Contra ‘infiéis’, governo articula troca-troca de deputados da CCJ

 CRISTIANE JUNGBLUT

CATARINA ALENCASTRO

07/07/2017

 

 

Base de Temer na Câmara começa a dar sinais de enfraquecimento

A deterioração do apoio ao presidente Michel Temer na Câmara foi evidenciado ontem pelo esforço do governo de trocar integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e pela admissão de um dos principais apoiadores do Planalto de que a base não tem hoje os 34 votos necessários para rejeitar a denúncia contra o presidente.

Integrante da tropa de choque de Temer na Câmara, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) disse que a situação é mais confortável para Temer no plenário do que na comissão:

— Tenho certeza de que a oposição não tem e não terá os votos necessários. Claro que vamos brigar para vencer na CCJ, mas aqui, no plenário da Câmara, sabemos que temos os votos necessários. Expectativa muito forte na CCJ. No plenário, tenho certeza. Porque não temos os 34 votos (na CCJ), mas temos a maioria dos que se manifestaram.

Apesar do tom confiante de Marun, na enquete feita pelo GLOBO, o número de deputados favoráveis à autorização para que o Supremo Tribunal Federal receba a denúncia chegou ontem a 21, enquanto apenas seis estão declaradamente com Temer. Diante do cenário, o PMDB começou a trocar seus integrantes na CCJ. Ontem, o próprio Marun foi promovido a titular no lugar de José Fogaça (PMDB-RS), considerado independente.

O PTB deve trocar o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), a exemplo do que já havia feito o Solidariedade com dois membros. O PR prometeu ao governo entregar seus cinco votos na comissão, com a troca de até dois deputados infiéis ao governo.

A ordem do governo aos aliados é trocar todos os integrantes infiéis para garantir os votos. Diante do troca-troca, à noite Marun dizia que o governo teria os votos. Na CCJ, o governo precisa de maioria simples, 34 dos 66 integrantes. Já no plenário, é a oposição que precisa colocar 342 votos para aprovar a autorização de abertura de processo contra Temer. Até a noite de ontem, a enquete do GLOBO mostrava 150 deputados favoráveis à denúncia e 60 contra.

Peemedebista histórico, o deputado Jarbas Vasconcelos (PE) foi o primeiro deputado do partido de Temer a se declarar publicamente favorável à denúncia. O parlamentar, que anteriormente se declarava indeciso, tomou sua decisão após fazer a leitura da defesa:

— Em minha vida pública fui a favor que se investigue denúncias graves contra quem quer que seja. A denúncia contra o presidente é grave e possui elementos robustos. Sou do partido do presidente, mas voto com minha consciência.

Marun disse não ter se surpreendido com a manifestação de Jarbas e sugeriu até a saída dele do partido.

— Ele não tem nenhuma liderança no partido, não participa das reuniões da bancada, parece que é um contrariado, porque não é governador, senador e é deputado. Acredito que os descontentes deveriam sair (do PMDB) — disse.

Entre os aliados, o posicionamento do relator, deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), ainda é uma incógnita. Por isso, preparam diferentes cenários, mas focados na busca de votos para rejeitar a denúncia. Temer entrou em campo convocando inclusive os ministros para uma reunião na noite de quartafeira, quando apresentou a defesa aos ministros e pediu que eles trabalhem suas bases partidárias.

— O presidente disse na reunião que sua defesa é tão consistente que, mesmo que a Câmara libere, ele ganha no Supremo. Ele não admitiu derrota, só estava dando aos ministros o peso da defesa — disse um assessor do presidente.

O foco do governo está especialmente voltado para os partidos do chamado centrão, formado sobretudo por PP, PR, PTB e Solidariedade. O plano é obter os votos para derrubar um eventual parecer de Zveiter favorável à denúncia. A pressão sobre o PSDB também está grande.

 

SEM CONVOCAÇÃO DE JANOT

Na CCJ, o governo tenta reverter pelo menos um dos seis votos tucanos que estariam contra Temer. Em plenário, os próprios tucanos admitem que a situação é mais favorável a Temer. Ontem, aliados de Temer correram ao gabinete do presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para impedir o que era visto como outro possível revés para o governo: a convocação do procuradorgeral Rodrigo Janot para ser ouvido antes do julgamento na CCJ. A audiência chegou a ser defendida pelo relator. Isso levaria provavelmente a um atraso na entrega do relatório, prevista inicialmente para segunda-feira.

Rodrigo Pacheco, no entanto, não aceitou o requerimento da oposição para convidar Janot. (Colaboraram Júnia Gama e Leticia Fernandes)

O globo, n. 30650, 07/07/2017. PAÍS, p. 04