Executivo aponta propina para Serra em obra do Metrô

Julia Affonso / Ricardo Brandt / Fábio Serapião / Fabio Fabrini

14/04/2017
 
 

 

A DELAÇÃO DA ODEBRECHT / Fabio Gandolfo, um dos delatores da Odebrecht, diz que senador do PSDB recebeu R$ 4,67 milhões; tucano vê conteúdo ‘fantasioso’
 
 

 

o executivo Fabio Gandolfo, um dos delatores da Odebrecht na Operação Lava Jato, afirmou que o senador José Serra (PSDB-SP) recebeu propina de R$ 4,67 milhões em 2004 sobre obras da Linha 2- Verde do Metrô de São Paulo.

O valor, repassado sob os codinomes “Vizinho” e “Careca”, era, segundo o delator, parte de um “compromisso” de 3% do contrato do transporte paulista.

“O Vizinho eu consegui detectar só R$ 4,67 milhões”, afirmou o delator. “Esse codinome Vizinho, estou falando de 2004, 2006, ele ficou meio conhecido dentro da empresa nas pessoas que tinham atividade complementar, de fazer programação.

O Vizinho ficou meio conhecido como Serra. A gente sabia.” A Procuradoria da República questionou Gandolfo se “compromisso” era sinônimo de propina.

“Propina, propina”, respondeu o executivo.

Segundo Gandolfo, o “compromisso” havia sido assumido pelo executivo Romildo José dos Santos, então assessor de Benedicto Júnior em São Paulo.

Conhecido como BJ, ele foi diretor da Odebrecht Infraestrutura e também é delator do grupo.

Gandolfo prestou depoimento no dia 15 de dezembro do ano passado, na sede da procuradoria em Mato Grosso do Sul. “Logo no início do contrato da Linha 2, ele (Romildo) me veio dizendo que tinha um compromisso da empresa com uma determinada pessoa. E que a gente deveria pagar 3%. Não seriam pagamentos regulares, mensais.

Seriam pedidos à medida que fosse necessário. Foi dado o codinome para essa pessoa de Careca. No começo não teve nenhum pagamento. Em 2004, teve algum pagamento”, afirmou.

“Eu vim a descobrir que esse codinome não era o usual que se usava dentro da empresa. O codinome que se usava era Vizinho.

Por quê? Porque ele morava perto do diretor na época da Odebrecht, Pedro Novis. Era vizinho do Pedro Novis, por isso Vizinho. Eu imaginava que era Careca, porque ele era careca. É o José Serra. Foi me dito depois que era o José Serra. Nunca me disseram que era o José Serra na pessoa física. Disseram que era o José Serra que coordenava a parte de arrecadação ou tinha relação.

Esse é diferente. Esse eu programava, eu nunca pagava”, disse.

O delator afirmou ainda que a propina saiu do contrato da Linha 2 do Metrô em 2006. “O contrato do lote 2 terminou quando eu estava lá. O do lote 3 se estendeu.

Eu não sei se foi pago (a Serra) depois mais coisa.” De acordo com Gandolfo, em cima do contrato havia diferentes porcentuais a serem pagos.

“Era como se fosse assim, você fechava: eu tenho direito a um limite de 4%. É o que eu posso gastar. No caso dos 3% (a Serra), como não era eu que determinava quanto, eles me pediam.

Eu só programava. Agora nesse ano precisa de cinco parcelas de R$ 500 mil. Eu programava e esse dinheiro era entregue não sei a quem”, afirmou.

 

Defesas. Em nota, a defesa de Serra disse que o senador “reitera que não cometeu irregularidades em sua longa vida pública, que sempre foi pautada pela lisura, ética e transparência”.

“A abertura do inquérito pelo Supremo Tribunal Federal servirá como oportunidade para demonstrar que as acusações e o conteúdo das delações são fantasiosos e infundados”, concluiu o texto.

Já a Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo afirmou, também em nota, que “acompanha com atenção a divulgação dos conteúdos das delações”. “Em casos que possam envolver pessoas de seus quadros, a STM ressalta que é a maior interessada no avanço e resolução dos processos, pois preza pela transparência de seus trabalhos e exige de seus funcionários uma conduta ética condizente com os mais elevados padrões do serviço público do Estado. No caso da participação efetiva de funcionários públicos em qualquer tipo de crime, a posição da STM é clara: que se aplique a lei, que sejam julgados e, se condenados, punidos.” 

