País tem saída de US$ 13,8 bi do mercado financeiro desde o início de maio

Gabriela Valente

28/06/2017

 

 

Investimento estrangeiro no setor produtivo cai 52,4% no mês passado

O acirramento da crise política já interferiu na entrada de dólares no país. Os investimentos estrangeiros que chegam para a produção caíram. Não há registros de grandes operações em maio ou nos primeiros dias de junho. Dados preliminares de junho revelam que houve saída de investimentos em ações e renda fixa. Segundo o Banco Central (BC), apenas do mercado financeiro houve remessa de US$ 13,8 bilhões desde o início de maio, já descontando tudo o que entrou.

No acumulado do ano até o dia 23 de junho, dado mais recente do BC, o país registra saída de US$ 23,7 bilhões do mercado financeiro. Para a autoridade monetária, porém, ainda é cedo para fazer uma correlação entre o resultado e a turbulência política. O BC ressalta que há entrada de dólares por meio do comércio exterior, com resultados recordes por causa da exportação de commodities. No geral, considerando os resultados do mercado financeiro e do comércio exterior, o fluxo de dólares no ano é positivo em US$ 6,5 bilhões até o dia 23.

 

DIVISA E COMMODITIES AJUDAM

Com o dólar num patamar mais alto que nos últimos anos, por causa da turbulência política e do enfraquecimento das contas públicas, os exportadores lucraram mais. As empresas passaram a exportar o que antes deixavam no mercado interno. O preço alto das commodities também teve peso fundamental para que as contas externas ficassem no azul em maio em US$ 2,9 bilhões.

Foi o melhor resultado das contas externas para maio desde o início da série histórica, iniciada em 1947 e o terceiro mês seguido que as contas ficaram no azul. E a expectativa do BC é de outro superávit em junho, mas mais modesto: US$ 700 milhões.

O investimento estrangeiro que chega para aumentar a produção das fábricas daqui, considerado de melhor qualidade pelos economistas, caiu 52,4% em maio deste ano. Apenas US$ 2,9 bilhões ingressaram, o volume mais baixo para o mês desde 2009. O BC argumenta que ainda é cedo para fazer qualquer relação com a crise política e que houve entrada de recursos em vários setores da economia.

Junho não deve ser diferente. O investimento acumulado até o dia 23 foi de US$ 1,4 bilhão. O BC, entretanto, não alterou a projeção de entrada de US$ 75 bilhões neste ano.

— Não avaliamos que isso seja uma tendência para o segundo semestre — frisou o chefe adjunto do departamento econômico do BC, Fernando Rocha. — Não temos elementos para dizer isso.

Houve mudança em outros tipos de ingressos de recursos. Por causa da volatilidade de entradas e saídas em ações e títulos de renda fixa, a autoridade monetária revisou a projeção para essas duas aplicações.

Para a aplicação em ações passou de uma saída de US$ 7 bilhões para zero. E ainda baixou a previsão de ingresso de US$ 10 bilhões em títulos de renda fixa negociados no país para zero.

Em maio, mês do acirramento da crise política, o Brasil recebeu US$ 59 milhões de investimentos estrangeiros em ações. O número parecia bom, já que, em maio de 2016, houve saída líquida de US$ 883 milhões. Mas o BC já avisou que projeta cifras mais baixas em junho porque a retirada já soma US$ 1,4 bilhão até o dia 23.

O globo, n.30641 , 28/06/2017. ECONOMIA, p. 21