Marcelo admite destruição de provas

Luiz Vassallo

Fausto Macedo

Ricardo Brandt

 Julia Affonso

18/04/2017

 

 

A DELAÇÃO DA ODEBRECHT / Ele disse que mandou funcionários apagarem de computadores dados de corrupçãoMarcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, afirmou em delação que mandou destruir provas de corrupção e de lavagem de dinheiro da empresa. Ele também temia que estivesse sendo grampeado.
 

Um dos episódios, de acordo com Marcelo, envolve uma anotação apreendida pela Polícia Federal e destacada na denúncia criminal contra ele, em que o ex-executivo escreveu “MF / RA – Higienizar apetrechos”. O material foi recolhido na 14.ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada em 19 de junho de 2015, quando Marcelo Odebrecht foi preso – ele continua na cadeia, em Curitiba.

“Quando foi deflagrada e teve busca e apreensão de (ex-funcionários da empresa) Márcio e Rogério eu alertei eles, a primeira coisa: vocês não vão ter nada em seus computadores de coisas que vão comprometer a empresa”, afirmou o delator.

“Estava mencionando duas questões aí: tanto eles terem coisas que comprometessem como também a essa altura do campeonato eu estava preocupado com grampos, imaginávamos que o pessoal poderia estar fazendo grampos de qualquer natureza”, disse.

“Alertei isso a eles e com certeza mencionei com outros executivos, mas na época o pessoal do jurídico me alertou logo depois: ‘Olha, vamos olhar a questão de grampos e de rastreamento, mas não vamos fazer destruição porque caracteriza destruição de provas’”, afirmou.

Quando foi alvo das denúncias do Ministério Público Federal (MPF), Marcelo Odebrecht negou qualquer atuação para tentar obstruir a Justiça ou dificultar as investigações.

 

Varreduras. O delator disse ainda na delação que não apagou nenhum material pessoalmente, mas que “algum executivo pode ter destruído provas”.

“Quando tomei a iniciativa não estava pensando nisso, aí tomei consciência. Tanto assim, que eu não apaguei nada.

E até o pessoal me falou: ‘Marcelo, além de ser destruição de provas, é improdutivo. Porque depois que está no meio digital, não consegue apagar, esqueça’.” Ele disse ter sido alertado ainda de que “em algum momento” a empresa teria de “fazer investigação e, se algum material foi apagado, o pessoal vai descobrir, porque tem como descobrir que foi deletado”.

 

Grampos. A maior preocupação, no entanto, de acordo com Marcelo, seriam os grampos. “Isso, sim, durante todo tempo a gente se preocupou em fazer, durante todo tempo, fazer constantes varreduras para ter certeza que a gente não estava sendo monitorado”, explicou o empresário aos procuradores. / LUIZ VASSALLO, FAUSTO MACEDO RICARDO BRANDT e JULIA AFFONSO

 

Multa

O juiz americano Raymond Dearie formalizou condenação da Odebrecht ao pagamento de multa de US$ 2,6 bilhões, no âmbito de acordo de leniência de dezembro.

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Suíça fornece dados de servidor ao Brasil

Jamil Chade

18/04/2017

 

 

País europeu compartilha com Lava Jato mais de 2 milhões de itens com informações sobre propinas da Obrecht
 

A Suíça compartilhou com os procuradores da Operação Lava Jato dados do servidor da Odebrecht no país referentes a pagamentos de propinas, com datas, beneficiários e rota disponível do dinheiro. No total, os suíços confiscaram 2 milhões de documentos, e-mails, extratos bancários e contratos sobre movimentações financeiras da construtora em todo o mundo.

Os dados, segundo os procuradores, devem confirmar conteúdos de delações premiadas de ex-executivos da empresa contra versão contestatória de quase a totalidade dos políticos que são alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) chegou a chamar os depoimentos de “ficções premiadas”.

Quando a Lava Jato começou em 2014, parte dos rastros de pagamentos no Brasil pela Odebrecht foi destruída. Já o servidor que armazena as movimentações de dinheiro da empresa direcionado a propinas foi mantido em Genebra. Sua existência foi revelada pelos próximos ex-funcionários da construtora.

Em janeiro deste ano, o procurador- geral da República, Rodrigo Janot, estava com uma reunião marcada com o procurador suíço Michael Lauber, em Berna. Antes do encontro, os suíços disseram a Janot que teriam uma “boa notícia” em relação aos dados dos servidores.

Mas a reunião jamais ocorreu, já que horas antes o brasileiro teve de retornar ao País por causa da morte do ministro do Supremo Teori Zavascki.

Até agora, foram mais de mil relações bancárias identificadas com a Odebrecht em contas na Suíça, com o bloqueio inédito de mais de US$ 1 bilhão. Os dados também mostraram que, apenas pelas movimentações da Odebrecht, cerca de US$ 635 milhões passaram pelas contas secretas.

