Título: Turbulência europeia derruba os mercados
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Fonte: Correio Braziliense, 06/01/2012, Economia, p. 13

Dúvidas sobre a saúde do sistema bancário provocam novas baixas nas bolsas de valores e fazem a otação do euro despencar

Londres — A persistência dos temores de um agravamento da crise na Europa levou o euro a atingir ontem a menor cotação em 16 meses em relação ao dólar e provocou novas baixas nas bolsas de valores, além de causar a elevação de juros de títulos de países europeus. A moeda, adotada por 17 países da União Europeia, chegou a ser cotada a US$ 1,2797 no mercado internacional e a perspectiva, segundo especialistas, é de queda ainda maior. "A pressão sobre o euro é constante", disse Ian O"Sullivan, analista da Spread Co. "Os temores sobre a crise da dívida simplesmente não desaparecem e estão, inclusive, se intensificando", completou, advertindo que o patamar de US$ 1,25 dólar é agora uma cotação realista.

Segundo Nick Stamenkovic, de RIA Capital Markets, os investidores estão nervosos ante a possibilidade de que o frágil setor bancário da Espanha precise de apoio externo para se reequilibrar, o que poderia pressionar ainda mais a moeda europeia. Em 2011, o euro perdeu 3% ante o dólar, devido aos temores de que a crise, que já exigiu o resgate de Grécia, Irlanda e Portugal, se estenda a economias mais importantes, como Itália e Espanha.

Os temores em relação ao setor financeiro também prejudicaram os negócios nas bolsas de valores. As ações de bancos estavam ontem entre as mais desvalorizadas nas principais praças financeiras. Além das dúvidas obre a Espanha, o que pressionou os negócios foi a preocupação de que muitas instituições terão que seguir a italiana UniCredit, que, no início da semana, ofereceu descontos de 69% para conseguir vender ações em um programa de recapitalização. Ontem, as ações do UniCredit despencaram 17,3%, depois de um tombo de 14,5% na quarta-feira.

Com o pessimismo, o índice FTSEurofirst 300, referência para o mercado de ações da Europa, caiu 0,8%. O índice de bancos da Zona do Euro STOXX Europe 600 cedeu 5,84%, mesmo após a divulgação de dados positivos sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, que indicaram a criação de 325 mil postos de trabalho em dezembro. As baixas se propagaram pelas bolsas de Londres (0,78%), Frankfurt (0,25%), Paris (1,53%), Milão (3,65%), Madri (2,94%) e Lisboa (1,56%).

Os sinais favoráveis da economia norte-americana, no entanto, ajudaram a sustentar os negócios na Bolsa de Nova York, onde o índice Dow Jones fechou praticamente estável, com leve queda de 0,02%. O índice Standard & Poor"s 500 teve valorização de 0,29% e o termômetro de tecnologia Nasdaq subiu 0,81%. No Brasil, os mercados seguiram o humor da Europa. Após quatro pregões seguidos de alta, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 1,38%. O dólar teve alta de 0,74%, cotado a R$ 1,84 para venda.