Lula reafirma candidatura e defende ‘classe política’

Elizabeth Lopes

14/04/2017

 

 

A DELAÇÃO DA ODEBRECHT / Citado em delações da Odebrecht, petista volta a dizer que vai disputar Presidência; a rádio, afirma não saber o que vai acontecer com ele

 

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a afirmar que vai concorrer ao Palácio do Planalto em 2018. Apesar das denúncias de delatores da Odebrecht, ele defendeu a classe política brasileira.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin remeteu a instâncias inferiores pedidos de investigação contra o petista.

“Fora da política é o fascismo.

É preciso melhorar a classe política. Em 2018, isso pode mudar, mas não pode eleger um Congresso como este”, afirmou o ex-presidente à Rádio Metrópole de Salvador. A entrevista foi divulgada por Lula em suas redes sociais.

“Não sei o que vai acontecer comigo, mas estou na disputa e vou provar que este País pode voltar a ser feliz”, disse Lula, apontado como beneficiário, após deixar o Planalto em 2010, de uma conta de R$ 40 milhões – um “saldo Amigo”, nas palavras de Marcelo Odebrecht.

Questionado sobre as delações da Odebrecht, Lula afirmou que não consegue passar um dia sem ver “uma denúncia, uma leviandade, uma mentira” envolvendo seu nome. Segundo ele, as acusações são “absurdas” e “inverossímeis”.

“Eu desafio qualquer empresário a dizer que Lula pediu R$ 10”, disse o ex-presidente. “Eu acho que o que está por detrás de tudo isso é tentar encontrar uma pulga para evitar que Lula seja candidato em 2018. É isso que está em jogo.” Lula rebateu as informações do ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar de que seu irmão Frei Chico recebia uma mesada da empreiteira. “Eu nunca dei um real para meu irmão Frei Chico. Ele é mais velho do que eu, ele que me colocou na política.

E agora inventam que a Odebrecht dava R$ 5 mil para ele por mês? Ora, isso é problema deles.

Acusam uma reforma em um sítio que não é meu. O mesmo com o apartamento do Guarujá, que não é meu.”

 

Paralisia. Sem citar o juiz Sérgio Moro, Lula disse que não é correto paralisar o País por causa de uma investigação. “Estamos sendo governados lá de Curitiba, não tem sentido isso”, afirmou. Ele disse que é a favor de que se investigue tudo, mas não concorda com os vazamentos “feitos de dentro” da sala do juiz, referindo-se a um depoimento de Marcelo Odebrecht.

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Dilma diz que Marcelo ‘faltou com a verdade’

Julia Affonso / Ricardo Brandt / Luiz Vassallo

14/04/2017

 

 

A presidente cassada Dilma Rousseff afirmou ontem que Marcelo Odebrecht, herdeiro e ex-presidente da construtora Odebrecht, “faltou com a verdade”. Em nota, a petista disse que “nunca pediu recursos para campanha ao empresário”. Ele afirmou, em sua delação premiada, que Dilma tinha conhecimento de repasses de recursos ilícitos para disputas eleitorais – segundo Marcelo, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega pediu R$ 100 milhões para a campanha de reeleição.

Segundo a presidente cassada, é “mentira” que ela tivesse conhecimento sobre “quaisquer situações ilegais que pudessem envolver a Odebrecht e seus dirigentes, além dos integrantes do próprio governo ou mesmo daqueles que atuaram na campanha da reeleição”.

“Ele (Marcelo) não consegue demonstrar tais insinuações em seu depoimento”, afirmou a petista. “E por um simples motivo: isso nunca ocorreu. Ou seja: o senhor Marcelo Odebrecht faltou com a verdade”, afirmou.

A presidente cassada também negou que tenha favorecido a construtora. Segundo ela, “também são falsas as acusações de que tenha tomado qualquer decisão para beneficiar diretamente a Odebrecht ou mesmo qualquer outro grupo econômico.

Todas as decisões de governo foram voltadas ao desenvolvimento do País, buscando o bem-estar da população, a partir do programa eleito nas urnas.” Dilma disse também que “nunca manteve relação de amizade ou de proximidade” com Marcelo. “Muitas vezes, os pleitos da empresa não foram atendidos por decisões do governo, em respeito ao interesse público.

Essa relação distante e, em certa medida conflituosa, ficou evidenciada em passagens do depoimento prestado pelo senhor Marcelo Odebrecht”, informou Dilma na nota.

 

Transparência. Sem citar nomes, Dilma disse que “espera que as investigações transcorram com imparcialidade e transparência”, sem “direcionamentos para favorecer líderes políticos”. “A verdade dos fatos será demonstrada. Não são insinuações ou mentiras, lançadas por empresários ou executivos de uma construtora, que esconderão ou mesmo distorcerão os fatos.

A verdade vai triunfar, apesar dos ataques.”

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45104, 14/04/2017. Política, p. A5.