Geração de vagas ao azul e analistas veem reação no mercado de trabalho 

Eduardo Rodrigues e Fernando Nakagawa

17/05/2017

 

 

Carteira. Em abril, saldo líquido de empregos formais foi de 59,8 mil, o primeiro resultado positivo para o mês desde 2014, com abertura de postos em quase todos os setores; economistas afirmam, porém, que processo de recuperação será muito lento

Com a abertura de postos de trabalho com carteira assinada em quase todos os setores da economia, o Brasil registrou a criação de 59.856 empregos formais em abril, de acordo com dados anunciados pelo Ministério do Trabalho.

Esse foi o primeiro resultado positivo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) para o mês desde 2014, quando foram abertas 105 mil vagas.

Para analistas, o número positivo pode significar que o processo de deterioração do mercado de trabalho está próximo do fim. O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, reforçou que há um “estancamento” do processo de perdas de vagas dos últimos anos, mas disse que não deve ocorrer uma recomposição de vagas de maneira “célere”.

A consultoria prevê que o ano deve fechar com saldo positivo, mas ainda muito baixo. “O mercado de trabalho deve precisar de uns quatro anos para recompor esses 3 milhões de vagas perdidas”, disse, referindose à destruição de vagas nos últimos dois anos.

A avaliação do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, é de que o resultado de abril pode significar o começo de uma inversão na dinâmica do emprego.

Ele voltou a dizer que espera novos desempenhos positivos do Caged em maio e nos meses à frente. “Esperamos que se estabeleça e se concretize essa tendência de números positivos.

Quanto maior é o número de trabalhadores contratados e recebendo salários, melhor será a retomada da economia.” Apesar de o governo ter comemorado o resultado de abril, o primeiro quadrimestre do ano acumulou o fechamento de 933 vagas. Isso aconteceu porque as demissões prevaleceram em janeiro e março, o que evidencia a lentidão do processo de recuperação da economia. No acumulado em 12 meses, a perda de postos de trabalho ainda é bem grande, chegando a 969,9 mil demissões líquidas.

Especialistas ponderam também que, se forem retiradas as influências sazonais de abril – quando tipicamente há forte criação de vagas –, ainda prevalece a destruição de postos de trabalho. Nos cálculos do economista- chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo, houve eliminação de 30 mil vagas formais no mês passado, quando são retirados os fatores sazonais, como a contratação de empregados para a safra de canade- açúcar no Sudeste.

Mas Melo ressalta que esse saldo é menos negativo que o de março, quando foram fechadas cerca de 70 mil vagas – também com ajuste. “Em termos dessazonalizados, vemos um cenário de recuperação gradual do emprego, assim como da economia, com destruição líquida de vagas cada vez menor. Estamos saindo do fundo do poço

 

O Estado de São Paulo, n. 45137, 17/05/2017. Economia, p. B1