Advogados de Temer afirmam trabalhar de graça

Eduardo Barreto

07/07/2017

 

 

Presidente tem defesa na Câmara feita por dois famosos criminalistas, que garantem que nada cobram

Os advogados do presidente Michel Temer declararam ontem trabalhar de graça para o peemedebista, investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça. Na quarta-feira, o criminalista Antônio Cláudio Mariz protocolou na Câmara defesa à denúncia contra Temer por corrupção passiva. Mariz, amigo do presidente há 40 anos, faz dupla com Gustavo Guedes, que advogou também no processo de cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

— Somos amigos há 40 anos, eu não iria ficar confortável em cobrar. Há uma espécie de norma entre advogados segundo a qual advogado que defende advogado não cobra — disse Mariz ao GLOBO.

Guedes afirmou que faz o serviço “pro bono”, ou seja, gratuitamente. Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil aprovou essa conduta, com a ressalva de não ser usada para fins político-partidários ou eleitorais.

A defesa entregue à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara sustenta que a denúncia da Procuradoria-Geral da República é “peça de ficção”. Segundo o documento de 98 páginas, Temer determinaria a “imediata prisão” de Joesley Batista, dono da JBS, se tivesse “poderes adivinhatórios”. Contudo, o presidente não se manifestou depois que o delator lhe narrou crimes, em conversa gravada no Palácio do Jaburu, à noite, em encontro fora da agenda oficial.

No diálogo, em 7 de março, Joesley fala sobre a compra de um procurador da República, a manipulação de dois juízes federais e o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao doleiro Lúcio Bolonha Funaro, ambos presos. Esses subornos teriam o objetivo de impedir que Cunha e Funaro fizessem delações premiadas.

Na conversa, Temer também indica ao empresário o ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures como seu interlocutor. Em 28 de abril, Loures foi flagrado recebendo de um ex-executivo da JBS uma mala com R$ 500 mil. Ele chegou a ser preso preventivamente e está solto desde a última sexta-feira.

O Palácio do Planalto informou que os serviços da jurista criminal Ada Pellegrini e do perito Ricardo Molina foram pedidos pela defesa do presidente, mas não dá detalhes sobre pagamentos. Molina periciou a gravação entre Temer e Joesley e contestou o laudo da Polícia Federal. Já Pellegrini atestou em parecer que a gravação é ilegal.

O globo, n. 30650, 07/07/2017. PAÍS, p.05