Para ex-procurador, presidente tenta desviar atenção de denúncia

Thiago Herdy

Juliana Castro

28/06/2017

 

 

Alvo de acusações, Miller diz que Temer quer criar ‘cortina de fumaça’

O ex-procurador e atualmente advogado do escritório Trench Rossi Watanabe, Marcello Miller, evitou ontem responder às acusações do presidente Michel Temer, que apontou eventual conflito de interesses no fato de ele ter advogado para a J&F logo depois de deixar o Ministério Público. O presidente insinuou que parte dos honorários de Miller pode ter sido endereçados ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Para o ex-procurador, ao mirá-lo no primeiro pronunciamento depois de ser denunciado por corrupção passiva, Temer tentou criar uma “cortina de fumaça” em torno das acusações contra ele, a exemplo do que ocorreu após a divulgação do áudio com Joesley, que o presidente sugeriu ter sido adulterado. A PF atestou a autenticidade da gravação.

“Não cometi nenhum ato irregular, mas não responderei às afirmações a meu respeito pela imprensa. Apenas me manifestarei perante as autoridades com competência para examinar os fatos e com interesse na aferição da verdade”, disse o ex-procurador, em nota divulgada à noite.

Miller não assistia ao pronunciamento de Temer à tarde e, ao receber mensagens informando que era alvo do discurso presidencial, correu para a TV. Chegou a tempo de ouvir o presidente dizer que ele teria ganhado “milhões, em poucos meses, que levaria décadas para poupar,” como funcionário a serviço da J&F. O ex-procurador estuda processar o presidente. Temer chegou a afirmar que Miller deveria ter cumprido quarentena “de dois ou três meses”, restrição inexistente.

De acordo com a Procuradoria-Geral da República, Miller não negociou a colaboração premiada dos executivos da J&F, que resultou no perdão judicial de Joesley Batista. Seu escritório atuou nas primeiras tratativas do acordo de leniência com o MPF do Distrito Federal e foi afastado do caso ao final da negociação, em função de uma divergência em torno do valor de multa a ser paga.

O globo, n.30641 , 28/06/2017. PAÍS, p. 7