Temer intensifica encontros com senadores do PMDB

Andrea Jubé, Vandson Lima e Bruno Peres

10/05/2017

 

 

Na reunião com 19 dos 22 senadores do PMDB, ontem no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer pediu, de forma veemente, o apoio da bancada às reformas trabalhista e da Previdência Social. A dissidência aberta pelo líder pemedebista, Renan Calheiros (AL), dividiu os senadores e acendeu o sinal amarelo no governo. Como estratégia para se contrapor à oposição do líder da bancada, Temer investirá no corpo a corpo com cada senador. O governo também atuará para acelerar a votação da reforma trabalhista no Senado e levá-la direto para o plenário.

"Debater é importante e necessário, mas quero lembrá-los que vocês são do PMDB, e o PMDB é o partido do governo. Se o governo perder, a derrota é de vocês também", advertiu o presidente aos correligionários durante a reunião no Planalto.

Para atenuar a oposição de Renan Calheiros, Michel Temer multiplicará as reuniões individuais com os senadores. Ontem estava previsto um jantar, no Palácio do Jaburu, com o senador Jader Barbalho (PA), ex-presidente do PMDB e visto como uma "instituição" no partido, capaz de influenciar vários votos na bancada. Além disso, Jader é um dos nomes mais próximos de Renan. Ele pode atuar como interlocutor para que Renan reveja a postura de oposição contra as reformas.

Na segunda-feira, Temer reuniu em um jantar reservado o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) e a esposa dele, Sandra Braga, que é sua suplente no Senado. Foi uma reunião íntima dos dois casais - Temer e a primeira-dama Marcela, Eduardo e Sandra. Se o senador decidir se licenciar para concorrer ao governo do Amazonas, caberá a Sandra o voto do PMDB nas reformas trabalhista e previdenciária.

Para evitar que o Senado faça mudanças que obriguem a devolução do projeto da reforma trabalhista para a Câmara, o governo abriu, na reunião de ontem, as negociações sobre possíveis vetos, conjugados com a edição de medida provisória para corrigir possíveis excessos da nova legislação.

Durante a reunião com Temer, além de Renan, mais dois senadores formalizaram pedidos de mudanças no texto da reforma trabalhista, que se forem empreendidas, podem contribuir para a aprovação da matéria.

Tanto Renan quanto Eduardo Braga questionaram o risco de excessiva "pejotização". Ambos afirmam que o texto aprovado naCâmara não traz dispositivos específicos para evitar a substituição das vagas com carteiras assinadas nas empresas pelos profissionais autônomos, registrados na forma de pessoas jurídicas que se tornam prestadores de serviços.

A senadora Simone Tebet (PMDB-MS) pediu que Temer vete o dispositivo que prevê a inversão do ônus da prova no caso de gestantes ou lactantes que eventualmente sejam acomodadas em locais de trabalho insalubres.

No fim da reunião, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que o governo trabalhará por uma tramitação acelerada na Casa, inclusive com a apresentação de relatórios de forma simultânea pelas três comissões que analisarão a matéria e a possibilidade da aprovação de um regime de urgência para o plenário.

O governo já conseguiu reduzir o número de audiências públicas que os senadores querem promover para discutir a reforma, de sete para apenas duas. Jucá prevê que a fase de audiências públicas nas comissões termine por volta do dia 15 deste mês.

Na sequência, Jucá precisará de 54 votos para aprovar um requerimento de urgência, o que deixaria a matéria pronta para ser votada imediatamente no plenário do Senado.

Ontem, Jucá ainda se reuniu com representantes de centrais sindicais em seu gabinete no Senado para ouvir as propostas das centrais, que se veem ameaçadas com o fim da obrigatoriedade do imposto sindical e pressionam por mudanças no texto. Depois, Jucá se reuniu com Temer para apresentar as demandas dos sindicalistas. (Colaborou Fabio Murakawa)

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4251, 10/05/2017. Política, p. A8.