Ex-executivo relata propina de R$ 50 mi a Aécio no exterior 

 Fábio Fabrini Isadora Peron

15/04/2017
 
 
Delator diz que pagamento era para que ele defendesse interesses da empreiteira em obras de hidrelétricas; senador nega irregularidades

Delatores da Odebrecht relataram à Procuradoria-Geral da República que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), recebeu no exterior R$ 50 milhões pagos como propina para que ele defendesse os interesses da empreiteira nas usinas hidrelétricas do Rio Madeira, Jirau e Santo Antônio. O caso está sendo investigado em um dos cinco inquéritos contra o tucano, autorizados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-executivo da empreiteira Henrique Valladares afirmou que o “cronograma de pagamento” feito a “Mineirinho”, codinome atribuído a Aécio, foi em parcelas que variavam de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões. Ele disse que o roteiro para os repasses foi fornecido pelo ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, aliado do tucano e chamado por ele de “operador do PSDB”.

A maioria dos depósitos teria sido feita em uma conta em Cingapura controlada por Alexandre Accioly, empresário amigo de Aécio, que é dono da rede de academias Bodytech. Valladares contou que, no total, as propinas pagas a agentes públicos, referentes às usinas, somaram R$ 120 milhões.

O empresário Marcelo Odebrecht relatou que o valor foi acertado com Aécio em uma reunião no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador de Minas, em maio de 2008, quando o tucano ainda comandava o Estado. Pelo combinado, a Odebrecht teria que pagar R$ 30 milhões e a Andrade Gutierrez, R$ 20 milhões.

O objetivo dos pagamentos seria conseguir apoio de Aécio no relacionamento com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), controlada pelo governo de Minas. A estatal e a Odebrecht integraram o consórcio que venceu a licitação para as obras de Santo Antônio.

Marcelo disse que os “vultosos repasses financeiros” foram feitos ao senador e seus aliados porque Aécio “sempre teve forte influência na área de energia”.

Aécio foi citado por ao menos cinco colaboradores da Odebrecht como o autor de pedidos de propina e caixa 2, entre 2008 e 2014. Somados, os valores mencionados pelos colaboradores alcançam R$ 89,5 milhões. A PGR, embora sustente haver indícios suficientes de que o tucano se envolveu em corrupção, fraude a licitações e desvio de recursos públicos, ainda não tem clareza sobre a cifra total que teria sido paga a ele e a aliados.

Conforme os delatores, os pagamentos supostamente solicitados por Aécio foram feitos também em espécie a intermediários. “A Odebrecht mantinha um histórico de relacionamento com o senador, pautado na oferta de valores em troca de benefícios ilícitos”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas colaborações e nas provas apresentadas pelos depoentes.

Defesa. Em nota, o PSDB sustentou que “são totalmente falsas as acusações feitas pelo delator”. “O senador Aécio Neves não recebeu recursos ilícitos e aguarda a identificação das supostas contas citadas para desmascarar mais essa mentira.”

O partido afirmou que, “apesar de os delatores terem enfatizado que pretensas doações mencionadas ao senador não envolveram nenhum tipo de ato ilícito, contrapartidas, corrupção ou propina, o fato é que elas não existiram”.

“A afirmativa sobre a Cemig feita por Marcelo Odebrecht não faz sentido. A empresa Andrade Gutierrez se tornou sócia da Cemig apenas em agosto de 2010, após comprar a participação do BNDES, do governo federal, na empresa mineira. Nessa época, o senador Aécio Neves não era mais governador de Minas.” Sobre a soma dos valores citados pelos colaboradores, a assessoria de Aécio disse, em nota, que “não foi apresentada nenhuma prova que vincule o senador a nenhum ato ilícito”.

O Estado não localizou Accioly e Dimas Toledo até a conclusão desta edição.

Delator diz que planilha lista caixa 2 a Alckmin

 

O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Silva Junior entregou à Operação Lava Jato cópias dos registros de supostos pagamentos de caixa 2 para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), nas planilhas do Setor de Operações Estruturadas – chamado de “departamento de propinas”.

Os documentos foram apresentados para corroborar o que disseram três delatores da Odebrecht.

Além de BJ, outros dois delatores, Carlos Armando Pachoal e Arnaldo Cumplido de Souza e Silva, citaram os pagamentos de caixa 2 para as campanhas de Alckmin.

Os ex-executivos afirmaram que acertaram e efetuaram pagamentos para as campanhas de 2010 – de R$ 2 milhões, para o codinome “Belém” –, e de 2014 – de R$ 8,3 milhões, para o codinome “M&M”. Os R$ 2 milhões foram, segundo os delatores, para Adhemar César Ribeiro, cunhado de Alckmin.

Paschoal afirmou que foi a um reunião com Aluizio Araújo – conselheiro do grupo, que morreu em 2014 – e com Alckmin em um escritório na Avenida 9 de Julho, na capital paulista.

“Encerrado o encontro, Geraldo Alckmin determinou pessoalmente à sua secretária que me passasse os dados de contato de Adhemar Ribeiro, seu cunhado, o qual seria incumbido dos recebimentos.” O caso foi enviado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Lava Jato, para o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

“M&M”, segundo o delator, pode ser referência ao nome de Marcos Monteiro, apontado como interlocutor de Alckmin no suposto acerto da doação de R$ 10 milhões para a campanha de 2014. Monteiro era, na época, titular da Imprensa Oficial do Estado.

Atualmente ele é secretário estadual de Planejamento.

O valor pago efetivamente, conforme a delação da empreiteira, foi de R$ 8,3 milhões.

Nas planilhas há também registro de datas, senhas usadas supostamente para o recebimento dos valores e referências às obras da Linhas 6 do Metrô.

 

O Estado de São Paulo, n. 45105, 15/04/2017. Política, p. A6