Para Meirelles, mudanças acabaram

Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli

19/04/2017

 

 

O DESAFIO DA PREVIDÊNCIA / Congresso ainda pressiona por novas alterações no projeto; ministro acredita que acordo com mulheres vai garantir aprovação da reforma

 

 

Depois de aceitar novas flexibilizações na proposta de reforma da Previdência, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, avisou ontem em entrevista ao ‘Estado’ que não há mais “muita margem” para nenhum tipo de mudança no relatório do deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA).

O ministro tenta estancar a pressão que continua no Congresso para que novas mudanças sejam atendidas, o que pode colocar em risco boa parte da economia de despesas prevista depois que a reforma for aprovada.

É que a redução na idade mínima das mulheres de 65 anos para 62 anos – um dos itens considerados inegociáveis pelo governo no início do processo – aumentou a percepção de risco de que a proposta original seja desfigurada até a votação final.

Para rebater a repercussão negativa, Meirelles disse que o acordo fechado em torno do parecer de Maia preserva uma reforma com efeitos por um longo período de tempo. “É uma reforma para o longo prazo no País, ficando dentro do patamar estabelecido no relatório.” Pelos cálculos iniciais, a perda de economia, em relação à proposta original, ficará entre 20% e 30%. “Mais próximo de 20%”, ressaltou o ministro. Ele confirmou que a perda ficará próxima de R$ 170 bilhões, como informou o relator. Mas argumentou que não se trata de número “preciso”, mas de uma “referência”. A Fazenda prepara uma nota técnica para detalhar o impacto das mudanças.

“Fechado o relatório, há uma posição já consolidada. O momento da mudança é agora”, disse o ministro. Ele está confiante em que as negociações feitas para aprovação da proposta tenham conseguido aplacar as maiores resistências à reforma e vão garantir os votos necessários para a sua aprovação.

Para Meirelles, a redução para 62 anos da idade mínima de aposentadoria das mulheres visou a garantir os votos para a aprovação da medida. O acordo, disse, é que a bancada de deputadas da base do governo vote a favor do parecer. “É importante mencionar que (o acordo) não é abrir mão. Representa uma negociação com o Congresso, que é parte do regime democrático.

O Congresso tem a última palavra”, disse. “Tem cerca de 40 deputadas na base, que representam de fato a posição majoritária.”

 

Ainda não. Os votos da bancada, no entanto, ainda não estão totalmente garantidos. As deputadas ainda querem discutir alterações nas regras para as trabalhadoras rurais. “Se a gente tem dupla jornada, imagina as trabalhadoras rurais”, disse a coordenadora da bancada, deputada Soraya Santos (PMDB-RJ).

Pela proposta, as mulheres que trabalham no campo poderão se aposentar com 60 anos (mesma idade de homens na mesma condição).

“Estamos vencendo vários pontos. Temos um movimento, sim, de atendimento, como a questão da desvinculação do salário mínimo do BPC, já foi atendido.

Tínhamos a questão das professoras e já foi acolhido. Tudo está caminhando para que tenhamos um compromisso final de votação, mas ainda não tem 100%”, disse Soraya, que vai se reunir hoje à tarde com a bancada para definir os pontos a serem discutidos.

Segundo ela, a diferenciação da idade entre homens e mulheres está em todas as constituições.

“Essa diferença foi feita para chamar a atenção de uma dívida que o Brasil tem com ele mesmo.” 

 

Mulheres

“O acordo não é abrir mão. Representa uma negociação com o Congresso, que é parte do regime democrático. O Congresso tem a última palavra. Tem cerca de 40 deputadas na base, que representam de fato a posição majoritária.”

Henrique Meirelles

MINISTRO DA FAZENDA

_______________________________________________________________________________________________________________________

Policiais protestam contra mudanças

Igor Gadelha / Adriana Fernandes / Idiana Tomazelli / Daiene Cardoso / Eduardo Rodrigues

19/04/2017

 

 

Policiais civis tentaram ontem invadir a Câmara dos Deputados; juízes também se posicionaram contra a proposta
 

 

Policiais e juízes reagiram ontem ao parecer do relator da reforma da Previdência na Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA). Em protesto contra a proposta, policiais civis tentaram invadir a Casa, em manifestação que terminou com quebra- quebra na chapelaria do Congresso, principal entrada do Legislativo.

O protesto começou no gramado em frente ao Congresso, onde os policiais fincaram cruzes. De lá, manifestantes avançaram em direção à Câmara.

Impedidos de entrar, quebraram as vidraças da chapelaria.

Policiais legislativos reagiram com bombas de gás e spray de pimenta.

Depois, policiais subiram a rampa do Congresso para tentar invadir o Salão Negro. A tropa de choque da Polícia Legislativa conseguiu conter o grupo fora do prédio. Os manifestantes eram de sindicatos da Polícia Civil de pelo menos quatro Estados: Minas, Ceará, Espírito Santo e Santa Catarina.

