Planalto não informa sobre reuniões de Temer

Eduardo Bresciani

26/06/2017

 

 

Gabinete de Segurança Institucional, porém, respondeu ao GLOBO sobre encontros da ex-presidente Dilma O próprio presidente já confirmou os encontros com Marcelo Odebrecht e Joesley Batista, que não constam da agenda oficial
 
 Responsável pela segurança da Presidência da República, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) se recusa a fornecer informações sobre encontros do presidente Michel Temer com delatores, mas responde quando o questionamento é relativo à ex-presidente Dilma Rousseff. Em ambos os casos, os pedidos foram formulados pelo GLOBO com base na Lei de Acesso à Informação, tratam de reuniões supostamente ocorridas em residências oficiais do governo brasileiro e tem por base eventos passados e de conhecimento público.
 

Os pedidos em relação a Temer são sobre os registros da visita feita pelo dono da JBS, Joesley Batista, em março deste ano; e de Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho, em maio de 2014. O GSI usou uma resposta padrão nos dois casos, dizendo que “não divulga registros de entrada e saída aos Palácios do Jaburu e Alvorada por tratar-se de procedimentos operacionais, de acesso restrito a este Gabinete, que têm como objetivos viabilizar as agendas, oficiais ou privadas, do Presidente e do Vice-Presidente da República e atender necessidades relacionadas à administração, segurança e logística das residências oficiais”. As negativas foram em 12 de junho e reiteradas em 19 de junho, com a mesma resposta em recurso.

 

SEGURANÇA TERIA CAUSADO RECUSA

O próprio GSI, no entanto, respondeu a outro questionamento do GLOBO, em 5 de junho, sobre a existência de um registro de entrada da marqueteira Mônica Moura e de Giles Azevedo no governo Dilma Rousseff. “Este Serviço de Informação ao Cidadão do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República informa que não foram encontrados registros de acesso das duas pessoas nos períodos demandados”, respondeu o GSI. A reunião foi revelada pela própria Mônica Moura em sua delação premiada.

O GSI justifica o tratamento diferenciado dizendo que, nos casos envolvendo Temer, o pedido era também de acesso a eventual registro. “A demanda registrada com NUP 00077000610-2017/76 (Mônica Moura) requereu, exclusivamente, informações sobre o acesso de duas pessoas ao Palácio Alvorada, razão pela qual foi atendida. Os questionamentos indeferidos e registrados com os NUPs 00077000648-2017/49 (Joesley Batista) e 00077000650-2017/18 (Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho), referentes ao Palácio Jaburu, englobaram, também, a cessão dos registros de entrada e saída que possuem informações pessoais julgadas sensíveis e podem comprometer a segurança presidencial”, argumentou a assessoria de comunicação do GSI.

No caso de Joesley, porém, a primeira pergunta feita pelo GLOBO era exatamente sobre a existência de registro de entrada, informação que foi fornecida quando o caso envolvia a ex-presidente Dilma. Na gravação que fez da conversa com Temer, o dono da JBS afirma que entrou no Jaburu sem se identificar. É possível ouvir no áudio que ele deu o nome “Rodrigo” na portaria e teve a entrada autorizada imediatamente.

No caso de Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho, a informação sobre o registro de entrada de ambos foi pedida também pela Procuradoria-Geral da República como uma das diligências no inquérito em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente Temer não é investigado nesse caso porque ele data de 2014, mas o processo apura a conduta de dois ministros, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).

O presidente Michel Temer já admitiu os encontros, que não constam em sua agenda oficial, nos dois casos. Temer afirma que, como foi parlamentar por muitos anos, não tem o hábito de registrar na agenda vários de seus compromissos. Os registros de entrada, porém, seriam a única forma de descobrir oficialmente quanto tempo duraram determinadas reuniões e que pessoas participaram dela. O GLOBO já protocolou novos recursos contra as negativas do GSI.

O globo, n.30639 , 26/06/2017. PAÍS, p. 4