PMDB não deve fechar questão contra a denúncia de Janot

Cristiane Jungblut, Eduardo Barretto e Maria Lima

04/07/2017

 

 

Aliados reconhecem maior instabilidade depois da prisão de Geddel

-BRASÍLIA- As dissidências que já haviam sido identificadas em relação à denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer devem contaminar o PMDB. Ontem, diante do quadro de incerteza, agravado pela prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, muito próximo a Temer, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que também preside a legenda, e o líder do partido na Câmara, Baleia Rossi (SP), disseram que não haverá fechamento de questão em relação à denúncia.

— Não precisa fechar questão, pois isso não é questão partidária, é questão de foro íntimo, de julgamento. A posição do presidente do partido é analisar qualquer pedido e agir como juiz — disse Jucá.

O líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), disse estar otimista e qualificou o fechamento de questão como desnecessário.

— Não precisa haver fechamento de questão. Nos reunimos na semana passada, e todas as manifestações estão sendo de apoio a Temer e contra a denúncia. O governo tem uma base coesa e deverá ter uma vitória expressiva na CCJ e depois no Plenário — disse Baleia.

Enquete do GLOBO que vem sendo publicada desde domingo, no entanto, mostra que 14 deputados do partido se dizem indecisos neste momento. Primeiro presidente brasileiro a ser denunciado no exercício do mandato, Temer deu entrevista ontem à rádio BandNews e disse estar “animadíssimo” e ter “quase certeza absoluta” de que a Câmara derrubará a denúncia de corrupção passiva contra si. Enquete do GLOBO na noite de ontem mostrava 135 deputados a favor da aceitação da denúncia; 54 contra; 79 indecisos; e 244 não responderam.

— Estarei muito obediente àquilo que a Câmara dos Deputados decidir. Mas há cerca de 363 indecisos. Os indecisos são aqueles que vão dar o seu voto no último momento. Os que são contra dizem logo que são contra. Então, tenho a esperança, quase certeza absoluta, de que nós vamos ter sucesso na Câmara — afirmou.

Apesar da crise, o presidente Michel Temer decidiu ir à reunião da cúpula do G20, que começa nesta sexta-feira em Hamburgo, na Alemanha. O Palácio do Planalto chegou a informar, na semana passada, que Temer havia desistido de representar o Brasil no encontro. Nesta segunda-feira, porém, o presidente decidiu ir ao encontro. A justificativa do governo é que, como foi adiada a votação da reforma trabalhista no Senado, prevista para a próxima semana, Temer viajará na quinta-feira de tarde e voltará a Brasília no sábado.

Temer deve apresentar amanhã sua defesa à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Segundo interlocutores, ele não irá pessoalmente se defender, o que ficará a cargo de seu advogado e amigo Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. O presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDBMG), anunciará hoje o nome do relator da denúncia. Mesmo que Temer vença na CCJ, o relatório ainda deve ser votado no plenário. São necessários votos de 342 deputados para que o processo criminal contra Temer siga adiante e volte ao Supremo Tribunal Federal (STF).

OPOSIÇÃO: TORPEDO NO GOVERNO

O líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), admitiu que a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima trará maior “instabilidade política” e será explorada pela oposição, mas confirmou calendário do governo: votar a denúncia na CCJ no dia 13, para levar ao plenário no dia 18.

— A prisão do ex-ministro logicamente gera mais instabilidade política, mais turbulência naquilo que a oposição deverá fazer durante todo dia de amanhã, durante toda a semana. Mas, no caso da denúncia que vamos votar na CCJ, não há nenhum tipo de conexão. Muda o ânimo exatamente por conta da exploração política. O que precisamos é virar essa página — disse o líder.

O líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP), disse que a prisão de Geddel Vieira Lima piora a situação do presidente e disse acreditar que isso possa influenciar na votação da denúncia na CCJ.

