Título: Sarkozy aposta em reformas
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 16/01/2012, Economia, p. 9
Sem citar o rebaixamento da nota de crédito, presidente da França promete medidas para gerar empregos e financiar o gasto social
Em sua primeira manifestação pública após o rebaixamento da nota de crédito da França pela agência norte-americana Standard&Poor"s (S&P), na sexta-feira, o presidente Nicolas Sarkozy disse ontem que a nação precisa se unir em torno de reformas econômicas. "A crise da dívida pode ser superada desde que tenhamos vontade coletiva e coragem para reformar o país", discursou ele em Amboise, na região central, durante cerimônia para celebrar o centenário de nascimento de Michel Debré, pai da constituição da Quinta República francesa.
Sarkozy prometeu anunciar no fim do mês medidas para serem implantadas rapidamente. Elas visam combater o elevado nível de desemprego e criar novo mecanismo de financiamento dos gastos sociais. Antes, vai se reunir em Paris na quarta-feira com líderes sindicais e representantes de conselhos de trabalhadores, para discutir reformas. A perda da nota máxima da dívida, que representava risco quase zero aos investidores, revelou-se duro golpe no seu esforço para renovar o mandato, a pouco mais de três meses das eleições presidenciais.
Sarkozy ainda não comentou explicitamente a decisão da agência, apesar de críticas no fim de semana de integrantes da oposição, que disseram que foram suas políticas que tiveram a nota rebaixada, não a França. Seu principal oponente na corrida presidencial, o socialista François Hollande, observou que Sarkozy tinha apostado a sua reputação em manter o grau AAA. "Está claro que o presidente falhou", provocou.
Mercados A notícia do corte da nota da França, segunda maior economia da combalida Zona do Euro, deverá provocar reações negativas hoje na reabertura das bolsas de valores internacionais. A agência de classificação de risco norte-americana S&P reduziu em um grau a nota AAA que a França tinha desde junho de 1975, para AA+.
Como única reação possível até agora, Sarkozy passou a centrar a atenção no crescimento do país, prometendo rever encargos trabalhistas e dar flexibilidade ao emprego, com planos para criar novo mecanismo para financiar o sistema de bem-estar — a taxa sobre valores agregados (TVA) batizada de TVA social — além de um imposto sobre transações financeiras.
Em um tom aparentemente contrário ao adotado pelo presidente, o ministro de Franças do país, François Baroin, disse não ver necessidade de lançar novas medidas de austeridade para reagir à nova realidade. "Estamos confiantes de que as medidas já tomadas serão suficientes para atingir as metas para a redução do deficit público em 2012", disse.
Segundo o primeiro-ministro francês, François Fillon, a perda da nota de crédito AAA tornou essas reformas para fazer o país mais competitivo "mais relevantes do que nunca", embora reconheça que não terão efeitos imediatos .
"É necessário fazer reformas competitivas agora. Precisamos saber como é possível reduzir o custo do trabalho, dando flexibilidade às empresas com os parceiros sociais", disse, referindo-se a temas que serão discutidos em uma reunião do governo.
Reflexos no Japão O primeiro-ministro japonês Yoshihiko Noda afirmou que o corte da nota soberana da França e de outros oito países europeus eleva pressões para seu país colocar as contas fiscais em ordem. A crise da dívida europeia "não é só um desastre no outro continente", disse. "Se até a França foi rebaixada, o Japão poder virar o centro das atenções", disse Noda. Apelando para uma visão de futuro, o primeiro ministro negocia com o Parlamento dobrar para 5% o imposto sobre vendas até 2015, dentro de reformas fiscais e de segurança social. A dívida pública japonesa é duas vezes o tamanho da economia de US$ 5 trilhões, enquanto o país se esforça para equilibrar gastos públicos com financiamento de reconstrução pós-terremoto e custos de bem-estar elevados pelo envelhecimento da população. "Vou arriscar minha vida política", avisou Noda.