Em documento obtido pelo Estado no Tribunal Federal Suíça, de 21 de dezembro de 2016, os suíços informam que houve tentativa da Odebrecht de destruir informações do servidor. “Grande parte dos dados foi deletado antes por ordens da direção ou foi encriptada. Mas elas puderam ser restauradas e decriptadas”, indicou o documento.

 

Processo. O acesso ao servidor começou a se tornar realidade quando Fernando Miggliaccio, ex-executivo da Odebrecht e responsável por fazer pagamentos de propinas, foi preso em Genebra, em fevereiro de 2016. Miggliaccio passou a responder a um processo por lavagem de dinheiro na Suíça e prestou, nos três meses preso, um total de 14 depoimentos. Em meados do ano passado, após aceitar fechar acordo de delação premiada no Brasil, voltou ao País.

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‘É provável que ministros peçam para sair’, afirma Temer

Elizabeth Lopes

Vera Rosa

Tânia Monteiro

Carla Araújo

18/04/2017

 

 

Auxiliares podem se sentir ‘desconfortáveis’ com delações, diz presidente, que mantém ‘critério de corte’
 
O presidente Michel Temer afirmou ontem que alguns ministros citados nas delações da Odebrecht podem se sentir “desconfortáveis” e deixar voluntariamente o governo. Apesar de repetir que só afastará quem for alvo de denúncia formal do Ministério Público, Temer admitiu a possibilidade da saída de auxiliares por iniciativa própria.
 

“É muito provável que alguns ministros fiquem desconfortáveis e peçam para sair do cargo”, disse o presidente, em entrevista à Rádio Jovem Pan.

Oito dos 28 ministros respondem a inquéritos autorizados na semana passada pelo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. No Palácio do Planalto, aliados interpretaram a frase de Temer como um recado de que ele espera pedidos de demissão de quem causar ainda mais desgaste ao governo.

Mesmo assim, o presidente disse que seguirá a linha de corte estabelecida em fevereiro, pela qual só afastará – e de forma temporária – quem for denunciado pelo MP. Por esse critério, a demissão ocorrerá apenas quando o acusado virar réu.

“Não vou demitir simplesmente porque alguém falou. É preciso provas robustas. Se vier a denúncia, não significa culpabilidade completa, mas terá fortíssimas indicações de que essa delação é correta”, argumentou.

Temer rebateu comentários de que seu governo pode chegar ao fim, em 2018, sem que denúncias sejam apresentadas. “A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) está entrando com representação hoje (ontem) para acelerar as investigações. Por isso, não creio que as denúncias venham só no ano que vem. Acho que virão rápido. E o governo está interessado em que tudo seja feito da forma mais rápida possível”, afirmou.

A estratégia traçada pelo Planalto para enfrentar a crise política consiste em intensificar as entrevistas do presidente a rádios e TVs. A ordem é mostrar que o governo não está acuado e que há um esforço para aprovar a reforma da Previdência.

A situação mais delicada é a do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que conduz as negociações da reforma da Previdência com o Congresso.

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Cunha rebate presidente sobre impeachment

 Erich Decat

18/04/2017

 

 

Em carta escrita do próprio punho, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, afirma que o parecer do processo de impeachment de Dilma Rousseff foi submetido, antes da abertura, ao presidente Michel Temer.

Cunha diz que Temer não falou, em entrevista no sábado, a “verdade” sobre o ocorrido em encontro dois dias antes da abertura do processo de afastamento da petista.

No sábado, Temer foi questionado sobre o papel de Cunha no impeachment e disse que ambos teriam conversado a respeito do encaminhamento na Câmara – e que Cunha dizia que arquivaria os pedidos se tivesse os votos do PT no Conselho de Ética. Cunha, por outro lado, afirma que Temer teve acesso ao parecer e deu aval sobre o conteúdo.

O deputado cassado também afirma que Temer se “equivocou nos detalhes” quando tratou de encontro com o ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva. Em delação, Silva diz que o presidente comandou reunião de acerto de propina de US$ 40 milhões, marcada por Cunha. O presidente nega.

O deputado cassado nega ter marcado o encontro, mas não contesta a versão de que não se falou de valores. O Palácio do Planalto informou que não vai se manifestar. / ERICH DECAT

 

‘Estarrecedoras’. Embora admita que as delações são “estarrecedoras”, Temer procurou minimizar os impactos da Lava Jato. “O Brasil não pode parar. Temos reformas pela frente. (As delações) são estarrecedoras, mas não podem ser fator de paralisia.” Questionado sobre um possível “acordão” para interromper a Lava Jato, que estaria sendo discutido com sua participação, e também dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, Temer negou tratativas nesse sentido. / ELIZABETH LOPES, VERA ROSA, TÂNIA MONTEIRO e CARLA ARAÚJO

 

Provas robustas

“Não vou demitir porque alguém falou. É preciso provas robustas. Se vier a denúncia, não significa a culpabilidade completa, mas terá fortíssimas indicações.”

Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O Estado de São Paulo, n.45108 , 18/04/2017. POLÍTICA, p. A7