CRESCIMENTO DA ECONOMIA SERÁ MENOR ESTE ANO, DIZ MEIRELLES

CHICO PRADO

29/06/2017

 

 

Segundo ministro, resultado ficará abaixo da projeção oficial de 0,5%

“Será um pouco menor do que 0,5%, mas certamente será positivo, maior do que zero”

Henrique Meirelles

Ministro da Fazenda

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem que, nas próximas semanas, a equipe econômica deverá alterar a projeção oficial de crescimento da economia (Produto Interno Bruto, o PIB) para este ano. E avisou que o novo número para o PIB será menor que o crescimento de 0,5% da projeção atual. Mas ressaltou que a nova expectativa deverá manter-se no campo positivo.

— Será um pouco menor do que 0,5%, mas certamente será positivo, maior do que zero. Estará nesse intervalo (entre 0% e 0,5%) que nós estamos estudando e vamos divulgar nas próximas semanas — afirmou o ministro, depois de participar de evento com analistas do mercado, em São Paulo.

O tom mais cauteloso com as previsões para o PIB contrasta com o discurso otimista que Meirelles vinha adotando nas últimas semanas. O ministro costumava repetir, em eventos públicos e nas redes sociais, que o pior da recessão já passou e que a economia está se recuperando.

 

AUMENTO DE IMPOSTO É OPÇÃO

Ontem, Meirelles afirmou que, apesar da redução na projeção oficial para o PIB de 2017, o importante para a equipe econômica será medir a evolução da economia no último trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2016, para ter uma visão mais precisa da trajetória do PIB brasileiro. A projeção atual para o quarto trimestre é de uma expansão de 2,7% na comparação anual. Número que, no entanto, admitiu o ministro, também será menor:

— Nós mantemos ainda uma projeção de um crescimento na margem, por exemplo, de último trimestre contra último trimestre (de 2016) acima de 2%. Chegamos num determinado momento a 2,7%. Não mudamos essa previsão formalmente, mas, de fato, ela tem um viés de baixa, mas não é algo que será muito abaixo de 2%.

Meirelles admitiu, mais uma vez, que aumentar impostos pode ser uma alternativa para o governo atingir a meta fiscal deste ano, que é de um déficit primário (quando as despesas são superiores às receitas, antes de considerar os juros da dívida pública) em R$ 139 bilhões. O tributo mais cotado para ser elevado, por ser imediato, é a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), que é cobrada sobre os combustíveis.

— Já dizíamos naquela época (agosto de 2016) que, se for necessário aumentar impostos para cumprir as metas, nós vamos aumentar — disse o ministro. — Por enquanto, não há decisão sobre o aumento da Cide.

Segundo Meirelles, a queda de arrecadação do governo tem sido significativa, produto das “maturações dos prejuízos fiscais das empresas no efeito tributário. Por isso, há uma queda da arrecadação defasada em relação à atividade”. Pelas regras contábeis vigentes, as empresas podem compensar os impostos sobre o lucro de um ano com os prejuízos registrados no exercício anterior, e essa compensação contábil resulta em menos dinheiro entrando nos cofres do governo.

Apesar disso, Meirelles disse acreditar que a arrecadação deve se recuperar em algum momento, e até surpreender. Além disso, lembrou, há as receitas extraordinárias.

Na avaliação do ministro, em meio ao ambiente político conturbado, é natural que os investidores olhem para os cenários de médio prazo e para as eleições de 2018:

— Investimento no Brasil e em qualquer país do mundo não é curto prazo.

O globo, n.30642 , 29/06/2017. ECONOMIA, p. 18