Após três anos de Lava-Jato, corrupção continua a assolar setores da Petrobras

André Guilherme Vieira

05/05/2017

 

 

Três anos após a revelação do esquema bilionário de desvios de recursos da Petrobras, com pagamentos de propinas a políticos e a funcionários da estatal, a Operação Lava-Jato reuniu indícios documentais e informações prestadas por delatores que apontam para a continuidade de práticas de corrupção em áreas da companhia, ainda que em proporção menor.

Investigadores dizem ter comprovado desvios em contratos da petrolífera e pagamentos de propinas viabilizados até pelo menos junho de 2016, já durante o governo Michel Temer e com a nova administração da Petrobras, empossada em 31 de maio do ano passado.

Valor apurou que a Lava-Jato detectou suspeitas de envolvimento de atuais funcionários da Petrobras em supostos ilícitos relacionados a contratos em vigor. A investigação ocorre em caráter sigiloso, e se ampara em vasta quantidade de documentos, quebras de sigilos, movimentações bancárias no exterior informadas por autoridades internacionais, e ainda evidências entregues por ex-funcionários da estatal que aderiram ao acordo de delação premiada.

"Fica claro que há muito trabalho ainda a ser feito [pela Lava-Jato] na própria Petrobras. Nada garante que tenhamos hoje uma empresa totalmente limpa da corrupção", afirmou ontem o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, durante entrevista coletiva realizada em Curitiba sobre a deflagração da "Operação Asfixia", 40ª fase da Lava-Jato que levou à prisão dois ex-gerentes da petrolífera suspeitos de enriquecer ilicitamente com desvios superiores a R$ 100 milhões.

"Certamente ainda vamos descobrir muitas pessoas na ativa [na Petrobras] que tiveram participação em fatos criminosos", disse Santos Lima.

Entre setores da Petrobras que continuam sob investigação, estão as áreas de publicidade e de comunicação da companhia.

Procurada, a Petrobras informou, por meio de sua gerência de imprensa, que a estatal "trabalha em estreita parceria com as autoridades que conduzem a Operação Lava-Jato e é reconhecida pelo próprio Ministério Público Federal e pelo Supremo Tribunal Federal como vítima da corrupção investigada. É a maior interessada, portanto, em ver todos os fatos esclarecidos".

A empresa informou que se coloca à disposição dessas instituições para aprofundar a colaboração "de tal forma que, baseados nas evidências de que disponham, possamos identificar e afastar imediatamente eventuais infratores ainda existentes nos nossos quadros. É do interesse da direção da empresa e da imensa maioria dos trabalhadores da Petrobras, que são dedicados e comprometidos com a empresa e com a ética, que isso aconteça o mais rapidamente possível".

A estatal também elencou 13 providências que diz ter adotado para aperfeiçoar sua governança.

Entre elas estão a criação de comitê de investigação liderado pela ex-ministra do STF, Ellen Gracie; a revogação de instâncias individuais de decisões; a verificação da vida pregressa de todos os gestores; e o treinamento de 66 mil empregados em curso de combate à corrupção criado pela ONU.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4248, 05/05/2017. Política, p. A10.