Caciques disputam comando do Amazonas

Vandson Lima e Fabio Murakawa

10/05/2017

 

 

O senador e ex-ministro Eduardo Braga (PMDB) larga na frente na corrida por um mandato tampão no Amazonas. A eleição, marcada para agosto, não só antecipa a disputa ao governo como altera a corrida ao Senado para 2018. Não à toa, movimenta, além de lideranças políticas locais, a bancada amazonense na Casa: Vanessa Grazziotin (PCdoB) tende a se aliar a Braga, enquanto Omar Aziz (PSD) está no campo oposto.

Às voltas com crises no sistema penitenciário, na educação, saúde e índices de desemprego ainda maiores que a média nacional, os amazonenses terão de escolher um novo governador depois da confirmação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da cassação do mandato de José Melo (Pros), sob acusação de compra de votos nas eleições de 2014. Melo foi afastado formalmente do cargo ontem, com a posse do presidente da Assembleia Legislativa, David Almeida (PSD).

Braga lidera as pesquisas e tem conversado com aliados e adversários em prol de uma grande coalizão para, em suas palavras, "salvar o Amazonas". "Estamos saindo de um pesadelo. A situação do Amazonas é desesperadora. Se essas forças se juntarem em torno do meu nome, vou me apresentar."

Há também um cálculo pragmático na possível candidatura de Braga. Antes virtual candidato ao governo em 2018, ele, bem como outros caciques da política local, deve adiantar os planos baseado no histórico eleitoral do Estado. A reeleição do governador é uma constante no Amazonas. Todos os eleitos desde 1994 foram reconduzidos a mais um mandato.

Por isso, quem vencer em agosto torna-se candidato fortíssimo a um novo mandato a partir do próximo ano. Em um Estado de enormes dimensões, onde os municípios dependem muito do governo estadual, o mandatário terá a máquina governamental à mão em uma disputa em que a perspectiva é de pouco dinheiro, pelas regras eleitorais vigentes que impedem a doação de empresas.

A reeleição no Amazonas é algo tão recorrente quanto o rompimento do eleito com seu padrinho político após a posse. Amazonino Mendes (PDT), Eduardo Braga (PMDB), Omar Aziz (PSD) e José Melo chegaram ao poder com apoio do antecessor e desfizeram a aliança após se sentarem na cadeira de governador.

O PSDB, do prefeito de Manaus Arthur Virgílio, é o aliado preferencial de Braga - o deputado Arthur Bisneto, filho do prefeito, é cotado para a vice. Braga também procurou adversários como o PR, de Marcelo Ramos, segundo colocado na eleição para a capital no ano passado e que já se coloca como candidato para a disputa do mandato-tampão, que durará cerca de 1 ano e 4 meses.

Braga jantou com o presidente Michel Temer na noite de segunda-feira, mas garante não ter acertado a candidatura. Ele estava acompanhado de sua esposa, Sandra Braga, também sua suplente - caso ele se torne governador, ela assumirá a vaga no Senado, como já o fez quando Braga foi ministro de Minas e Energia do governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

Além da aliança com os tucanos, Braga pode vir a ser apoiado pelo PCdoB. "Nós apoiamos a candidatura do Braga nas últimas eleições. Claro que cada eleição é uma eleição, mas eu creio que essa seja uma tendência", disse Vanessa Grazziotin. "É uma tendência, não é uma decisão ainda."

Há igualmente um cálculo pragmático no posicionamento do PCdoB, opositor do governo Temer no plano federal, em favor de Braga. Sua ida ao governo do Estado facilita o caminho de Grazziotin pela reeleição em 2018. Duas vagas estarão em disputa e Braga, eleito junto com a senadora em 2010, também lidera as pesquisas ao Senado.

Pesa contra Braga, contudo, investigação no âmbito da Operação Lava-Jato. Ele é suspeito de receber R$ 1 milhão em pagamentos indevidos da Odebrecht quando era governador, segundo inquérito autorizado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Na outra ponta, o senador e ex-governador Omar Aziz (PSD) articula possível apoio a Amazonino Mendes (PDT) - com 77 anos, ele é uma espécie padrinho original de todos os nomes atuais da política amazonense. Segundo aliados, a eleição às pressas atrapalhou o planejamento de Omar: ele vislumbrava concorrer ao governo em 2018, respaldado pelo fracasso de Melo, que rompeu com ele, em um cenário embaralhado. O fim abrupto do governo, no entanto, altera o cenário, pois o vencedor nesta eleição suplementar chegará forte para se reeleger. Também alvo da Lava-Jato, Omar não quis falar à reportagem.

O deputado federal Silas Câmara (PRB-AM) é outro que anunciou a intenção de se candidatar ao governo do Estado.

O custo da eleição suplementar para governador será o mesmo da eleição municipal do ano passado: R$ 17 milhões, segundo a direção do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM).

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4251, 10/05/2017. Política, p. A6.