Durante o protesto, o relator da reforma se reuniu na Câmara com representantes dos policiais para discutir as regras para a categoria. Maia acabou cedendo à pressão e desistiu da ideia de estabelecer idade mínima de 60 anos para aposentadoria de policiais, que atualmente não têm idade mínima.

O relator disse que estava analisando proposta para estabelecer idade mínima de 55 anos para policiais. Depois, em período não definido, essa idade mínima seria vinculada à que será estabelecida para os militares, na reforma da Previdência da categoria que o governo promete enviar ao Congresso em maio.

O deputado afirmou que a questão do pagamento integral da aposentadoria de policiais ainda estava em discussão. Hoje, a categoria tem direito a seu salário integral no momento da aposentadoria (menos os que ingressaram depois de 2013), mas a reforma da Previdência acaba com essa previsão.

 

Judiciário. Frente de entidades de representantes de juízes e do Ministério Público, a Frentas, divulgou nota oficial de protesto ao relatório, dizendo que é inconstitucional a proposta de estabelecer regra de transição para aposentadoria de servidores públicos que entraram no serviço público antes de 2003.

Os magistrados e procuradores pediram que o relator altere o parecer. “E, para além da injustiça profunda mantida contra os servidores públicos, não se sustentará perante o Poder Judiciário, fique alerta o País disso.” Eles reclamam que, enquanto outros trabalhadores públicos e privados teriam transição de até 20 anos para nova idade mínima, os servidores teriam ônus de transição “abrupta, irracional e injustificável”.

_______________________________________________________________________________________________________________________

Na comissão, aprovação de relatório ainda não é garantida

Bernardo Gonzaga / Carolina Werneck / Isabella Macedo / Liana Costa

19/04/2017

 

 

Levantamento feito pelo Estado mostra 12 votos a favor e 11 contrários; sete deputados não quiseram dizer o voto
 

 

Mesmo após o anúncio das flexibilizações pelo relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), o governo ainda não tinha ontem a garantia de que terá os votos necessários para aprovar o novo texto na comissão especial. Levantamento feito pelo Estado apontou que 12 integrantes da comissão afirmaram que vão votar a favor do novo texto. Outros 11 se declararam contrários ao parecer, mesmo após as alterações já anunciadas. Outros sete parlamentares não quiseram abrir o voto. O Estado não conseguiu localizar cinco.

Para ser aprovado na comissão, o parecer precisa da maioria dos votos dos presentes na sessão, desde que haja quórum de no mínimo 19 parlamentares.

A leitura do relatório está marcada para hoje, mas a votação só deve ocorrer na semana que vem.

Até mesmo deputados de partidos da base aliada dizem que ainda são contrários à versão mais suave da reforma. É o caso de Paulo Pereira da Silva (SDSP), o Paulinho da Força, Givaldo Carimbão (PHS-AL) e Heitor Schuch (PSB-RS). Os três já se opunham à versão original da reforma, enviada pelo governo Michel Temer, no Placar da Previdência, elaborado pelo Grupo Estado.

Os outros oito votos contrários são todos da oposição: Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Assis do Couto (PDT-PR), Ivan Valente (PSOL-SP), Assis Carvalho (PT-PI), Pepe Vargas (PTRS), Arlindo Chinaglia (PTSP), José Mentor (PT-SP) e Alessandro Molon (Rede-RJ).

Somente o deputado Giuseppe Vecci (PSDB-GO), que tinha se declarado indeciso na primeira rodada do Placar da Previdência, mudou de opinião e agora diz que votará a favor. Os demais deputados que votarão “sim” já tinham manifestado a mesma posição antes. Todos eles são de partidos da base do governo: Pauderney Avelino (DEM-AM), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Lelo Coimbra (PMDB-ES), Carlos Marun (PMDB-MS), Mauro Pereira (PMDB-RS), Maia Filho (PPPI), Julio Lopes (PP-RJ), Bilac Pinto (PR-MG), Thiago Peixoto (PSD-GO), Reinhold Stephanes (PSD-PR) e Marcus Pestana (PSDB-MG).

Os deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Eduardo Barbosa (PSDB-MG) e Professor Victório Galli (PSC-MT) tinham se posicionado contrários à primeira versão da reforma e agora não quiseram responder. Por outro lado, Adail Carneiro (PPCE), que tinha votado a favor no primeiro Placar da Previdência, agora não quis responder.

Também não declararam o voto Evandro Gussi (PV-SP), Alexandre Baldy (PTN-GO) e Vinicius Carvalho (PRB-SP), que antes se disseram indecisos.

O Estado não localizou Magda Mofatto (PR-GO), Erivelton Santana (PEN-BA), Darcísio Perondi (PMDB-RS), que eram todos favoráveis na primeira rodada do Placar. Eros Biondini (PROS-MG) e Bebeto (PSBBA) também não foram encontrados, mas antes disseram à equipe do Grupo Estado que eram contra a reforma. 

 

Quórum

50% mais um dos votos da comissão da reforma da Previdência é o número necessário para a aprovação do projeto de reforma, desde que pelo menos 19 deputados estejam presentes

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45109, 19/04/2017. Economia, p. B3.