Título: Euro provoca debate
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Fonte: Correio Braziliense, 27/12/2011, Economia, p. 11
Berlim — Os europeus têm sentimentos ambivalentes em relação ao euro, que completa dez anos em meio à maior crise econômica já vivida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Imprescindível na vida diária e elogiado por seus aspectos práticos, ele também é associado à alta de preços e a uma nostalgia da antigas moedas alimentada pela atual turbulência.
Nas ruas de Madri, Paris ou Bratislava, o tema é recorrente: o euro encareceu o custo de vida. "Um caramelo custava 1,5 franco há dez anos. E agora custa 2 euros!", queixa-se Viviane Vangic, de 37 anos, no centro de Paris. "Desde que o euro chegou à França, perdemos nosso poder aquisitivo", complementa. "Quando passamos para o euro, o que custava 100 pesetas passou a custar um euro, ou seja, 160 pesetas", concorda María Angeles, em Madri.
As estatísticas, no entanto, contradizerem a tese que liga uma inflação anormal à passagem para a nova moeda —– os preços aumentaram em média 2% ao ano na Zona do Euro nos últimos dez anos. Mesmo assim, a ideia persiste, principalmente entre os europeus nostálgicos de sua antiga moeda. Elena, uma aposentada de 72 anos de Bratislava, na Eslovênia, diz continuar "contando em coroas quando faz compras". No entanto, nos países que escolheram ter a moeda única na primeira onda, em janeiro de 2002, o euro é a moeda com que cresceram todos os jovens e que faz parte de suas vidas. "Já nem sei fazer a conversão! Conto tudo em euros", afirma Stephanie Jourdain, uma parisiense de 23 anos.
Poder passar de um país para o outro sem ter que trocar de moeda é uma das grandes vantagens. "Os euros são muito mais práticos quando se viaja", declara Anni Raudsepp, dona de casa estoniana de 54 anos. Seu país foi o último a aderir à união monetária, no início deste ano. O euro é também o perfeito bode expiatório nesses tempos de crise, desaceleração econômica e cortes orçamentários.
Na Espanha, 70% da população considera que a divisa não ajudou em nada, segundo uma pesquisa recente. "Para mim, é a pior coisa que nos aconteceu", lamenta María Angeles, de Madri. "Estamos arruinados." Na Grécia, no entanto, epicentro da crise e em plena recessão, a nostalgia em relação à moeda anterior é menor. "Se voltarmos ao dracma, cairemos na pobreza. Não faz nenhum sentido", afirma Angeliki, uma aposentada de Atenas.