Lula queria ser candidato, diz empresária

Breno Pires Rafael Moraes Moura Luiz Vassallo

13/05/2017

 

 

Em seu depoimento ao MPF, Mônica Moura afirma que Dilma não deixou e disputou em 2014

 

 

 

Em depoimento a procuradores do ao Ministério Público Federal (MPF), a empresária Mônica Moura afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria ser o candidato à Presidência em 2014 e que isso causou um estremecimento na relação entre ele e a então presidente Dilma Rousseff, que decidiu concorrer à reeleição. A delatora disse também que “Dilma escanteou o PT totalmente” naquela campanha.

“Em 2014, houve um certo estremecimento entre Lula e Dilma, acho que isso é do conhecimento de todos. Os jornais veiculavam, mas eles negavam, mas é verdade. Porque o Lula queria ser candidato, e a Dilma não aceitou. Era a reeleição dela.

Ela se sentia forte”, disse Mônica, mulher do marqueteiro João Santana, na delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“Essa era a conversa dela com João. Eu nunca tive esse tipo de conversa com a Dilma. Depois João vinha me contar, que Lula queria ser candidato de 2014. Voltar. (Em) 2010 ele sai, e bota a apadrinhada dele lá, e em 2014 ele volta para ser candidato”, afirmou Mônica.

O suposto “estremecimento” entre Lula e Dilma, segundo a empresária, teria se refletido em um baixo engajamento do ex-presidente na própria campanha da candidata à reeleição, tanto na exposição quanto na organização. “Ele ia lá na produtora da gente, de vez em quando ele gravava apoio para ela, não queria colocar em risco também”, disse Mônica.

Poste. A empresária também afirmou em seu depoimento que a candidata petista “era um poste, realmente, para eleger”.

“Uma campanha como a da Dilma, em 2010, dificílima de fazer, todo mundo apostava que ia perder, era impossível, era um poste realmente para eleger. E o João não aceitava que ficassem dez, 12 pessoas do PT dando opinião sobre o programa”, disse Mônica.

Diante da missão “dificílima”, a delatora afirmou que o casal resolveu restringir a Lula e ao então coordenador da campanha de 2010, Antonio Palocci, os palpites sobre os trabalhos.

“Quem dava opinião era o Palocci, era o Lula. O (presidente nacional do PT) Rui Falcão era muito difícil chegar perto nesta época. Ele quase não era aceito no pequeno grupo.”

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Santana cita críticas de petista a Graça

Liana Costa

13/05/2017

 

 

O marqueteiro João Santana relatou, em delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF), que a presidente cassada Dilma Rousseff teria nomeado Graça Foster para a presidência da Petrobrás para acabar com a “esculhambação” na estatal.

De acordo com Santana, a declaração foi uma resposta da então presidente a críticas feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que consideraria a indicação de Graça um “erro profundo”.

Santana descreveu que, em um jantar no Palácio do Planalto, Dilma teria se ressentido com as queixas feitas por Lula.

“Ela me disse: ‘Olha, as críticas que o Lula faz a Graça são tão injustas quanto as críticas que a imprensa faz a mim”, afirmou o delator, em referência às denúncias de irregularidades na compra da refinaria de Pasadena (EUA) envolvendo a petista.

De acordo com o marqueteiro, Dilma alegou estar “colocando ordem na casa”. O objetivo seria acabar com problemas de gestão e possíveis usos políticos da Petrobrás. Como parte do “saneamento”, estaria a demissão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da empresa condenado pela Operação Lava Jato.

“Ela usou a frase ‘será que eles não enxergam que eu estou arrumando a casa? O canalha do Paulo Roberto Costa fui eu que tirei. E acabei remediando muita coisa lá’”.

As queixas de Lula a Graça Foster, de acordo com Santana, seriam relativas à demora no pagamento de empresas prestadoras de serviços para a Petrobrás.

Segundo o delator, o ex-presidente afirmava que os atrasos seriam sistemáticos e intencionais, o que teria irritado empresários.

“Ele tinha uma restrição pessoal e administrativa ao estilo da Graça. Dizia que ela era incompetente, não tinha estatura pro cargo, não tinha traquejo político, nem administrativo e que foi um erro profundo da Dilma colocá-la”.

O marqueteiro também disse que Lula fazia críticas constantes a Graça Foster, entre outros motivos, porque ela estava “fechando a torneira”. O marqueteiro afirmou que, à época, em 2014, não ligou as críticas de Lula ao pagamento às construtoras envolvidas no esquema de desvio de recursos na Petrobrás, mas que hoje, “vendo de trás para diante”, pode ter outro significado.

Defesa. Em nota enviada à imprensa anteontem, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou o sigilo dos depoimentos, a assessoria de Dilma Rousseff disse que João Santana e a mulher dele, a empresária Mônica Moura, “prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores”.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45133, 13/05/2017. Política, p. A7.