Jucá ironiza acusação de compra de MP

Elizabeth Lopes e Luana Pavani

15/04/2017

 

 

‘Por R$ 150 mil não se vende medida provisória nem na feira do Paraguai’, afirma líder do governo no Senado, citado por delator

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ironizou ontem a acusação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho de que seu filho, Rodrigo Jucá (PMDB-RR), recebeu R$ 150 mil do “departamento de propina” da empreiteira em 2014, quando concorreu como vice na chapa derrotada do então governador de Roraima Chico Rodrigues (PSB). O peemedebista teria recebido dinheiro em troca da aprovação de medidas de interesse da empresa no Congresso.

“Não tem sentido alguém pensar que vai se vender aqui uma medida provisória por R$ 150 mil. (Por) R$ 150 mil não se vende medida provisória nem na feira do Paraguai”, disse Jucá, em entrevista à rádio CBN.

“É uma piada dizer um negócio desse e sabendo da relação que tenho com a classe econômica do Brasil. Eu tenho uma relação consistente de discussão econômica com as grandes empresas, as centrais sindicais, porque eu sou respeitado aqui. Jamais eu faria um absurdo desse”, disse.

Citado em cinco inquéritos, Jucá, que é presidente do PMDB, está entre os políticos que vão ser investigados no Supremo Tribunal Federal por determinação do ministro Edson Fachin.

O senador disse ainda que está tranquilo e espera responder o mais rápido possível a todas as declarações dos delatores.

Afirmou também que, como presidente do PMDB, pode dizer que todas as doações às campanhas do partido foram legais.

Ministro

O delator Mário Silveira disse que o ministro Helder Barbalho (PMDB), então candidato ao governo do Pará em 2014, pediu R$ 30 milhões, mas recebeu R$ 1,5 milhão via caixa 2. Helder negou irregularidades.

‘Moreira deixou a Caixa por não saber arrecadar’

 

O ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis relatou uma conversa com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso em Curitiba, na qual o então deputado atribuiu a substituição do atual ministro da Secretaria- Geral da Presidência, Moreira Franco, na cúpula da Caixa à sua incapacidade de arrecadar recursos para o PMDB como dirigente do banco.

“Ele (Cunha) me disse claramente que estava substituindo o senhor Moreira Franco pelo Fábio Cleto porque o FI (Fundo de Investimento do FGTS) era uma fonte importante para o partido e o senhor Moreira Franco não estava sabendo arrecadar para o PMDB a partir das operações do FI-FGTS”, disse Reis. Segundo ele, a conversa com Cunha, em meados de 2011, “deixou claro que a nomeação de Cleto tinha cunho de arrecadação político-partidária”.

Moreira foi, até 2010, vice presidente de Fundos e Loterias da Caixa, por indicação do PMDB. Em 2011, foi sucedido por Cleto, apadrinhado de Cunha.

Cleto fez delação na Lava Jato e relatou esquema de cobrança de propina em troca da liberação de recursos do fundo.

Procurado anteontem e ontem, via assessoria, Moreira não se pronunciou. Em nota, a Caixa disse cooperar de forma “irrestrita” com as autoridades. 

 

O Estado de São Paulo, n. 45105, 15/04/2017. Política, p. A6