Casa e lancha de Cabral vão a leilão

Juliana Castro e Marco Grillo

27/06/2017

 

 

Justiça determina venda de bens de ex-governador e Adriana Ancelmo, num total de R$ 12,5 milhões; ex-secretário de Obras terá carros leiloados

A Justiça autorizou o leilão da casa de Mangaratiba do exgovernador Sérgio Cabral, avaliada em R$ 8 milhões, de uma lancha e de três carros. Ojuiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, autorizou o leilão da casa do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) em Mangaratiba, no Sul Fluminense. O imóvel foi avaliado em R$ 8 milhões. O magistrado também homologou a alienação antecipada — a venda de bens antes de o processo transitar em julgado — da lancha Manhattan Rio e de três automóveis que estão em nome do ex-governador e da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo.

No total, os bens a serem leiloados estão avaliados em R$ 12,5 milhões. O pedido de alienação antecipada dos bens, que inclui ainda uma motoaquática e um barco de pequeno porte, havia sido feito pelo Ministério Público Federal (MPF) e foi autorizado por Bretas no último dia 22. Os procuradores haviam pedido o leilão das joias do casal, mas o juiz não deliberou sobre a questão e aguarda a avaliação sobre o valor das peças para tomar uma decisão. Os carros que vão a leilão são um jipe Freelander (R$ 120 mil), um Hyundai Azera (R$ 76 mil) e um jipe Land Rover Discovery (R$ 240 mil), em um total de R$ 436 mil.

“Quanto ao imóvel, ainda que se defenda que o valor de mercado não se reduz com tanta facilidade, a medida também é autorizada pela Lei de Lavagem de Dinheiro, tendo em vista que a dificuldade para manutenção é inegável, uma vez que o casal proprietário (Cabral e Adriana) está custodiado pelo Estado, sem poder dispensar os devidos cuidados à casa. Portanto, a alienação antecipada proposta é adequada e proporcional ao caso em concreto”, escreveu Bretas na decisão.

CARROS DE EX-SECRETÁRIO

A lancha Manhattan está avaliada em R$ 4 milhões. A embarcação estava no nome de uma empresa de Paulo Fernando Magalhães Pinto, apontado como laranja de Cabral. Ele firmou acordo de delação premiada e confirmou que a lancha era usada pelo ex-governador, além de também pagar o aluguel de uma sala comercial usada por Cabral.

“Entendo que tanto automóveis quanto embarcações são bens facilmente depreciáveis com o simples passar do tempo, perdendo valor de mercado, ainda que bem cuidados e com manutenção em dia,” escreveu o juiz Marcelo Bretas, que nomeou o leiloeiro Renato Guedes para executar a tarefa.

Bretas também autorizou o leilão de dois carros apreendidos com o ex-secretário de Obras Hudson Braga. Os veículos foram avaliados pela Justiça em R$ 263.900 — R$ 159 mil é o valor da caminhonete Mitsubishi Pajero, enquanto o Toyota Corolla será posto à venda por R$ 104.900. A Justiça ainda aguarda a avaliação de joias apreendidas com Braga para decidir se elas também serão leiloadas.

O juiz justificou a decisão de leiloar os bens de Cabral e Hudson Braga, antes mesmo da expedição das sentenças dos processos em curso, com base na rápida deterioração no valor dos automóveis. O dinheiro arrecadado, de acordo com o despacho, será usado para “salvaguardar a restituição aos cofres públicos de eventual produto ou proveito de crime.”

A Justiça também determinou a venda de dois carros de Wagner Jordão, apontado pelo MPF como operador de Braga no esquema de corrupção: um Volvo XC60, avaliado em R$ 123 mil, e um Audi Q3, que teve o preço estipulado em R$ 120 mil, em um total de R$ R$ 243 mil. Em seu depoimento a Bretas, Jordão confessou participação no esquema e chorou.

A Justiça aguarda ainda a avaliação de bens que pertencem ao ex-secretário de Governo Wilson Carlos, preso em Curitiba, e aos operadores Carlos Miranda, Luiz Carlos Bezerra e Ary Ferreira da Costa Filho para decidir se haverá leilão.

EX-GOVERNANTA TENTA VENDER JOIAS

Cabral foi preso em novembro do ano passado na Operação Calicute e está em um presídio em Benfica, na Zona Norte do Rio. A exprimeira-dama está em prisão domiciliar no Leblon, na Zona Sul do Rio. Em outro processo, o ex-governador foi condenado pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, a 14 anos e dois meses de prisão, enquanto Adriana foi absolvida. O peemedebista responde ainda a outros dez processos na 7ª Vara Federal Criminal do Rio.

Ontem, a GloboNews exibiu imagens que mostram Gilda Vieira, ex-governanta de Cabral e Adriana, tentando vender uma pulseira e um par de brincos na joalheria Antonio Bernardo, no Shopping da Gávea. As peças seriam da ex-primeira-dama. Ao MPF, Gilda apresentou versões conflitantes: primeiro, afirmou que recebera as joias como pagamento de salários atrasados; depois, afirmou que pegou as peças em uma gaveta após a prisão do casal, por receio de não receber o que eles lhe deviam.

 

O globo, n. 30640, 27/06/2017. País, p. 8