 

Codinome. Segundo executivo da empreiteira, Serra era conhecido como ‘Vizinho’ e ‘Careca’

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Lobão recebeu R$ 5,5 mi para rever leilão de Jirau, diz diretor

André Borges e Fábio Serapião
 
14/04/2017
 
 
 
Executivo da área de energia da Odebrecht afirma que ex-ministro ‘precisava de propina’ para ajudar empreiteira

 

 

O ex-ministro de Minas e Energia e senador Edison Lobão (PMDB-MA) é acusado de ter recebido R$ 5,5 milhões em propina da Odebrecht com o propósito de rever o resultado do leilão da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, para que a empreiteira de Marcelo Odebrecht assumisse o empreendimento.

Lobão, que recebe o nome de “Esquálido” nas planilhas do departamento de propinas da empreiteira, teria cobrado uma contrapartida após reunião com os executivos da Odebrecht.

“Ele sinalizava que iria nos ajudar. E que precisava de nossa ajuda, de propina”, disse o delator Henrique Serrano do Prado Valadares, ex-executivo na área de energia da empresa.

“Marcelo acreditou nisso.

Sem que ele (Lobão) entregasse nada, simplesmente para que ele fizesse um esforço de, usando nossos argumentos, que eram verdadeiros e absolutamente legais, ele criasse um contraponto na Casa Civil, para isso surgiu um pagamento de R$ 5,5 milhões. Com certeza, caixa 2”, afirmou o delator.

 

Disputa. O caso se deu em 2008. A Odebrecht liderava um consórcio que disputava a usina e ameaçava ir à Justiça para questionar a proposta do consórcio vencedor do leilão, Energia Sustentável do Brasil, liderado pela empresa Suez. “Havia reuniões entre as empresas.

Marcelo perdia a cabeça com o cinismo do pessoal da Suez e queria bater no cara”, afirmou o delator, referindo-se ao presidente do grupo Suez no Brasil, Maurício Bähr.

Para Marcelo Odebrecht, a Suez teria feito um acordo com a Casa Civil para permanecer no negócio. Maurício Bähr teria “jurado pelos filhos” que não tinha feito acordo nenhum. “O Marcelo chegou para ele e disse: Maurício, você está sendo patético”, contou o delator, acrescentando que Lobão chegou a apartar os dois.

O pagamento da propina, afirmou Valadares, foi feito em algumas ocasiões, com entrega de dinheiro diretamente na casa do filho de Lobão, Márcio Lobão, no Rio de Janeiro. Em fevereiro deste ano, a Polícia Federal fez busca e apreensão na residência de Márcio.

Sobre o ex-senador Lobão Filho (PMDB-MA), o delator afirmou que, em encontros em São Paulo, ele falava que podia ajudar a Odebrecht em obras, mas que isso exigia contrapartidas da empreiteira.

 

Defesa. Em nota, por meio de seus advogados, o senador Edison Lobão afirmou que “repudia mais uma vez o reiterado vazamento de informações sigilosas e esclarece que está buscando o devido acesso legítimo e oficial a tais documentos perante o STF.” 

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Hilberto cita R$ 37 mi para marqueteiros

Julia Affonso / Ricardo Brandt / Fábio Serapião / Luiz Vassalo

14/04/2017

 

 

O delator Hilberto Mascarenhas, ex-executivo da Odebrecht, que chefiava o chamado “departamento da propina” do grupo, afirmou à Operação Lava Jato que “Açougueiro” pagou R$ 37 milhões ao casal de marqueteiros do PT João Santana e Monica Moura. O valor, segundo o ex-executivo, inicialmente seria repassado pela empreiteira.

Mascarenhas prestou depoimento à Lava Jato no dia 15 de dezembro do ano passado.

Questionado sobre quem seria o “Açougueiro”, porém, o exexecutivo disse não saber. “Não sei. Eu fiz uma ilação, acho até de certa forma sem nenhuma base, que seria algum executivo da JBS”, afirmou.

A referência ao pagamento consta de e-mail trocado por executivos da Odebrecht em 5 de julho de 2014. A mensagem foi enviada por Marcelo Odebrecht, então presidente do grupo, para Alexandrino Alencar, com cópia para Cláudio Melo Filho, Hilberto Mascarenhas, Luiz Bueno e Benedicto Júnior, todos executivos da empreiteira na época.

 

Homologação. No início do mês, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Lato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou as delações premiadas de João Santana, Monica Moura e do funcionário do casal André Reis Santana. A homologação do acordo foi feita pelo ministro porque os delatores citaram em seus relatos políticos com foro privilegiado.