Presidente por três dias

Letícia Fernandes

07/07/2017

 

 

 

Com Temer na Alemanha e Maia na Argentina, presidente do Senado, Eunício Oliveira, assume o país

Presidente interino da República desde o início da tarde de ontem, quando Michel Temer viajou para a Alemanha para participar do G20 e Rodrigo Maia embarcou para a Argentina, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) não perdeu tempo: sancionou, poucas horas depois de assumir, o projeto que cancela precatórios não sacados, aprovado no dia anterior no Senado. Em suas primeiras horas no cargo, Eunício recebeu o beija-mão de ministros palacianos, como Eliseu Padilha (Casa Civil), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Sergio Etchegoyen (Segurança Institucional), enquanto Moreira Franco (Secretaria-Geral) o cumprimentou apenas com um telefonema.

O presidente do Senado, que despacha do Palácio do Planalto e fica como interino até amanhã, quando Temer retorna a Brasília, também já recebeu, no gabinete presidencial, os senadores Dário Berger (PMDB-SC), José Maranhão (PMDB-PB) e Roberto Rocha (PSB-MA). O peemedebista preferiu, no entanto, não usar a cadeira de Temer. Despachou na mesma mesa, mas em outra poltrona. Por causa disso, também mudou a disposição das bandeiras que ficam na sala do presidente e as colocou no lado oposto ao da cadeira usada por Temer.

Cearense de Lavras da Mangabeira, Eunício é empresário e declarou em 2014 ter patrimônio de R$ 99 milhões. Naquele ano, disputou sua mais recente eleição, ao governo do estado, mas acabou derrotado por Camilo Santana, que era apoiado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes. A família vive em guerra aberta contra Eunício, embora já tenham sido aliados. Próximo a Renan Calheiros e Romero Jucá até o fim do ano passado, Eunício foi se afastando deles ao chegar à presidência do Senado. Em relação ao governo Temer, tenta manter postura de equidistância, embora já tenha sido um dos maiores amigos do presidente.

Como Temer, Eunício também está sob suspeita. Na delação da Odebrecht, ele é apontado como o “Índio” na lista de propina. Executivos da JBS também o citaram por recebimento de recursos para aprovar uma medida provisória. Ele também é investigado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro sobre contratos na campanha de 2014. Uma de suas empresas também foi alvo de operação da Polícia Federal em abril.

O globo, n.30650 , 07/07/2017. PAÍS, p. 4