Rio já conta com reforço no caixa

Fernanda Nunes / Eduardo Rodrigues / Daiene Cardoso

20/04/2017

 

 

Após aprovação na Câmara de projeto de socorro aos Estados, Estado acredita que terá reforço de R$ 3,5 bi ainda no primeiro semestre

 

 

Após a aprovação do texto-base do programa de socorro aos Estados em crise na Câmara dos Deputados, na noite de terça-feira, o governo do Rio já contava ontem com a possibilidade de entrada de R$ 3,5 bilhões ainda no primeiro semestre deste ano e mais R$ 6,5 bilhões até dezembro.

A regularização do pagamento de salários é prioridade, diz o secretário estadual da Casa Civil, Christino Áureo.

Numa segunda etapa, o dinheiro será usado para pagar serviços das áreas de segurança, saúde e educação. Para o secretário, porém, o programa é uma “camisa de força”, porque vai retirar a autonomia dos governos estaduais.

“Muita gente diz que os Estados estão usufruindo de uma premiação da própria irresponsabilidade.

Não é nada disso. O ajuste é muito duro, amarra a decisão em várias áreas, barra a criação de novos programas de incentivo, por exemplo”, diz. O Rio espera que o Senado aprove o programa de socorro nos próximos dias e que, em seguida, um sindicato de bancos inicie o processo de avaliação do crédito de R$ 3,5 bilhões, uma antecipação da receita que será gerada com a venda da empresa de saneamento básico Cedae.

Ainda não há, porém, data para levar a companhia a leilão.

Na terça-feira, o governador do Estado, Luiz Fernando Pezão, já havia dito que o pagamento dos salários será priorizado.

“Na hora em que o regime estiver 100% aprovado, poderemos contar 60 dias para colocarmos todos os salários do Rio de Janeiro em dia”, afirmou.

 

Destaques. O desfecho da votação na Câmara dos Deputados do projeto que cria o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) dos Estados, no entanto, foi adiado mais uma vez. Com o baixo quórum de deputados da base no plenário, apenas dois destaques foram votados. Outras 10 propostas que podem alterar o texto – antes do envio ao Senado – só serão analisadas na próxima semana.

O RRF suspende por três anos o pagamento das dívidas dos entes em calamidade financeira com a União em troca de uma série de contrapartidas, consideradas duras e impopulares. Os governos estaduais terão de reduzir incentivos fiscais, aumentar a contribuição previdenciária de servidores para 14%, privatizar estatais, congelar reajustes salariais para servidores e deixar de realizar concursos públicos.

Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais são os mais interessados na medida.

Com o risco de não ter quórum suficiente para manter essas contrapartidas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), segurou a votação de apenas um destaque ao projeto por mais de uma hora e meia até que os deputados da base – muitos estavam almoçando – chegassem ao Plenário. O destaque do PCdoB retirava todas as exigências de arrocho fiscal aos Estados, o que deixaria o projeto completamente desfigurado.

 

Atrasados. Rio, de Pezão, quer recursos para salários

 

Tática

Para acelerar a votação ontem da proposta, PV e PMDB chegaram a retirar seus destaques. Mesmo assim, ficaram 10 para serem analisados na próxima semana

 

PACOTE

O que é o Regime de Recuperação Fiscal

Programa de ajuda a Estados em calamidade financeira que prevê, principalmente, a suspensão da cobrança de dívidas com a União por até três anos, e a contratação de novos empréstimos para antecipar receitas de privatização de empresas, reestruturar dívidas com o sistema financeiro e bancar programa de demissão voluntária

 

O que os Estados têm de fazer em troca

Entre outras contrapartidas, precisam privatizar estatais, elevar a alíquota de contribuição previdenciária de servidores e reduzir incentivos fiscais

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45110, 20/04/2017. Economia, p. B4.