— É muito grave a prisão de Geddel, é mais um torpedo no casco do governo. Um governo que se esfarela. Como Temer resiste em renunciar, acho que isso vai acontecer por meio da uma decisão da Câmara. A prisão do Geddel é mais um elemento negativo para o governo. Afinal, ele era um ministro forte, prestigiado, que tentava demonstrar sua força e agora está preso. Como disse Joesley (Batista), eu acho, esse é um governo de bandidos: ou estão no Planalto, ou estão na prisão. Como o Geddel não estava em nenhum dos dois, acho que resolveram enquadrá-lo — disse Zarattini, lembrando a proximidade dele com Temer.

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Entrevista - Gilmar Mendes

André de Souza 

04/07/2017

 

 

‘Não veria problema de Moro receber o presidente Lula’

Para presidente do Tribunal Superior Eleitoral, encontro com Temer foi ‘absolutamente normal

-BRASÍLIA- O ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e integrante do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou a reunião feita com o presidente Michel Temer, na noite da terça-feira da semana passada, fora da agenda divulgada pelos dois, como absolutamente normal. Segundo ele, foi um conversa na condição de presidentes do TSE e da República, e não de juiz e investigado, para tratar da reforma política.

Como foi marcada esta reunião?

Eu tinha um encontro com o ministro (da Secretaria-Geral) Moreira Franco. Estava na minha agenda inclusive. Nós ficamos de conversar sobre várias questões. Pela manhã tinha tido um debate sobre a reforma política aqui no TSE com 28 representantes de partidos. E a sequência era essa. Nós íamos conversar sobre o que era possível fazer nesse contexto. Mais tarde ele me ligou dizendo que o presidente também iria. Absolutamente normal.

Mas o encontro não estava na agenda dos dois.

A mim me parece que há um certo estresse, um certo nervosismo por parte da própria mídia, e a invenção de um certo protocolo que ela mesmo não segue. Nós recebemos vocês (jornalistas) a toda hora e falamos com vocês independentemente do horário. Então aí me parece que isso é impróprio. E um jogo de jogar suspeita, suspicácia sobre as pessoas. Quem opera mal e obra mal o faz de manhã, de tarde, à noite. Então a mim me parece que isso tem que ser esclarecido. E tem que parar com esse tipo de teoria conspiratória.

Foi o senhor quem convidou Moreira Franco?

Nós conversamos sempre. E ficamos de nos encontrar.

Qual foi o assunto?

Reforma política.

Um caso que poderia ser comparado é se o juiz Sergio Moro recebesse o ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu. Isso...

Na verdade, essa comparação é absolutamente imprópria. Nós estamos discutindo aqui, desde o primeiro dia na minha gestão na presidência (do TSE), a reforma política. E temos conversado com todos os atores. Eu não estou aqui pedindo certidão negativa de ninguém, nem posso. Estamos discutindo questões que precisam ser encaminhadas. E cada vez mais o tempo urge, nós estamos aí com a possibilidade da anualidade, precisa ser deliberado até setembro (para a reforma política valer já na próxima eleição, em 2018). Agora, também não veria nenhum problema de o juiz Moro receber o presidente Lula ou José Dirceu.

Seria o contato de um juiz com um investigado.

Isso não se coloca. Eu sou presidente do TSE e tenho que falar, por exemplo, sobre eleições. Agora mesmo realizaríamos as eleições no Amazonas. Precisamos de um crédito adicional de R$ 18 milhões para isso. Com quem eu converso? O presidente não deixa de ser presidente pelo fato de ter uma denúncia oferecida. Como nenhum ministro deixa de ser ministro por esse fato. Vocês também não vão deixar de entrevistá-los. Eu recebi Temer não na condição de alguém que tenha uma denúncia. Eu conversei com ele como chefe de estado, chefe de governo, e eu como presidente do TSE. Foi nessa condição.

Falou sobre sucessão na PGR?

Sim, foi falado sobre isso também.

O senhor fez recomendação para Temer escolher um dos três nomes da lista?

Não. Isso é o presidente que faz. Eu mesmo sou crítico da lista. Eu acho que a lista é uma invenção corporativa. Na verdade, tenho sido crítico desse compromisso que os governos Lula e Dilma assumiram de nomear o primeiro da lista.

 

O globo, n. 30647, 04/07/2017. País, p. 4