Título: Dilma critica europeus
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Fonte: Correio Braziliense, 27/01/2012, Economia, p. 11
Em referência a saídas apontadas para a Zona do Euro, presidente diz que aumenta a "dissonância entre a voz dos mercados e a das ruas"
Porto Alegre — A presidente Dilma Rousseff disse ontem que propostas que já fracassaram na América Latina estão sendo novamente levantadas para solucionar a atual crise da dívida europeia. Dilma afirmou que a exclusão e a desigualdade no Brasil foram incrementadas por essas mesmas políticas, apontadas agora como saída para os países desenvolvidos.
"Foram preconceitos políticos, foram preconceitos ideológicos que levaram nosso país à estagnação, aprofundando a pobreza e a exclusão social. Hoje, essas receitas fracassadas estão sendo propostas novamente na Europa", declarou, a uma plateia de participantes do Fórum Social Mundial (FSM), no ginásio Gigantinho, em Porto Alegre. Para a presidente, em outra referência à Europa, "a dissonância entre a voz dos mercados e a das ruas parece aumentar cada vez mais nos países desenvolvidos".
A presidente disse ainda que, apesar de alguns avanços conquistados no encontro do G-20 em novembro, na França, ela não está satisfeita com os resultados da cúpula. Ela fez um discurso com ênfase na questão ambiental e no desenvolvimento sustentável, no qual afirmou que o que estará em debate na conferência internacional Rio+20, a ser realizada em junho, no Rio de Janeiro, é um "modelo de desenvolvimento capaz de articular o desenvolvimento e a geração de renda". "Quando eu falo em desenvolvimento sustentável, significa crescimento acelerado de nossa economia para poder distribuir riqueza. Significa criação de emprego formal e expansão da renda dos trabalhadores", declarou.
Pouco antes, a presidente afirmou que a população brasileira está "vacinada" contra o neoliberalismo e que não é mais possível adotar um discurso anticapitalista. Em evento fechado com cerca de 80 pessoas, entre elas integrantes da sociedade que participarão da Rio+20, Dilma defendeu que a parcela não governamental do evento tenha o lema Um Outro Mundo é Possível, o mesmo adotado pelo FSM desde 2001. "Ela (Dilma) garantiu que o povo brasileiro está vacinado contra o neoliberalismo. Mas eu não estou tão certo", disse o sociólogo português e professor da Universidade de Coimbra Boaventura de Sousa Santos, integrante da organização internacional do evento.
Presença constrangedora A presença do ex-ativista de ultraesquerda italiano Cesare Battisti, acusado em seu país de vários assassinatos nos anos 1970 e asilado no Brasil, causou constrangimento à presidente Dilma Rousseff no Fórum Social Mundial. O tema é delicado, uma vez que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou o pedido de extradição da Itália em seu último dia de governo, 31 de dezembro de 2010. A decisão causou fortes tensões diplomáticas entre ambos os países, que tiveram de ser administradas no governo Dilma. Em 2009, os participantes do próprio fórum estavam divididos. Em 2012, Battisti participa do evento por conta da apresentação de seu livro, o romance Ao pé do muro, que será editado na França e no Brasil.
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 27/01/2012 02:59