Planalto envia recado a Renan após críticas

Julia Lindner 

29/04/2017

 

 

Líder do PMDB volta a atacar reformas; em nota, Romero Jucá diz que cargo é da bancada

 

 

 

Incomodado com a oposição do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), às reformas trabalhista e da Previdência, o governo autorizou a divulgação de uma nota assinada pelo senador Romero Jucá (RR), líder do governo na Casa, na qual diz que “qualquer decisão sobre a liderança do partido no Senado cabe à bancada de senadores”.

A nota foi divulgada ontem, um dia após Renan ter feito um discurso no plenário atacando a reforma trabalhista, aprovada na véspera na Câmara e que, a partir da semana que vem, começa a ser analisada no Senado.

A aliados, Jucá já avaliou que a permanência de Renan no cargo dependerá do seu “comportamento quando as reformas começarem a tramitar” na Casa.

Em seu discurso, Renan defendeu a mudança do texto pelos senadores. “Não acredito que essa reforma saia da Câmara e chegue ao Senado – reforma de ouvidos moucos – sem consultar opiniões. Reforma que só interessa ao sistema financeiro, rejeitada em peso e de cabo a rabo pela população, reforma tão mal feita que chega a constranger e a coagir a base do próprio governo”, afirmou o peemedebista.

A estratégia de Renan, com apoio de parlamentares da oposição, é fazer com que a proposta passe por pelo menos três comissões antes de chegar ao plenário. Já os governistas querem que o texto passe por apenas um colegiado, em caráter de urgência, podendo ser apreciado no plenário em três semanas.

O Estado apurou que o presidente Michel Temer está contrariado com Renan e avalia articular sua destituição da liderança caso ele mantenha oposição às reformas. Por ora, a ordem é ainda não criar desgastes com o senador. Na nota, Jucá, presidente em exercício do PMDB, pondera que o assunto não está sendo tratado. “Ainda não houve nenhuma conversa com o presidente Michel Temer”, afirmou o texto.

Mudança. Para destituir Renan, seriam necessários os votos de 12 dos 22 senadores peemedebistas, mas, para o senador Raimundo Lira (PMDB-PB), o líder da bancada tem força na Casa. “Se Renan permanecer com essa determinação, o que vai acabar acontecendo é o que ele está querendo”, afirmou Lira.

O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) disse que Jucá não deve interferir em assuntos da bancada. “Não é o presidente em exercício do PMDB que tem de falar sobre liderança da bancada. O presidente em exercício do PMDB está dando uma nota estapafúrdia.”

Para o senador Airton Sandoval (PMDB-SP), Jucá deu um recado a Renan. “Renan está assumindo opiniões pessoais, atrapalhando o governo, e isso não pode continuar”, disse.

Procurado, Renan disse que “não está sabendo” de nenhum tipo de movimento contra ele, nem leu a nota de Jucá. “Não sei se há movimento, se não há.”

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Temer diz não ter preocupação com Lava Jato

 

 

O presidente Michel Temer voltou a afirmar ter preocupação “zero” com a Operação Lava Jato. “Zero, eu não tenho preocupação nenhuma. Eu sempre digo: ‘Vamos deixar a Lava Jato trabalhar em paz, vamos deixar o Ministério Público cumprir seu papel, o Judiciário cumprir seu papel e vamos continuar trabalhando’”, disse o presidente em entrevista exibida ontem no Programa do Ratinho, do SBT.

No início do mês, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, autorizou o pedido de investigação de oito ministros do governo. Por enquanto nenhum deles deixou seus cargos, já que Temer adotou como critério, primeiramente, o afastamento provisório em caso de denúncia e o definitivo se o ministro virar réu.

A entrevista com o presidente tratou principalmente das reformas trabalhista e da Previdência. Ratinho gravou a conversa na quarta-feira, no Palácio do Planalto. Questionado pelo apresentador sobre a quantidade de partidos no País, Temer disse que isso “não era útil para a governabilidade”.

A participação de Temer em programas do canal – o presidente já concedeu entrevista ao jornalista Kennedy Alencar – foi combinada com o dono da emissora, o apresentador Silvio Santos, em encontro intermediado pelo cabeleireiro Jassa e por Ratinho. O presidente pediu a ajuda do empresário para “desmistificar” o que o governo chama de “mentiras” sobre a reforma da Previdência. O SBT tem exibido inserções sobre a reforma nos intervalos comerciais.

 

- ‘Preocupação zero’

“Eu sempre digo ‘Vamos deixar a Lava Jato trabalhar em paz, vamos deixar o Ministério Público cumprir seu papel, o Judiciário cumprir seu papel’.”

Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

 

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45119, 29/04/2017. Política, p. A7.