NADA DE NOVO NO FRONT

George Vidor

26/06/2017

 

 

Em recente palestra, Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, resumiu muito bem o atual cenário brasileiro: as coisas até que estão se ajeitando na economia, mas na política ficamos sem horizonte.

A atração doentia dos políticos tradicionais do país pela corrupção vai varrendo do mapa aqueles que eram vistos como potenciais governantes ou peças importantes dentro do Congresso. Quem vamos eleger para presidente, governador, senador, em 20 18? Ao que tudo indica, terá de ser um tiro no escuro, sem ligação com esse passado político tenebroso, mas também sem comprovada capacidade para lidar com os problemas que o Brasil precisa enfrentar.

Alguém consegue enxergar um “Macron" (o jovem presidente da França, que teve uma ascensão meteórica na política, e até o momento está surpreendendo positivamente) nesse horizonte brasileiro? Diante de um quadro tão pobre de nobres lideranças, há quem sugira que, em vez de eleições gerais, promovamos um grande concurso nacional para escolha dos futuros governantes. É uma piada, mas reflete bem a atual falta de perspectiva no cenário político. Desmoralizado política e pessoalmente pelo seu envolvimento com o lamaçal em que estão mergulhados os principais partidos do país, o presidente Michel Temer só consegue se manter no Palácio do Planalto por que de fato a sociedade não vislumbra quem possa tocar o barco até 2018, em uma transição satisfatória até as eleições gerais de outubro do ano que vem.

Por sorte, talvez, ou por cansaço, a economia não está deixando se contaminar pela crise política. A equipe econômica que Temer nomeou tem respeitabilidade e vem entregando resultados pelo lado macro.

A inflação recuou ou estacionou em um patamar que possibilita forte corte nas taxas de juros, o componente que ainda falta para eliminar a anemia do consumo e do investimento. As contas externas estão em razoável equilíbrio. No segundo semestre, que já se aproxima, teremos boas notícias vindas do setor de óleo e gás. O campo gigante de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, começa a produzir comercialmente, e haverá, em setembro e outubro, duas rodadas de licitações que podem atrair mais investidores. É a tábua de salvação que o Estado do Rio de Janeiro aguarda ansiosamente.

Mal ou bem, as instituições estão funcionando. Restam esperanças de que o Congresso, ainda nesta legislatura, possa aprovar as reformas, inclusive a da Previdência, já que não se trata mais de uma questão política, e sim de pura aritmética. No mais, sigamos em frente (o título da coluna é uma referência à obra-prima de Erich Maria Remarque, que descreve o drama das trincheiras alemãs na Grande Guerra, de 1914 a 1918; o filme, de mesmo nome, é também muito bom).

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O globo, n.30639 , 26/06/2017. ECONOMIA, p. 16