Daiene Cardoso
Fernando Nakagawa
Isadora Peron
26/04/2017
O governo conseguiu nova vitória no Congresso com o avanço da reforma trabalhista na Câmara. Após ceder em alguns pontos, o texto-base foi aprovado com o apoio de 27 deputados da comissão especial e apenas dez votos contra.
Na última hora, o projeto recebeu mais de 30 emendas.
O relator Rogério Marinho (PSDB-RN) comemorou a tramitação e avalia que há clima favorável para aprovar a reforma no plenário hoje.
Horas antes de ser avaliado pela Comissão Especial, o texto foi alterado para tentar contornar a pressão de grupos insatisfeitos.
Nesse ajuste, o relator acatou três sugestões: manteve a exigência de laudo médico para gestantes ou lactantes que trabalham em ambientes insalubres, proibiu contrato intermitente para profissionais que seguem legislação específica e ajustou a norma sobre trabalho de deficientes.
A reação de Marinho aconteceu em meio ao clima de pressão no plenário da comissão, repleto de sindicalistas e trabalhadores.
Um dos grupos contava com mais de uma dezena de pilotos que, uniformizados, protestavam contra a possibilidade de aéreas adotarem contratos intermitentes – aqueles em que o empregado fica à disposição da empresa. A pressão deu certo e, pelo texto aprovado, aeronautas não poderão ser admitidos por esse contrato.
Outra alteração prevê que o período de férias poderá ser determinado pelo empregador com antecedência mínima de 60 dias. A nova regra mostra endurecimento da atual, prevista pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que cita só que “a época da concessão das férias será a que melhor consulte os interesses do empregador”.
O projeto aprovado confirma a maior força dos acordos coletivos, que poderão se sobrepor à legislação. A redação diz que “a convenção ou o acordo coletivo de trabalho tem força de lei e prevalecerá sobre as disposições legais”. Entre os temas que poderão ser alvo de acordo, estão a divisão das férias em até três vezes e a mudança na remuneração ao permitir pagamento por produtividade.
O parcelamento do período de descanso anual em até três vezes também poderá ser tema de acordo individual entre patrão e empregado. Mesmo após a vitória, houve manobra dos governistas para evitar a votação dos destaques ao texto. Assim, parlamentares só poderão apresentar mudanças em plenário.
Apesar do clima de comemoração, o relator da reforma manteve o tom cauteloso e disse que o principal desafio passa a ser “manter a coesão” da base governista para aprovar o texto no plenário. “Não sei se a reforma trabalhista passará com facilidade, mas há ambiente favorável”, disse Marinho.
O ritmo frenético das negociações continuou ontem à noite.
O governo tenta negociar mudanças no projeto para facilitar a aprovação hoje no plenário da Câmara. O líder do governo na Casa, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), foi escalado para procurar o relator e costurar novos ajustes com o objetivo de obter a necessária maioria simples dos 513 deputados.
O direção do PSB, por exemplo, fechou questão contra as reformas.
Mas dos dois parlamentares do partido na comissão, um votou contra e outro foi a favor. Dono da quinta maior bancada da Câmara, o PSD fechou questão a favor da reforma trabalhista. Com a decisão, os 37 deputados do partido são obrigados a votar favoravelmente à proposta, sob risco de punição. /COLABOROU IGOR GADELHA
Férias
COMO É HOJE
Período de 30 dias pode ser dividido em, no máximo, duas vezes, sendo uma delas com, pelo menos, dez dias
PROPOSTA DO RELATOR
Período poderá ser determinado pelo empregador, devendo avisar com mínimo 60 dias de
antecedência. Parcelamento dos 30 dias pode ser em até três vezes
Remuneração
COMO É HOJE
Não pode ser negociado
PROPOSTA DO RELATOR
Acordos coletivos poderão criar remuneração por produtividade, prêmios de incentivo e
participação nos lucros ou resultados
Almoço
COMO É HOJE
Trabalhos que excedam seis horas, devem ter, no mínimo, uma hora de repouso
PROPOSTA DO RELATOR
Intervalo de almoço poderá ser de apenas 30 minutos; hoje é de uma hora
Jornada
Jornada de trabalho é de 44 horas semanais, com 8 horas por dia, no máximo
PROPOSTA DO RELATOR
Possibilidade de pactuar jornadas de trabalho diferentes de 8 horas por dia, desde que respeite limites de 12 horas em um dia, 44 horas por semana (ou 48 horas, contabilizando horas extras)
Gravidez
COMO É HOJE
Hoje não há limite de tempo para avisar a empresa
PROPOSTA DO RELATOR
Mulheres demitidas têm até 30 dias para informar a empresa da gravidez
Transporte
COMO É HOJE
Tempo gasto para chegar ao trabalho, quando não há acesso público, será incluído na jornada de trabalho
PROPOSTA DO RELATOR
Fim da obrigatoriedade do pagamento pelas empresas das chamadas horas “in itinere”. A jornada de trabalho começa a contar quando o empregado chega ao posto de trabalho
Trabalho alternado
COMO É HOJE
Atualmente, as categorias que já trabalham com jornadas alternadas, como médicos, estão irregulares
PROPOSTA DO RELATOR
Regulariza a jornada de 12 horas de trabalho alternadas por 36 horas de descanso já adotada atualmente por algumas categorias
Trabalho intermitente
COMO É HOJE
CLT não permite trabalho intermitente
PROPOSTA DO RELATOR
Permite a contratação de funcionários sem horário fixo e com pagamento com base nas horas de serviço
Home office
COMO É HOJE
Não está previsto na legislação
PROPOSTA DO RELATOR
Regulamenta o teletrabalho. Responsabilidade sobre fornecimento, manutenção de equipamentos será prevista em contrato
Contribuição sindical
COMO É HOJE
Contribuição é obrigatória e equivale a um dia de trabalho
PROPOSTA DO RELATOR
Fim da obrigatoriedade da contribuição sindical; o pagamento será facultativo
Terceirização
COMO É HOJE
Projeto da terceirização, aprovado em março, já permite terceirização em todas as atividades, incluindo atividades-fim
PROPOSTA DO RELATOR
Texto traz salvaguardas ao projeto de terceirização, como restringir que empresas demitam seus funcionários e os recontratem na sequência como terceirizados. A proibição valerá por 18 meses
O Estado de São Paulo, n. 45116 , 26/04/2017. ECONOMIA, p. B3