‘Crise econômica no Brasil não existe’, afirma Temer na Alemanha

FERNANDO EICHENBERG

08/07/2017

 

 

Presidente defende que instabilidade política não atrapalha retomada

O presidente Michel Temer afirmou ontem em Hamburgo, pouco antes do encontro do G-20, que não existe crise econômica no Brasil e que a crise política não influi no desempenho da economia. Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu a influência, mas disse que a economia dá “mostras de resiliência e de força neste período de certa incerteza”.

— Crise econômica no Brasil não existe. Podem levantar os dados que se verá que estamos crescendo no emprego, na indústria e no agronegócio — assegurou Temer ao chegar para participar da cúpula do G-20, grupo que reúne as maiores economias do mundo.

O país vem amargando números ruins. A taxa de desemprego ficou em 13,3% em maio, atingindo 13,8 milhões de pessoas — a maior taxa para o trimestre desde o início da pesquisa, em 2012. E o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,4% no primeiro trimestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2016.

MEIRELLES CITA REFORMAS

Perguntado se a crise política não atrapalharia a retomada do crescimento econômico do país, Temer, se dirigindo para o interior do hotel onde se hospedou, apenas disse “não”, gesticulando um sinal negativo com o dedo indicador da mão.

Meirelles, por sua vez, descartou uma situação de “ingovernabilidade” no país — termo usado pelo presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati —, mas admitiu uma influência atual da crise política no desempenho da economia, embora ainda em um quadro de recuperação econômica.

— Existe, sim, uma certa diminuição do nível de confiança, mas ainda num terreno positivo. Estamos administrando de uma forma bastante focada e concentrada na agenda econômica. A economia vai bem, o que é o aspecto mais relevante. O mercado tem mantido uma relativa estabilidade, e, do nosso ponto de vista, também continuamos com alguns ajustes de cronograma, trabalhando junto aos parlamentares, tendo em vista a aprovação das reformas — destacou.

Perguntado se poderia continuar na Fazenda num novo governo, no caso da destituição de Temer, o ministro da Fazenda foi lacônico: — Não trabalho por hipóteses. Meirelles disse o que vai responder aos seus colegas em Hamburgo, se perguntado sobre a crise política brasileira:

— Existe um funcionamento normal das instituições, e o mais importante do ponto de vista dos ministros de Economia é que a economia funciona bem e está dando mostras de resiliência e de força neste período de certa incerteza.

‘INTERLOCUÇÃO COM CONGRESSO’

Mais tarde, em encontro com líderes do Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Temer repetiu o discurso de que a economia brasileira está se recuperando e não mencionou a crise política.

— O Brasil está superando uma das crises mais graves de sua história, graças a uma ambiciosa agenda de reformas que traz de volta o crescimento e o emprego. Diante de nossos problemas, escolhemos o caminho mais responsável, construímos constante interlocução com o Congresso e o conjunto da sociedade — disse aos líderes Vladimir Putin (Rússia), Xi Jiping (China), Narendra Modi (Índia) e Jacob Zuma (África do Sul), em encontro realizado em Hamburgo, à margem da cúpula do G-20.

Temer salientou a importância do Brics neste “momento global marcado por persistentes incertezas”.

— Nesta cúpula do G-20, será ainda mais importante que o Brics se mostre firme e coeso, com compromisso com o sistema multilateral de comércio. Será importante renovar o engajamento ao combate à mudança climática e a determinação em transformar a agenda 2030 em práticas e políticas efetivas.

No comunicado distribuído ao fim da reunião, os líderes do Brics defenderam práticas de comércio livres e multilaterais, além do engajamento às medidas do Acordo de Paris para a redução do aquecimento global.

O globo, n.30651 , 08/07/2017. ECONOMIA, p. 18