A queixa era que a JBS estava sofrendo uma fiscalização desleal em relação aos pequenos frigoríficos, “que nunca tinham sido fiscalizados”.

Emediato, segundo Saud, teria dito inicialmente que não podia interferir no trabalho dos fiscais, que tinham iniciativa própria. Mas que faria um projeto piloto no Rio e em Minas Gerais para intensificar o serviço nos pequenos frigoríficos. Pelo trabalho, cobraria R$ 20 mil por frigorífico, disse Saud. O valor total da propina chegou a R$ 2,8 milhões, de acordo com o relato do executivo da JBS à força-tarefa da Operação Lava-Jato.

 

“EU PAGUEI PARA ELE FAZER”

“Contratamos o Emediato num ato de propina para ele fiscalizar os pequenos (frigoríficos) que nunca tinham sido fiscalizados. Ele falou que ia fazer um piloto em Minas Gerais e no Rio de Janeiro e para isso, ia cobrar R$ 20 mil por frigorífico”, disse Saud num dos anexos da delação.

“Eu paguei para ele fazer”, emendou o diretor, acrescentando que o dinheiro foi pago diretamente a Emediato e ele emitiu nota fiscal da editora Geração, de propriedade de Emediato.

Saud disse acreditar, no início da conversa com Emediato, que um aperto da fiscalização nos pequenos frigoríficos, que funcionam “sem as mínimas condições”, poderia levar ao fechamento de vários deles. Na delação, o diretor contou que o trabalho chegou a ser feito conforme o combinado no acordo, mas não surtiu efeito.

Como o resultado não foi o planejado pela JBS, o plano foi abandonado depois pela empresa.

O globo, n.30642 , 29/06/2017. PAÍS, p. 6