Lista de Fachin é teste para reformas

Alexa Salomão

12/04/2017

 

 

A DELAÇÃO DA ODEBRECHT - Políticos envolvidos eram conhecidos e não surpreenderam mercado; incógnita agora é se Congresso e governo vão se manter articuladores

 

 

 

Dólar e bolsa, dois indicadores da temperatura do mercado diante de fatos controversos, mal se mexeram ontem, após a divulgação da lista de políticos que serão investigados a pedido do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

A explicação geral é que os nomes dos suspeitos eram conhecidos.

No entanto, a leitura dos economistas é que a “incerteza” política aumentou. Será preciso monitorar a capacidade de articulação do governo e do Congresso para aprovar as reformas, em especial a da Previdência.

“Os nomes dos políticos já eram conhecidos, e acho que não apareceu nenhuma mancha nova de batom, por isso, a reação do mercado foi calma: já estava no ‘preço’, como a gente costuma falar”, diz o economista e ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros. Ele considera muito mais preocupante o futuro político do País: “Todo mundo está se fingindo de morto, mas o fato é que teremos de reconstruir o sistema político e eleitoral para 2018 e não sabemos o que e quem vamos ter lá na frente”.

Nas próximas semanas, a prioridade entre os analistas e consultores econômicos é monitorar a reação dos políticos na negociação das reformas, dado que os oficialmente investigados são peças-chave para o andamento dos projetos. Na lista de Fachin estão 39 deputados, entre eles o presidente da Casa, Rodrigo Maia, principal defensor da agenda de alterações nas leis da Previdência, trabalhista e tributária. No Senado, há 24 investigados – quase um terço da Casa. Entre os oito ministros está Eliseu Padilha, um dos principais porta-vozes do governo na discussão das reformas.

 

Risco. “No calor do momento, logo após a divulgação dos inquéritos, ainda não dá para saber como a classe política vai reagir, mas o grande risco é o Congresso perder o rumo, gastar energia se voltando contra o Supremo ou se defendendo, e isso afetar a tramitação das reformas, em especial a da Previdência”, disse Evandro Buccini, economista-chefe da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos.

Ontem, o que se viu na Câmara e no Senado foi uma debandada, apesar de estar na pauta um dos projetos mais importantes do momento, que trata das medidas essenciais para a recuperação das contas públicas dos Estados, hoje no vermelho.

“É natural que a primeira reação seja se esconder e o feriado de Páscoa ajuda na desmobilização, mas não há como interromper negociações em torno das reformas”, disse Richard Back, analista político na empresa XP Investimentos.

Na avaliação de Back, de fato, há mais “incerteza” na cena política.

Os parlamentares, para preservar o foro privilegiado, tendem a ficar mais preocupados com a reeleição, o que pode comprometer a já complicada negociação da reforma da Previdência.

Porém, avalia Back, eles vão se lembrar que precisam do apoio do governo. “Ninguém vai querer ficar fora do guarda-chuva do governo justo agora”, afirmou ele.

A economistas Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, também vai monitorar a reação dos parlamentares.

A expectativa dela é que “o instinto de sobrevivência” deles possa, quem sabe, criar um efeito benéfico para a economia.

“A pressão sobre a classe política aumentou muito, e todo político sabe que, na atual circunstância, o caminho é melhorar a economia, gerar empregos – e isso não vai acontecer sem a aprovação das reformas, principalmente a da Previdência”, disse Alessandra.

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Aliado de Rodrigo Maia vai presidir Conselho de Ética

Daiene Cardoso

12/04/2017

 

 

Elmar Nascimento (DEM-BA) disse que adotará postura ‘mais cautelosa’ nos futuros processos disciplinares

 

 

 

 

Com ajuda do PT, o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), aliado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi eleito para presidir o Conselho de Ética nos próximos dois anos. No dia em que foi divulgada a lista dos delatados pelos ex-executivos da Odebrecht, Elmar disse que representa deputados que buscavam alguém “isento” e “independente” para assumir o colegiado.

