APÓS CORTE, GOVERNO FALA EM LIBERAR VERBA PARA PASSAPORTE

JAILTON DE CARVALHO

MIGUEL CABALLERO

29/06/2017

 

 

Projeto de lei prevê abertura de crédito de R$ 102,4 milhões; PF diz que avisou ministério sobre risco

O governo federal vai enviar ao Congresso um projeto de lei para abertura de crédito suplementar no valor de R$ 102,4 milhões à Polícia Federal (PF) para resolver a crise na emissão de passaportes, que teve o serviço interrompido no fim da noite de terça-feira por ter atingido o limite de gastos previsto no Orçamento. Como o projeto precisa ser aprovado pela Comissão Mista de Orçamento e ainda votado pelo Congresso, a previsão é que, na melhor das hipóteses, os recursos sejam liberados e a situação volte ao normal no fim da semana que vem.

A PF informou que vinha alertando o governo, desde o ano passado, de que o dinheiro previsto para as “atividades de controle migratório e emissão de documentos de viagem” seria insuficiente para cobrir todo o ano. Assim, a PF suspendeu o andamento dos passaportes requeridos desde ontem, o que tem causado apreensão entre quem planeja viajar.

Ontem, um dia depois de a PF anunciar a suspensão do serviço, em seu Twitter o Palácio do Planalto disse que a “melhora do ambiente econômico” fez os brasileiros voltarem a “ter interesse em viajar ao exterior”.

Para quem já deu entrada em todos os documentos e está apenas esperando o dia marcado para retirar o passaporte, o serviço continua funcionando normalmente. Quem tem atendimento já agendado deve comparecer ao posto indicado e conseguirá dar entrada no protocolo, mas não há previsão de quando receberá o passaporte.

Em situação normal, a PF demora em média sete dias úteis para entregar o passaporte de quem compareceu ao posto na data agendada e entregou todos os documentos requisitados. Agora, o órgão não dá estimativa de prazo, até para não criar expectativas que possam ser frustradas.

Apenas os requerimentos de passaporte de emergência estão com o serviço normalizado. Tem direito a fazer este tipo de pedido quem precisa viajar a trabalho, por motivos de saúde próprios ou de parentes próximos ou em casos excepcionais, como catástrofes naturais, conflitos armados ou ajuda humanitária.

 

DÚVIDAS E PREOCUPAÇÃO

Além do temor de prejuízo com a possível perda de passagens já compradas, num mês que antecede as férias escolares de julho, muitas pessoas tinham dúvidas e preocupação sobre o que pode ocorrer. Ontem, no posto de atendimento do Aeroporto do Galeão, o maior na cidade do Rio, o temor de prejuízo era comum entre quem estava na fila.

— Não é possível que não se resolva isso. Pagamos pelo agendamento, compramos a passagem, seria um prejuízo grande. O país está de mal a pior — reclamou o comerciante Francisco Costa, que tem passagem comprada para o México para viajar com a mulher e a sua filha.

No primeiro dia de procedimentos interrompidos, não houve um aumento expressivo de filas nos postos da PF. Como a entrega dos passaportes prontos está normal e é possível dar entrada nos requerimentos, os principais transtornos devem acontecer em cerca de duas semanas, quando começariam a ficar prontos os passaportes de quem deu entrada desde ontem — casos que terão o processo afetado pela suspensão.

O Ministério do Planejamento é o responsável por enviar ao Congresso o projeto de lei para aumentar o crédito desta rubrica na Polícia Federal e resolver o problema. A crise dos passaportes acontece num momento de relação já delicada entre a PF e o governo. No último fim de semana, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, convocou entrevista coletiva para negar que demitiria o diretor-geral da PF, Leandro Daiello.

Fontes da Polícia Federal confirmaram que a corporação enviou ao menos nove alertas ao governo de que faltaria dinheiro para o serviço ao governo.

Na discussão do Orçamento de 2017, a PF solicitou R$ 248 milhões para o serviço de controle migratório e emissão de documentos de viagem, mas foram autorizados pelo governo apenas R$ 121 milhões. Segundo a PF, o valor de R$ 102,4 milhões é suficiente até o fim do ano.

 

Perguntas e respostas

– Quem foi atendido presencialmente nos postos da Polícia Federal até terça-feira pode retirar o documento no prazo estipulado inicialmente?

– Sim. Todas as pessoas que foram atendidas nos postos até 27 de junho podem retirar o documento normalmente.

 

– Aqueles que fizeram o agendamento on-line ou pagaram a taxa, mas ainda não foram atendidos presencialmente, podem retirar o passaporte?

– Não. Apenas quem já foi atendido nos postos da PF pode retirar o documento. Quem tem atendimento agendado para datas posteriores ao anúncio da polícia já entra na categoria de pessoas que não podem emitir o passaporte neste momento.

 

– Ainda é possível agendar horário?

– Sim, os postos de atendimento funcionarão normalmente. No entanto, não há prazo para entrega dos documentos.

 

– A emissão de passaportes de emergência foi suspensa?

– Não. Embora o passaporte de emergência esteja previsto no mesmo orçamento, configura outro tipo de documento. O passaporte de emergência tem apenas um ano de validade e pode ser concedido em casos específicos, que não incluem viagens turísticas.

 

– Quem pode tirar o passaporte de emergência?

– Só pode fazer o pedido quem for viajar pelos seguintes motivos: tratamento de saúde, trabalho, ajuda humanitária, conflitos armados, interesse da administração pública e proteção do patrimônio.

 

– Quando a situação será normalizada?

– Tudo depende de quando os recursos chegarem à PF. O governo informou ontem que a “entrega de passaportes será regularizada nos próximos dias”.

O globo, n.30642 , 29/06/2017. PAÍS, p. 7