Avião com cocaína não decolou de fazenda de Blairo

28/06/2017

 

 

Em depoimento, piloto diz que saiu da Bolívia e que plano de voo era falso

Preso no fim da noite de anteontem, o piloto da aeronave que foi interceptada com 634 quilos de cocaína em Goiás, no domingo, disse à Polícia Federal (PF) que decolou da Bolívia, e não da fazenda Itamarati Norte, em Mato Grosso, que pertence à família do ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Segundo o delegado responsável pelo caso, piloto e copiloto afirmaram que fizeram um plano de voo falso para apresentarem às autoridades caso fossem abordados. Ainda de acordo com a PF, o GPS do avião confirmou que a aeronave saiu do país vizinho.

— Ele (piloto) informou que repassou um plano de voo como se tivesse saído de uma fazenda em Mato Grosso, e que estivesse indo a outra fazenda. Mas, na verdade, como ele mesmo alegou, seria um plano de voo falso. Ele não saiu daquela fazenda — disse o delegado Bruno Gama, em entrevista à TV Anhanguera, emissora afiliada da Rede Globo.

De acordo com o delegado, o piloto Apoena Índio do Brasil afirmou que deu o plano de voo falso quando foi abordado pela Força Aérea Brasileira (FAB). Ao notarem que o avião fazia uma rota suspeita, os militares questionaram, por meio de rádio, qual era o caminho. Além de Índio do Brasil, o copiloto Fabiano Júnior da Silva relatou que, após sair da Bolívia com a droga, o avião deveria pousar em Jussara, em Goiás, sem passar pela propriedade de Blairo em Mato Grosso.

 

PILOTO CHEGOU A FUGIR

Anteontem, a FAB informou que, ao ser interceptado, o piloto relatou que decolou da Fazenda Itamarati Norte, em Campo Novo do Parecis, em Mato Grosso. A propriedade pertence ao grupo Amaggi, da família do ministro Blairo Maggi. Ainda de acordo com a FAB, “a confirmação do local exato da decolagem fará parte da investigação”.

A interceptação fez parte da Operação Ostium, na qual a FAB, a Polícia Federal e outros órgãos de segurança atuaram em conjunto. A abordagem foi feita por uma aeronave de defesa área A-29 Super Tucano. Os militares orientaram o piloto a mudar de rota e pousar no aeródromo de Aragarças, em Goiás. Inicialmente, segundo a FAB, o avião obedeceu às ordens mas não posou no aeródromo e arremeteu. Após nova solicitação do piloto da FAB, não houve resposta. O A-29 executou um tiro de aviso e voltou a comandar o pouso. O avião interceptado desobedeceu a ordem e pousou na zona rural do município de Jussara.

Piloto e copiloto fugiram após o pouso. Segundo a PF, eles foram denunciados ao darem entrada em um hotel de Jussara, onde foram presos.

O Grupo Amaggi informou que não tem qualquer ligação com a aeronave e que não emitiu qualquer autorização para pouso ou decolagem do avião apreendido no domingo em na Fazenda Itamarati Norte. De acordo com a empresa, a fazenda tem 11 pistas para pouso localizadas em 54,3 mil hectares e, como servem de operações para aviões agrícolas, não demandam vigilância permanente. A companhia ainda relatou que prestou apoio a uma operação da PF em abril que interceptou uma aeronave com 400 quilos de entorpecentes em uma das pistas auxiliares da fazenda.

Por meio de seu perfil em uma rede social, o ministro Blairo Maggi postou que está acompanhando as investigações da FAB e que a fazenda arrendada por sua empresa “é extensa e enfrenta, como o MT, a ação vulnerável do tráfico de drogas” e que ele sempre defendeu a necessidade de “união das forças de segurança no combate ao tráfico”. (Com informações do G1)

O globo, n.30641 , 28/06/2017. PAÍS, p. 11