O parlamentar venceu Sandro Alex (PSD-PR), candidato do grupo que defendeu a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por 11 votos a 9. Com isso, Maia – que é investigado na Lava Jato – é o primeiro presidente da Casa nos últimos quatro anos a conseguir eleger um aliado para a presidência do conselho.

Pouco antes da votação, Elmar deixou claro que adotará postura mais “cautelosa” em relação aos futuros processos disciplinares.

Para ele, não bastam inquérito ou nome em lista para abrir processo contra deputados, tem de saber o conteúdo das denúncias. “Tem de fundamentar, dizer onde é que tem quebra de decoro”, afirmou.

 

Blindagem. Sandro Alex, por outro lado, disse não ter dúvidas de que Elmar foi estimulado a concorrer para blindar parlamentares envolvidos na Lava Jato. “Elmar é candidato de um grupo que pediu para ele resolver (os processos) dentro do conselho”, disse.

O deputado, que era vice-presidente do colegiado no último biênio, afirmou que há um claro sinal de que a atitude “proativa” da antiga formação incomodou.

“Querem criar blindagem para muitos componentes da Câmara.” Para o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o resultado da votação se deveu à divulgação dos nomes dos investigados no Supremo.

“A divulgação da lista fez com que muitos deputados votassem nele (Elmar). O PT votou com o Elmar.” A sigla tem 11 investigados na lista do ministro Edson Fachin.

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Ex-secretário de Cabral é preso por desvios de até R$ 300 milhões

Constança Rezende

12/04/2017

 

 

Sérgio Côrtes é acusado de criar esquema de propina na importação de equipamentos hospitalares

 

 

 

 

O ex-secretário de Saúde do Rio Sérgio Côrtes foi preso ontem pela Polícia Federal na Operação Fatura Exposta. O Ministério Público Federal (MPF) o acusa de ter montado um esquema de arrecadação de propina na importação de equipamentos hospitalares. Os desvios teriam gerado prejuízo de R$ 300 milhões aos cofres do Estado.

Por meio de advogados, o ex-secretário alegou inocência.

Também foram presos os empresários Gusavo Estellita e Miguel Iskin. Acusado de liderar o cartel, Iskin é dono de empresas fornecedoras de equipamentos médicos e próteses (como a Oscar Iskin e Cia.), que tem entre seus clientes o Estado do Rio e o Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into).

A ação da PF foi desencadeada com base nas delações do ex-subsecretário de Saúde César Romero Vianna. Segundo ele, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho (PMDB) arrecadou ao menos R$ 16,4 milhões com os desvios.

Cabral teria recebido 5% dos valores dos contratos e uma mesada de R$ 400 mil a R$ 500 mil. Côrtes seria beneficiado com 2% dos valores, os operadores com 1%, e o delator com 1%.

Os recursos eram depositados em uma conta nos Estados Unidos, em nome de Miguel Iskin. Os crimes teriam sido praticados entre 2003 a 2014 – Côrtes foi diretor do Into de 2002 a 2006 e secretário da Saúde de 2007 a 2013. Todos foram denunciados por corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Côrtes também foi indiciado por embaraço nas investigações.

Côrtes teria entregado ainda R$ 300 mil da Rede D’Or, onde trabalha como diretor médico desde 2014, para Francisco de Assis Neto (Kiko), publicitário investigado em outras operações da Polícia Federal.

 

Outro lado. Por meio de nota, os advogados Gustavo Teixeira e Rafael Kullmann, que representam Côrtes, afirmaram que seu cliente “tem todo interesse em elucidar os fatos atribuídos a ele e que no momento oportuno provará sua inocência”. A Rede D’Or informou que decidiu “pelo desligamento imediato” do ex-secretário.

A assessoria da empresa Oscar Iskin e Cia. afirmou que não teve acesso aos autos da investigação, mas negou o envolvimento em práticas ilícitas. O Into informou que “todos os seus contratos são precedidos de licitação”.

“O instituto está à disposição para esclarecimentos que forem solicitados pela investigação e tomará as medidas cabíveis, quando tiver acesso ao processo.”

 

Prisão. Sérgio Côrtes é conduzido pela Polícia Federal na Operação Fatura Exposta

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45102, 12/04/2017. Política, p. A16.