Título: Aperto em 2013
Autor: Caprioli, Gabriel ; Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 23/12/2011, Economia, p. 10

O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Carlos Hamilton Araújo, admitiu que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá voltar a subir a taxa básica de juros (Selic) no início de 2013, para controlar a escalada dos preços.

Embora as projeções do relatório trimestral de inflação, divulgado ontem, apontem para uma ligeira desaceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no primeiro semestre de 2013, Hamilton reconheceu que a aceleração da economia no fim de 2012 — prevista pela autoridade monetária — deverá pressionar a carestia na virada do ano.

"Nosso cenário contempla uma atividade mais forte da economia no fim de 2012. E, se temos uma atividade mais forte hoje, é razoável esperar que tenhamos uma inflação maior amanhã. Se for necessário, vai haver aumento na taxa de juros", avisou o diretor do BC.

Essa possibilidade contraria a expectativa dos empresários, de que a taxa básica de juros se mantenha declinante daqui para frente. Juros em alta inibem os planos de investimentos do setor privado e prejudicam a produção.

Para a economista da Consultoria Tendências Alessandra Ribeiro, essa foi a sinalização mais preocupante entre as emitidas pelo relatório da autoridade monetária. "Nossa análise bate com a do BC. Achamos que será necessário reverter o afrouxamento da taxa e que a crise externa, sozinha, não vai segurar a inflação", comentou.

Passageiro Na avaliação de Alessandra, a possibilidade de o BC voltar a elevar os juros no início de 2013 enfraquece o discurso do governo de que a queda da taxa Selic é uma questão estrutural, ligada a uma mudança de patamar da economia. "Parece que há uma tentativa da própria presidente Dilma Rousseff em mostrar que a queda dos juros veio para ficar, que é resultado de uma nova estrutura. Mas não é bem assim", detalhou.

Antes de reverter a estratégia monetária, em resposta ao descontrole inflacionário, o BC deverá atender o desejo da chefe do Executivo de ver a Selic em um dígito já no primeiro semestre do ano que vem. Se for confirmada a expectativa das 100 instituições ouvidas semanalmente pela autoridade monetária, a Selic cairá pelo menos 1,5 ponto percentual dos atuais 11% ao ano para 9,5%.

Mais otimista que a maior parte do mercado, o analista Felipe Queiroz, da agência de classificação de risco Austin Rating, aposta que a taxa Selic cairá ainda mais e alcançará os 9% ao do primeiro semestre de 2012. Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, prevê os juros em 9,5% em abril do ano que vem.(GC e CB)