Título: Juros em baixa e gasto maior para crescimento
Autor: Caprioli, Gabriel ; Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 23/12/2011, Economia, p. 10

Mesmo com risco de a inflação estourar o limite de 6,5% neste ano, o BC afrouxará política monetária e o Tesouro abrirá os cofres

O Palácio do Planalto partirá para o tudo ou nada com o objetivo de ampliar o ritmo de crescimento da economia em 2012 e cumprir o desejo da presidente Dilma Rousseff de fazer o país avançar pelo menos 4,5% — e, na melhor das hipóteses, 5%. Segundo o relatório trimestral de inflação divulgado ontem pelo Banco Central, o consumo do governo aumentará 3,2% no ano que vem ante os 2% de 2011. Isso significa dizer que o Tesouro Nacional abrirá os cofres para bancar os investimentos em infraestrutura que acabaram retidos neste ano. E mais: o Comitê de Política Monetária (Copom) continuará com o processo de redução da taxa básica de juros (Selic), apesar dos 54% de chance de a inflação deste ano estourar o teto da meta de 6,5% e de o mercado prever um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) bem distante do centro da meta, de 4,5%, em 2012.

Mesmo ciente da intenção do Planalto de reaquecer a economia, o BC preferiu manter os pés no chão. Reduziu a estimativa de expansão para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, de 3,5% para 3%, conforme antecipou o Correio em sua edição de sábado, e fixou em 3,5% a previsão para 2012. Quanto à inflação, a autoridade monetária elevou a perspectiva de alta de 6,4% para 6,5% em 2011 e manteve em 4,7% a projeção para o próximo ano (veja quadro). No entender do BC, mesmo que a atividade recupere o fôlego, sobretudo no segundo semestre de 2012, a crise externa tenderá a derrubar os preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional), ajudando a manter o IPCA muito próximo do centro da meta.

"O balanço de riscos nos mostra uma chance maior de recuo no ritmo da inflação do que de avanço. Nossa visão é de que a inflação continuará a desacelerar", garantiu o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo. Ele destacou que a revisão, para baixo, da estimativa de crescimento do PIB deste ano decorreu da estagnação da atividade no terceiro trimestre e da incerteza da economia internacional. Esse quadro, porém, deverá ser revertido no semestre do ano que vem, quando haverá a combinação de gastos mais elevados do governo, de crédito facilitado e de juros menores. Nesse contexto, a indústria tenderá a ganhar musculatura, especialmente por causa do setor automobilístico, ajudando a fazer a diferença para o resultado final do PIB.

Manobra Para José Luís Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), o BC acertou ao estimar 3,5% de crescimento para o próximo ano. "É uma projeção razoável. É verdade que a economia mundial está em ritmo menor. Mas o Brasil tem espaço de manobra tanto na política monetária quanto na fiscal para acomodar uma parte da desaceleração do crescimento", afirmou. O diretor de estudos e pesquisas econômicas do Banco Bradesco, Octavio de Barros, também considerou realista a projeção do BC para o PIB. "A trajetória esperada para a recuperação da economia doméstica mostra um cenário realista, compatível com uma aceleração ao longo do ano que vem, em ritmo sustentável", avaliou.

Enquanto a previsão de crescimento do BC para o ano que vem ainda encontra eco no mercado, que espera avanço em torno de 3,4%, o cenário de inflação apresentado no relatório não convenceu os analistas. "Acreditamos que a autoridade monetária continuará cortando a Selic e, se assim o fizer, não há como a inflação convergir para 4,5% em 2012. Nenhum modelo de nenhum analista chega a esse número", alertou Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. Para ela, o IPCA avançará 5,4% no próximo ano e só a crença em uma piora substancial na crise externa, como uma onda de calote de países e de quebra de bancos na Zona do Euro, justifica o quadro benigno traçado pelo BC.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, reforçou a análise e estima um reajuste médio de preços de 5,1% em 2012. "Essa hipótese (de uma piora acentuada no mercado internacional) faz sentido, embora não seja nosso pilar analítico central", destacou.