Analistas de mercado elevam projeção para inflação no ano

Marcello Corrêa e João Sorima Neto

25/07/2017

 

 

Aumento de impostos, porém, não altera expectativa de corte nos juros

-RIO E SÃO PAULO- O esforço fiscal para o governo cumprir a meta fiscal para este ano, de um déficit de R$ 139 bilhões, já teve reflexos nas projeções do mercado financeiro para a inflação. O aumento das alíquotas de PIS/Cofins sobre os combustíveis, anunciado na última quinta-feira, levou os analistas de bancos consultados pelo Banco Central (BC) para o boletim Focus a elevarem suas estimativas para o IPCA este ano. As projeções passaram de 3,29% para 3,33%, no relatório concluído na sexta-feira. Foi a primeira alta em quase dois meses. No entanto, mantém-se a expectativa de um corte de juros pelo BC esta semana, de 1 ponto percentual.

Até o último dia 17, a projeção para a inflação em 2017 havia registrado uma sequência de sete semanas consecutivas em queda. Na quinta-feira, quando o governo anunciou a alta no imposto sobre gasolina, diesel e etanol, economistas consultados pelo GLOBO já estimavam que a decisão teria impacto de até 0,5 ponto percentual sobre o IPCA deste ano. As projeções, no entanto, ainda estão longe do centro da meta de inflação, que é de 4,5%.

DÓLAR SOBE 0,15%, A R$ 3,148

Com a distância ainda confortável da meta, a leitura é que o BC mantenha o ritmo de corte da taxa de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne hoje e amanhã, quando divulgará sua decisão sobre a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,25%. Analistas esperam uma redução de 1 ponto percentual, para 9,25% ao ano. As projeções do Focus para a Selic no fim do ano se mantiveram em 8%.

Em relação ao crescimento do PIB, a previsão do Focus foi mantida em alta de 0,34% neste ano e em 2% em 2018. Também não houve mudança na projeque ção para a taxa de câmbio no fim do ano, que está em R$ 3,30.

Amanhã também será anunciada a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para taxa de juros dos Estados Unidos. Analistas esperam que permaneça no atual patamar, entre 1% e 1,25% ao ano. Ainda assim, a expectativa em relação ao Fed fez com que o dólar comercial fechasse em alta de 0,15%, a R$ 3,148, no mercado de câmbio brasileiro. Outro fator é a preocupação com o fim do recesso parlamentar, na semana que vem.

— Foi uma pequena alta, mas o câmbio está estável. O mercado vê com bons olhos o aumento de impostos para que o governo reforce o caixa. Mas a tensão com a instabilidade política ainda está latente. Acredito que se não houver nenhuma notícia bomba, nos próximos meses, a tendência é que o dólar se estabilize numa banda entre R$ 3,00 e R$ 3,10 — afirma Fernando Bergallo, diretor de câmbio com a FB Capital.

O fim do recesso parlamentar em Brasília traz de volta ao radar do mercado a possibilidade de admissão, pelo plenário da Câmara, da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. Além disso, o clima de incerteza é reforçado pela possibilidade de novas delações premiadas, poderiam desestabilizar o governo.

“O clima é de stand-by em Brasília, mas as negociações seguem nos bastidores”, afirmaram, em nota a investidores, os analistas da Guide Investimentos.

Bergallo, da FB Capital, observa que muitos clientes estão antecipando pagamento de contratos em dólar, aproveitando a baixa do câmbio neste momento. Na máxima do dia, a divisa foi negociada a R$ 3,154, e na mínima, a R$ 3,136. Na semana passada, o dólar acumulou desvalorização de 1,35%.

BOLSA FECHA EM ALTA DE 0,64%

Na B3, o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, registrou valorização de 0,64% aos 65.099 pontos, depois de três sessões de queda. Mas o giro financeiro foi baixo, de apenas R$ 4,8 bilhões. Entre as principais ações do índice, os papéis ligados a commodities (matériasprimas) puxaram a alta do Ibovespa. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Vale avançaram 2,50%, a R$ 27,38. Já os papéis PN da Petrobras avançaram 1,49%, a R$ 12,88. As ações de bancos, que têm maior peso no índice, também tiveram um dia positivo. Itaú PN subiu 0,62%, a R$ 37,01, e Bradesco PN avançou 0,85%, a R$ 29,54.

— O Ibovespa fechou em alta, mas sem um movimento forte de compras. Acredito que, enquanto não houver uma definição sobre a admissibilidade ou não da denúncia contra o presidente Michel Temer, a tendência é que o investidor fique em compasso de espera — avalia o economista Pedro Coelho Afonso, chefe de operações da Gradual Investimentos.

A B3 informou que decidiu retirar as ações da Triunfo de três índices de governança, depois de a empresa pedir recuperação extrajudicial. Isso será feito no encerramento do pregão de hoje.

 

O globo, n. 30668, 25/07/2017. Economia, p. 18