STJ mantém Palocci preso; PT teme delação

 Vera Rosa e Rafael Moraes Moura

20/04/2017

 

 

A DELAÇÃO DA ODEBRECHT / Réu por corrupção e lavagem de dinheiro e chamado de ‘Italiano’ em planilhas da Odebrecht, ex-ministro estaria disposto a cooperar com investigaçõ

 

 

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu ontem manter o ex-ministro Antonio Palocci na prisão, sob o argumento de que a medida é necessária para garantir a ordem pública e combater o atual quadro de corrupção “sistêmica e serial”. A decisão, por unanimidade, aumentou o receio na cúpula do PT, informada de que Palocci está mesmo disposto a citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em acordo de delação premiada com a Lava Jato.

Advogados e amigos de Lula vêm tentando demover o ex-ministro da intenção de prestar depoimento ao Ministério Público Federal, mas até agora não obtiveram sucesso.

Chamado de “Italiano” na planilha da Odebrecht, Palocci é réu por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato. Está preso desde setembro do ano passado, em Curitiba, por determinação do juiz Sérgio Moro.

Ao negar o pedido de liberdade, o relator do caso no STJ, Felix Fischer, afirmou não haver constrangimento ilegal que motivasse a soltura. Além disso, os ministros da Quinta Turma do STJ encontraram indícios de provas contra Palocci. Ele é acusado de ter recebido propina de R$ 128 milhões da Odebrecht e nega todas as denúncias.

Diante da gravidade da crise, tanto senadores como deputados, ex-ministros e dirigentes do PT estão convencidos de que a prisão de Lula pode ser uma questão de tempo. Em conversas reservadas, petistas dizem que uma delação de Palocci seria a “pá de cal” sobre o PT. Afirmam, ainda, que uma colaboração dessa magnitude atingiria o sistema financeiro.

Ex-ministro da Fazenda no primeiro mandato de Lula e extitular da Casa Civil durante cinco meses do governo Dilma Rousseff, Palocci sempre foi conhecido pelo bom relacionamento com empresários e banqueiros.

Era ele o maior arrecadador do partido em campanhas presidenciais, atuando com discrição, sempre longe dos holofotes.

No PT, porém, o ex-todo-poderoso titular da Fazenda é visto como “egoísta” e pouco partidário. Nunca foi de frequentar reuniões internas. Apesar da proximidade com Lula, Palocci não era tão ligado a Dilma.

Dirigentes do PT o descrevem como um homem que não tem a mesma estrutura emocional do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, preso pela Lava Jato. Contam que Palocci já mandou vários recados de que não aguentará a prisão por muito tempo e muito menos será um “mártir” pela “causa”.

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Mercadante é citado como ‘interlocutor’

Luiz Vassallo

20/04/2017

 

 

O empreiteiro Marcelo Odebrecht, afirmou, em delação premiada, que a então presidente Dilma Rousseff escalou, em 2015, o então ministro Aloizio Mercadante como interlocutor do governo “junto à Odebrecht” para tratar de assuntos relacionados à Operação Lava Jato.

O ex-presidente da maior construtora do País disse que, “no intuito de obter fundamentos que pudessem levar à nulidade dos processos criminais conduzidos no âmbito da Operação Lava Jato” e “baseado no fato de que a CNO (Construtora Norberto Odebrecht) e o governo federal tinham interesses comuns sobre as investigações”, a empreiteira teve acesso a representantes do Planalto.

O ex-presidente da Odebrecht relatou ter se encontrado pessoalmente com Dilma no Palácio da Alvorada, onde solicitou um interlocutor “junto à Odebrecht para coordenar o tratamento de questões relacionadas à Operação Lava Jato”. O executivo alegou que Dilma escalou Mercadante, então ministro da Casa Civil, para tratar do tema. A Mercadante, Marcelo Odebrecht disse ter entregue “notas” sobre o assunto.

O delator declarou ainda que, durante uma reunião com Aldemir Bendine – então presidente do Banco do Brasil que se apresentava, segundo executivos da Odebrecht, como “interlocutor” do Palácio do Planalto –, na sede do Banco do Brasil, em São Paulo, notou que Bendine “estava de posse de uma pasta verde com o brasão da Presidência da República que continha as minhas notas direcionadas a Mercadante”.

 

Sem relação. Na semana passada, em nota divulgada por sua assessoria de imprensa, Dilma reagiu às declarações do delator. “O senhor Marcelo Odebrecht faltou com a verdade”, afirmou a petista. “É fato notório que Dilma Rousseff nunca manteve relação de amizade ou de proximidade com o senhor Marcelo Odebrecht.” Também por meio de nota, Aloizio Mercadante afirmou que “nunca recebeu delegação” da petista “para tratar de assuntos referentes à Lava Jato”. Segundo o comunicado, o tema “era acompanhado pelo governo junto ao Ministério da Justiça, Advocacia-Geral da União (AGU) e Controladoria-Geral da União (CGU)”.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45019, 19/04/2017. Política, p. A5.