Doria age para evitar crise com Alckmin por 2018

Pedro Venceslau e Adriana Ferraz

01/04/2017

 

 

 

Eleições. A partir de agora, prefeito vai intensificar agendas conjuntas, incluindo novas parcerias com o Estado, e fará reunião com o secretariado dos dois governos

 

 

 

Preocupado com o “fogo amigo” de aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB) desde que passou a ser apontado como possível candidato à Presidência da República em 2018, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), vai agir para evitar a “contaminação” de sua relação com o padrinho político.

Após determinar uma “lei do silêncio” entre seus auxiliares sobre as eleições do ano que vem, o prefeito intensificará as agendas conjuntas entre as duas administrações.

Com o objetivo de demonstrar que prefeito e governador continuam próximos e afinados, secretários estaduais e municipais vão inaugurar, na segunda-feira, duas parcerias simultâneas: a retomada do projeto Córrego Limpo, de despoluição, e o programa Redenção, na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.

O ponto alto, porém, será uma reunião no dia 10, quando a gestão Doria completa 100 dias, com a presença do prefeito, governador e todos os secretários municipais e estaduais. Neste domingo, 2, Doria, Alckmin e o presidente Michel Temer jantarão no Palácio dos Bandeirantes com a rainha Sílvia, da Suécia.

Interlocutores do prefeito reconhecem que o hábito de Doria de nacionalizar o discurso e as especulações sobre uma aproximação com o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, provocaram um “desconforto” na relação.

Em caráter reservado, Alckmin diz confiar na lealdade de Doria, mas aliados do governador com trânsito no Palácio dos Bandeirantes já não escondem a preocupação com os movimentos do prefeito.

‘Traição’. “Se Doria se aliar com Aécio para ser candidato à Presidência será uma traição. Sem o governador Geraldo Alckmin ele jamais teria sido eleito prefeito”, disse o deputado estadual Campos Machado, presidente estadual do PTB e secretário nacional da legenda.

Machado, que já declarou apoio do seu partido a uma eventual candidatura Alckmin, pretende marcar uma audiência com o governador para levar a preocupação com os movimentos do prefeito. “Ninguém entraria na aventura de apoiar Doria sem o apoio do Geraldo Alckmin”, disse o petebista.

Secretário-geral do PSDB nacional e aliado do governador, o deputado federal Silvio Torres descarta a hipótese de os tucanos se alinharem a uma eventual candidatura Doria. “Não existe nenhum movimento no PSDB para lançar Doria presidente. É prematuro colocar o prefeito à frente de todo o planejamento partidário.”

Para o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP), que é alinhado ao governador, há um movimento para dividir o grupo deles. “Existe um jogo de fora para dentro, uma tentativa de dividir Alckmin e Doria. Quem apostar nisso vai quebrar a cara.”

Outra tese. Há ainda uma terceira tese circulando entre tucanos: o jogo entre Doria e Alckmin seria combinado. A ideia seria projetar Doria como uma alternativa segura em São Paulo para Alckmin sair candidato a presidente e o PSDB manter o governo do Estado.

Nesse cenário, a ideia de o PSDB apoiar o vice-governador Márcio França (PSB) ou o senador José Serra (PSDB) para o Palácio dos Bandeirantes em 2018 perderia força diante da popularidade do prefeito.

Alckmin disse a pelo menos dois aliados que Doria sofreria menos resistência dos eleitores se deixasse a Prefeitura para disputar a eleição estadual.

 

Jogo

“Existe um jogo de fora para dentro, uma tentativa de dividir Alckmin e Doria. Quem apostar nisso vai quebrar a cara.”

Vanderlei Macris

DEPUTADO FEDERAL (PSDB-SP)

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‘Somos diferentes’, afirma Bolsonaro

01/04/2017

 

 

Ele compara a si e Doria com demais políticos

 

 

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o deputado federal e capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSC-RJ) disputaram na manhã de ontem a preferência do público durante evento militar no sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo.

Foi o primeiro encontro entre os dois – apontados como possíveis candidatos a presidente em 2018 –, que, na ausência do governador Geraldo Alckmin (PSDB), foram conclamados por policiais militares e familiares a entrar na corrida pelo Planalto no ano que vem. “Somos diferentes dos demais políticos”, disse Bolsonaro sobre Doria.

“Basta ver o carinho da população e o tratamento que nos dão. Se não fôssemos diferentes, não teríamos a projeção que temos”, afirmou o deputado, ressaltando a cordialidade do prefeito. “Conheci (Doria) pessoalmente hoje (ontem), dei um abraço nele e fiquei muito feliz com a maneira bastante carinhosa com que ele me tratou”, afirmou Bolsonaro.

Durante o evento, Bolsonaro foi mais tietado – o que era esperado, já que se tratava de uma formatura de 992 sargentos da Polícia Militar. Tirou selfies com os formandos e foi ovacionado pela plateia que ocupava as arquibancadas no sambódromo quando sua presença foi anunciada pelo mestre de cerimônias no sistema de som.

Na tribuna de honra, ao lado do filho, o também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSCRJ), recebeu cumprimentos de comandantes da PM e ouviu atentamente o discurso de Doria, que abriu a cerimônia e adotou uma fala com tom nacional.

Após cumprimentar os policiais e enaltecer o trabalho que prestam à sociedade, Doria concluiu sua participação com as frases: “Viva o Brasil” e “Viva o povo brasileiro”.

Em seguida, bastante aplaudido, o tucano deixou o evento e comentou a popularidade do possível adversário. “Não tem problema”, disse, ao ser questionado sobre o fato de Bolsonaro ter sido mais celebrado no evento.

Sobre uma possível disputa eleitoral entre os dois em 2018, no entanto, o prefeito de São Paulo preferiu não se manifestar.

Sem a presença de Doria, Bolsonaro assumiu de vez o papel de celebridade. Deixou a tribuna e foi pessoalmente cumprimentar os sargentos e seus familiares. 

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45091, 01/04/2017. Política, p. A4.