Título: Acordos enfraquecem greve
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 23/12/2011, Economia, p. 14

Patrões elevam proposta de reajuste salarial para 6,50% e evitam paralisação total no país. Em Brasília, 20% estão de braços cruzados

Quem tem passagem marcada para viajar de avião às vésperas do Natal respirou mais aliviado ontem. A greve nacional nos aeroportos brasileiros, prevista para começar às 23h, não ocorreu em todos os terminais, como ameaçavam os sindicatos que representam os trabalhadores. Apesar de algumas mobilizações nos aeroportos pela manhã, ao longo do dia as manifestações foram enfraquecendo, à medida que as assembleias regionais acatavam a nova proposta feita pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea). Os patrões elevaram de 6,17% para 6,50% o reajuste dos aeroviários (profissionais de solo) e aeronautas (pessoal de bordo).

No decorrer do dia, empregados e patrões firmaram os acordos com as empresas aéreas, como o Sindicato Nacional dos Aeronautas, evitando que cerca de 15 mil pilotos, copilotos e comissários entrassem em greve e prejudicassem o fim de ano de muitos brasileiros. Já os representantes de 85 mil aeroviários não fecharam uma posição única em todos os aeroportos. A mobilização da categoria perdeu força nos últimos dias com a divisão entre os sindicatos ligados à Força Sindical e os filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT).

A entidade patronal informou que, além de fechar acordo na terça-feira com os dois sindicatos municipais dos aeroviários do Rio de Janeiro e do Amazonas, ligados à Força, havia recebido sinalização dos aeroviários da CUT do Rio Grande do Sul e de Pernambuco. Em São Paulo, apenas os funcionários de solo do Aeroporto de Guarulhos aprovaram a novo acordo com as companhias. A representação sindical de Congonhas (feita tanto pela CUT quanto pela Força) marcou uma nova assembleia para segunda-feira. O Sindicato Nacional dos Aeroviários, que representa os profissionais de Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Belém é o mais resistente ao acordo, segundo o Snea.

Em Brasília, os aeroviários aderiram parcialmente à greve. "A paralisação do efetivo é apenas 20% do total, conforme a determinação do Tribunal Superior do Trabalho (TST)", informou o diretor do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Luciano de Oliveira. Na quarta-feira, o presidente do TST, João Oreste Dalazen, deu liminar favorável ao Snea, determinando que, no mínimo, 80% do pessoal esteja em seus postos nos dias 23, 24, 29 e 30. Caso não respeitem a decisão, os sindicatos serão multados em R$ 100 mil por dia.

A paralisação, entretanto, não causou tumulto no Aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek, onde cerca de 50 aeroviários protestaram, fazendo mímica para chamar a atenção dos passageiros. A iniciativa não chegou a atrapalhar a movimentação dos viajantes. O bancário Danilo Coelho, 27 anos, por exemplo, embarcou sem maiores problemas para São Paulo. Ele não teme transtornos na volta. "Tudo está aparentemente tranquilo. Por isso, não tenho medo de que algo dê errado", justificou. O psicólogo Jonathan Rospide, 34, e a mulher, a estudante Bárbara Rospide, 26, também não tiveram problemas. Eles viajaram para o Rio de Janeiro. "Até agora não houve transtornos, mas em 6 de janeiro iremos para Porto Alegre. Se eles continuarem em greve, temo não conseguir chegar", observou Bárbara.

JK lidera reclamaçõesO Aeroporto Juscelino Kubitschek, de Brasília, é o recordista de reclamações nos juizados especiais. Registrou 7,2 mil queixas de janeiro a novembro, das quais 1,2 mil (16,79%) resultaram em acordos. Em segundo lugar, ficou o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com 6,8 mil reclamações e 541 (7,88%) acordos no mesmo período. As informações são da Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ), que divulgou o balanço nacional dos sete juizados especiais instalados nos aeroportos de Brasília, São Paulo (Congonhas e Cumbica), Rio de Janeiro (Galeão e SDU) e Mato Grosso (Marechal Rondon). No total, foram 22,6 mil reclamações desde o início do ano, com 3,6 mil acordos.