Palocci decide buscar delação na Lava Jato

Fausto Macedo Julia Affonso Ricardo Brandt

13/05/2017
 

 

 
Lava Jato. Ex-ministro, que já havia indicado um possível acordo, dispensa advogado contrário à colaboração; investigadores têm interesse em esclarecer relações com bancos

 

 

O ex-ministro Antonio Palocci decidiu negociar uma delação premiada com procuradores da Operação Lava Jato. O petista, que já havia indicado a possibilidade de colaborar com a Justiça, avançou ontem em direção a um acordo ao dispensar o criminalista José Roberto Batochio.

Preso desde setembro de 2016, o ex-ministro comunicou o advogado de que não precisaria mais dos seus serviços diante da promessa de que “muito em breve” poderá ganhar a liberdade.

A saída de Batochio da equipe de defesa teria sido uma “primeira exigência” da forçatarefa da Lava Jato. O criminalista é contrário a esse tipo de acordo e, nos últimos meses, tem feito críticas aos métodos do Ministério Público Federal.

O advogado de Curitiba Adriano Bretas, especialista em delação, já havia sido contratado por Palocci no fim de abril e vai, ao lado do colega Tracy Reinaldet, conduzir o acordo com os procuradores. Entre os clientes de Bretas está o doleiro Alberto Youssef, um dos primeiros colaboradores da Lava Jato.

Embora as negociações ainda não tenham sequer iniciado, o Estado apurou que investigadores têm interesse em esclarecimentos, pelo ex-ministro, da relação do esquema na Petrobrás com instituições financeiras e fundos de pensão e de investimentos, além de informações que possam ajudar nos inquéritos que apuram irregularidades nas obras da usina hidrelétrica de Belo Monte.

Em abril, quando foi interrogado pelo juiz Sérgio Moro, Palocci disse que tinha fatos importantes a revelar que poderiam esticar por mais um ano, pelo menos, os trabalhos da Lava Jato. “Fico à sua disposição hoje e em outros momentos, porque todos os nomes e situações que eu optei por não falar aqui estão à sua disposição o dia que o senhor quiser”, disse o petista a Moro na ocasião.

Palocci foi ministro da Fazenda no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e voltou ao governo, em 2011, como chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff. Nas duas passagens, era o interlocutor do governo com o empresariado.

Processo. O ex-ministro é réu em ações penais na 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, da qual Moro é responsável, por corrupção e lavagem de dinheiro.

No processo, ele é apontado como o “Italiano” que consta na planilha de pagamentos de propinas da empreiteira Odebrecht.

Os investigadores suspeitam que ele recebeu R$ 128 milhões da construtora e repassou parte do dinheiro ao PT.

Em sua delação premiada, o ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht apontou o exministro como o operador da conta corrente que a empreiteira abriu para repassar propina aos integrantes do partido, incluindo Lula. Palocci também foi citado como “gerente” dos repasses ilegais feitos ao ex-presidente pelo ex-diretor da Petrobrás Renato Duque, que também negocia um acordo.

Na lógica da força-tarefa, tem mais chance de ganhar o benefício da delação quem se dispõe antes a falar o que sabe.

Na semana passada, Palocci teve seu pedido de liberdade negado liminarmente pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.

Fachin remeteu o habeas corpus do petista para o plenário da Corte, fugindo da Segunda Turma, que recentemente decidiu libertar três alvos da Lava Jato, incluindo o também exministro José Dirceu.

Advogado. Dispensado ontem das causas relacionadas à Lava Jato, Batochio defendia Palocci havia dez anos. Nesse período, conseguiu 12 absolvições do exministro, como no episódio do caseiro Francenildo, em 2006, que levou à saída do petista da Fazenda. “Palocci não resistiu ao sofrimento psicológico que lhe foi imposto em Guantánamo meridional”, disse Batochio, referindo-se a Curitiba, base da Lava Jato.

 

O EX-MINISTRO E A OPERAÇÃO

Prisão

O ex-ministro Antonio Palocci foi preso em setembro do ano passado, na 35ª fase da Lava Jato, sob suspeita de operar propina da Odebrecht para o PT. Palocci está detido em Curitiba.

Réu

Palocci é réu em duas ações penais por corrupção a lavagem de dinheiro. A 1ª denúncia cita irregularidades em contratos de afretamento de sondas com a Petrobrás. A 2ª aponta propina paga pela Odebrecht de R$ 75 milhões.

Odebrecht

Palocci foi citado em delações da Odebrecht. Marcelo Odebrecht afirmou que a empreiteira “botou R$ 40 milhões” para atender a demandas de Lula e que o acerto foi feito com o ex-ministro.

Caixa 2

Mulher do ex-marqueteiro do PT João Santana e delatora, Mônica Moura disse que Palocci foi quem “vendeu” a ideia de que seria seguro receber pagamentos da Odebrecht via caixa 2, após o caso do mensalão.

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Operação Bullish selou colaboração

Vera Magalhães

13/05/2017

 

 

Antonio Palocci agiu nas últimas semanas como uma biruta de aeroporto. Depois de acenar publicamente ao juiz Sérgio Moro com uma colaboração judicial, recuou diante da decisão do Supremo Tribunal Federal de conceder habeas corpus a José Dirceu e outros presos da Operação Lava Jato.

Dispensou, inclusive, o criminalista Adriano Bretas, que tinha contatado para negociar os termos do acordo de delação premiada com a força-tarefa de Curitiba.

Mas o “Italiano” voltou a ficar nervoso quando o relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin, indeferiu seu HC e remeteu o caso ao plenário, e não mais à Segunda Turma, que soltou Dirceu.

Nesta semana, diante das revelações de Renato Duque e o depoimento de Lula a Moro, Palocci já voltava a demonstrar disposição de falar o que sabe. Duque e ele estão presos na mesma ala. Durante muito tempo, dividiram a mesma cela. O ex-diretor da Petrobrás está fazendo sua delação com o advogado Figueiredo Bastos, parceiro de Bretas.

Palocci já havia mandado chamar o advogado de novo quando a Polícia Federal deflagrou, na manhã de ontem, a Operação Bullish, para investigar fraude em empréstimo bilionário do BNDES ao grupo JBS, com Palocci de novo no epicentro.

Imediatamente, após conversar com investigadores e advogados, escrevi uma análise para a Broadcast/Estadão informando que a Bullish selaria de vez a delação do ex-ministro. Bingo! Ainda à tarde, Palocci dispensou José Roberto Batochio, advogado que dividia com Lula e que era um anteparo para que ele não colaborasse.

Palocci é o elo que falta às revelações de Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro, Duque, Delcídio Amaral e do casal João Santana e Mônica Moura. Pode dizer como funcionava a conta “Amigo”, gerenciada por ele e que, segundo Odebrecht, era usada para abastecer Lula. Também poderá dar detalhes sobre o caixa 2 em várias campanhas petistas e sobre a relação do partido, os governos e as empresas.

Daí o pânico completo nas hostes petistas. E o silêncio de Lula sobre o “Italiano” no depoimento de cinco horas a Moro.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45133, 13/05/2017. Política, p. A4.