Lula queria passar festas em triplex, diz empreiteiro

Ricardo Brandt Luiz Vassallo

22/04/2017
 
 
Léo Pinheiro afirma a Moro que dona Marisa Letícia, morta em fevereiro, perguntou se imóvel ficaria pronto para as comemorações de 2014

O ex-presidente da construtora OAS Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, afirmou ao juiz federal Sérgio Moro que o casal Luiz Inácio Lula da Silva e Marisa Letícia, morta em fevereiro deste ano, planejava passar as festas de fim de ano de 2014 no triplex de Guarujá, na Baixada Santista.

O empreiteiro afirmou anteontem ao juiz que o imóvel foi comprado e reformado pela OAS para favorecer o ex-presidente.

Para o Ministério Público Federal (MPF), o triplex foi repassado ao petista como forma de propina por contratos com a Petrobrás.

“Dona Marisa fez um pedido: ‘Nós gostaríamos de passar as festas de fim de ano aqui no apartamento. Teria condições de estar pronto?’”, relatou Pinheiro ao juiz federal, responsável pelo julgamento da Lava Jato em primeira instância.

A denúncia do MPF afirma que Lula recebeu da empreiteira R$ 3,7 milhões em benefício próprio. O imóvel era da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), mas, após dificuldade financeira, o empreendimento foi repassado à OAS.

Dona Marisa chegou a adquirir a opção de compra do triplex após a conclusão da obra ou a restituição do capital investido.

No depoimento de anteontem, Pinheiro reiterou a Moro a acusação da Justiça. “O apartamento era do presidente Lula.

Desde o dia que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop, já foi me dito que era do Lula e sua família e que eu não comercializasse e tratasse daquilo como propriedade do presidente.” Pinheiro disse ainda que Lula o mandou destruir provas.

Defesa. Em nota, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou que o depoimento foi um acordo para sair da prisão.

“Léo Pinheiro contou uma versão acordada com o MPF como pressuposto para aceitação de uma delação premiada.” Segundo Martins, “a afirmação de que o triplex pertenceria a Lula é também incompatível com relatórios feitos por diversas empresas de auditoria e com documentos, alguns deles assinados por Pinheiro, anexados ao processo de recuperação judicial da OAS, que indicam o apartamento como ativo da empresa”.

O advogado disse que Pinheiro não soube responder “sobre diversos aspectos dos três contratos que foram firmados entre a OAS e a Petrobrás e que teriam relação com a suposta entrega do apartamento a Lula”.

 

Debate sobre corrupção deve ser adiado no PT

As novas denúncias envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reveladas pela chamada lista de Fachin e pela delação do empreiteiro José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, da OAS, devem adiar mais uma vez o debate profundo no PT sobre corrupção.

Desde que o escândalo do mensalão eclodiu, em 2005, setores do PT tentam discutir a fundo a questão da corrupção no partido, mas as tentativas sempre foram barradas. Havia a expectativa de que, com a ampliação da crise provocada pela Operação Lava Jato, o 6.º Congresso do PT, marcado para o início de junho, fosse finalmente o palco desta discussão.

Lideranças importantes como o ex-ministro Tarso Genro e o presidente do PT, Rui Falcão, defenderam em entrevistas, no ano passado, que o partido separasse quem agiu em nome da legenda, como o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, dos acusados de enriquecimento pessoal, como os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci.

Segundo fontes petistas, o teor das novas denúncias contra Lula, que incluem ajuda a filho, sobrinho, irmão, além de confortos pessoais como a reforma do sítio em Atibaia e o triplex do Guarujá, causam grande embaraço ao partido, que já não tem mais a possibilidade de “separar o joio do trigo” sem atingir sua principal liderança. Ao contrário, a tendência é de que o 6.º Congresso Nacional do PT deixe o combate à corrupção em segundo plano e se transforme em um grande ato de defesa de Lula.

“Qualquer manifestação sobre isso só será viável depois que forem esclarecidos os vazamentos seletivos, que foram feitos até agora, que tem obstruído o direito de defesa do presidente e a visível indução de várias delações premiadas, pela quais foram feitos intercâmbios de incriminação em troca de reduções de pena. A forma de ‘exceção’, com que estão sendo conduzidos os inquéritos e os processos não autorizam uma opinião responsável sobre estes assuntos”, disse Tarso.

 

O Estado de São Paulo, n. 45112, 22/04/2017. Política, p. A5