As chances de o Copom acelera o corte de juro

Alex Ribeiro

05/05/2017

 

 

O Banco Central sinalizou que, entre as alternativas que avalia na reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês, está uma nova aceleração dos cortes da taxa básica de juros, provavelmente para 1,25 ponto percentual. A outra possibilidade é manter o ritmo atual, de um ponto.

Os analistas econômicos se apegaram sobretudo à segunda hipótese, mais cautelosa. Julgando pela média das projeções do mercado para a Selic no fim do mês, de 10,23% ao ano, menos de 10% dos economistas do mercado apostam em corte mais forte de juros. Será que eles estão subestimando as chances de um BC mais "dovish"?

Desde a reunião do Copom de abril, uma parte do mercado financeiro vem lendo as mensagens do colegiado pelo lado mais conservador. No comunicado daquele encontro, o BC telegrafou, pela primeira vez, que poderia cortar com mais força os juros básicos.

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Alguns analistas muito influentes, porém, a princípio entenderam que o Copom sinalizava que havia riscos simétricos no seu cenário e, dessa forma, poderia tanto acelerar o ritmo de baixa de juros, para 1,25 ponto, quanto reduzi-lo, para 0,75 ponto. Isso apesar de a distribuição de riscos listada pelo BC pender para o lado positivo.

A ata da reunião do Copom de abril, divulgada uma semana depois, indicou com mais clareza que o cenário é assimétrico, ou seja, que há chances de o ritmo de corte continuar em um ponto percentual ou de ser intensificado - não de diminuir o ritmo. Mesmo com essa mensagem mais explícita, porém, uma parte dos analistas entendeu que essas considerações se aplicavam apenas às condições da reunião de abril, e não seriam uma sinalização para decisões futuras do Copom.

Na verdade, são as duas coisas. A mensagem do Copom se aplicava às condições da reunião de abril, mas também revelava a lógica que vai governar os passos seguintes de política monetária. Sob as circunstâncias econômicas da reunião do Copom de abril, era possível pisar no acelerador, mas as incertezas presentes no mesmo encontro recomendavam não ir com tanta sede ao pote.

Mas essa não é uma situação que se encerra na reunião de abril. A ata revela como o BC vai reagir às condições futuras que se apresentarão na reunião de maio. Tecnicamente, é o que os especialistas chamam de função reação do Banco Central. Se o Copom vai, de fato, pisar mais uma vez no acelerador, portanto, dependerá dos novos dados e informações que forem surgindo até o fim do mês.

Hoje, muito provavelmente, o diagnóstico do BC não está fechado, nem poderia - ainda há um bom tempo até a reunião e, até lá, muita coisa pode acontecer. Além do mais, a decisão é tomada apenas na reunião do Copom. A essa altura, portanto, o melhor que os analistas podem fazer é tomar conhecimento do que o BC está de olho e especular sobre como o colegiado vai reagir às novas informações.

O BC tem destacado que as decisões futuras dependem da evolução da atividade econômica, de suas projeções de inflação e das expectativas de inflação do mercado financeiro. De forma geral, esses fatores, que já autorizavam um corte de juros mais alentado em abril, estão mais favoráveis.

O IPCA-15 de abril, por exemplo, ficou em 0,21%, abaixo da média do projetado pelo mercado. A atividade saiu-se um pouco pior que o antecipado: a produção industrial de abril caiu 1,8%, mais do que o recuo de 0,9% prevista pelos economistas.

As expectativas de inflação do mercado para 2018 recuaram também, de 4,41% para 4,3%, desde a reunião do Copom de abril. Ela deve ser interpretada com alguma cautela, pois essa queda reflete, em boa medida, especulações do mercado de que a meta de inflação de 2018, hoje definida em 4,5%, vai ser revista.

O BC tem dito que a meta de 2018 não vai mudar. Também tem enfatizado que o que importa são as suas próprias projeções de inflação, que não necessariamente precisam andar sempre junto com as do mercado. Ao longo do tempo, a tendência é elas convergirem. Mesmo assim, a queda das expectativas do mercado tem um conteúdo qualitativo relevante: elas mostram confiança de que o BC será capaz de entregar até mesmo metas mais ambiciosas.

Em resumo, o cenário econômico é favorável, a questão são as incertezas citadas pelo Copom que aconselharam cortar apenas um ponto em abril. Na ata, são listados quatro fatores de risco ao cenário inflacionário, que incluem do ambiente internacional à recuperação da atividade. Mas parece não haver muita dúvida de que o principal deles é a aprovação da reforma da PrevidênciaSocial.

Muitos, no mercado, acham que há um percentual máximo de diluição da reforma que seria aceita pelo BC, ou um passo em especial na tramitação do projeto que daria segurança de que seria de fato aprovada no Congresso.

O que o BC comunicou na ata é que essa reforma é "fundamental para a sustentabilidade das conta públicas". Em meados de 2016, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, enfatizava que, mais do que uma medida ou outra, o relevante é a percepção dos agentes de que a dívida vai se estabilizar, e os reflexos disso nos prêmios de riscos e preços de ativos.

O que conta, portanto, será a própria percepção do mercado sobre o que é uma reforma consistente. Hoje, o consenso é que, se mantiver 70% ou 75% da reforma, será muito bom. Se aprovar menos do que 50%, o cenário fica desfavorável. Percentuais entre 50% e 70% poderiam ter sinais mistos. A questão seria como os prêmios de riscos e ativos vão reagir a esse cenário intermediário.

Quando o BC poderá se sentir mais confortável? É difícil prever. Se a reforma estiver aprovada, a fatura estará resgatada. Mas a experiência mostra que, mesmo antes de passar pelo plenário, pode se consolidar a visão de que será aprovada. No caso do impeachment, por exemplo, a votação no Senado apenas sacramentou o que estava certo. Algo parecido ocorreu com a emenda que impõe um teto para o aumento dos gastos. Ou seja, ainda não dá para descartar as chances de as incertezas se dissiparem antes da reunião do Copom do fim do mês.

 

Alex Ribeiro é repórter especial. Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de Claudia Safatle

E-mail: alex.ribeiro@valor.com.br

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4248, 05/05/2017. Brasil, p. A2.