Mônica entrega suposto e-mail de Dilma

Rafael Moraes Moura Breno Pires

13/05/2017

 

 

Após dizer que criou conta para se comunicar com presidente cassada sobre Lava Jato, delatora apresenta imagens registradas em tabelionato

 

 

 

A empresária Mônica Moura entregou ao Ministério Público Federal, ao fechar acordo de delação premiada, um registro com imagens de e-mail que ela disse ter usado para trocar mensagens com a presidente cassada Dilma Rousseff sobre o avanço da Lava Jato.

Mônica, mulher e sócia do ex-marqueteiro do PT João Santana, afirmou que criou “no computador da presidente” uma conta de e-mail com nome e dados fictícios, com senha compartilhada entre as duas e o ex-assessor de Dilma Giles Azevedo.

O Supremo Tribunal Federal divulgou ontem os vídeos da delação do casal, depois de o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, retirar o sigilo da colaboração dos marqueteiros.

Santana e Mônica foram responsáveis pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014.

Ao Ministério Público Federal, Mônica entregou bilhetes de passagens aéreas, trocas de mensagens no aplicativo WhatsApp com a mulher de um ex-assessor de Dilma e imagens da conta de e-mail 2606iolanda@ gmail.com, compartilhada com a petista, para, segundo ela, tratar sobre Lava Jato. As fotografias estão em Ata Notarial lavrada em 13 de julho de 2016 no 1.º Tabelionato Giovannetti, em Curitiba.

“A gente ficou pensando e ela falou no nome da mulher do presidente Costa e Silva. Ela que inventou o nome Iolanda e a gente criou esse e-mail”, afirmou Mônica. Conforme a delatora, a comunicação com Dilma era feita de forma “cifrada” para tratar da operação que apura corrupção e desvios na Petrobrás, já que a petista, segundo Mônica, havia dito que o contato não poderia ser por telefone.

De acordo com a empresária, a troca de mensagens era feita na área de rascunho da conta de e-mail, sem que os textos fossem efetivamente enviados. As mensagens, conforme relato, eram “metafóricas”.

Em uma delas, de 19 de fevereiro de 2016, Dilma teria escrito: “O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo, 10. O pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora está com câncer e com o mesmo risco.

Os médicos acompanham os dois, dia e noite.” “Eu entendi que a coisa estava bem complicada”, disse Mônica, que entregou aos procuradores uma foto com a mensagem copiada em um arquivo Word.

Aviso. A empresária relatou ainda que Dilma alertou Santana sobre a prisão do casal, no ano passado. Em fevereiro de 2016, segundo a delatora, Dilma avisou Santana, por telefone, que ele e a empresária seriam presos. A reação do casal, que estava na República Dominicana, foi de “desespero absoluto”.

“Na noite do dia 21 de fevereiro, ou do dia 20, fomos avisados que existia um mandado de prisão contra a gente. E, no dia 22, estourou a operação, a gente já estava esperando. A gente se preparou para o pior, vir pro Brasil. Fugir a gente não ia, jamais.”

A professora de Direito da FGV-Rio Silvana Batini afirmou que, em tese, as declarações de Mônica Moura podem determinar a abertura de investigação formal contra Dilma. “A partir do que consta na delação, podese pensar em pelo menos dois crimes: embaraço à investigação, mais conhecido como obstrução de Justiça, cuja pena varia de três a oito anos, e lavagem de dinheiro na condição de partícipe (instigação), cuja pena varia de três a dez anos”, disse.

Dilma negou as declarações do casal (mais informações nesta página). Giles Azevedo não foi localizado pela reportagem.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45133, 13/05/2017. Política, p. A6.