Relatório do TCU indica favorecimento do BNDES à JBS

Fábio Fabrini

26/04/2017

 

 

Ex-presidente do banco é questionado pela autorização de crédito para a compra da americana Swift, ‘contra as regras da instituição’

A Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) implica oito ex-diretores do BNDES, entre eles o ex-presidente da instituição, Luciano Coutinho, por suposto favorecimento à JBS S/A, dona da marca Friboi, na compra do frigorífico americano Swift Foods, em 2007. Conforme relatório técnico da corte, ao qual o ‘Estado’ teve acesso, os executivos teriam cometido irregularidades na aprovação de um aporte de US$ 750 milhões (R$ 2,3 bilhões, em valores atuais) para a aquisição da empresa estrangeira.

O investimento foi uma das operações do BNDESPar – braço do BNDES para a compra de participação em empresas –, feitas para capitalizar a JBS, dando apoio a seu crescimento e internacionalização.

Com o investimento, o banco público passou a ser sócio do grupo brasileiro. A estratégia foi amplamente adotada nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, com vistas à criação de “campeões nacionais” em alguns setores da economia.

Para viabilizar a aquisição da Swift, o grupo brasileiro solicitou em maio de 2007 apoio de cerca de US$ 600 milhões do BNDESPar, mediante subscrição de ações. Em junho, após uma análise feita pelo banco, o valor do aporte aumentou para US$ 750 milhões. Com a incorporação da gigante americana, a JBS se tornou à época a terceira maior empresa de carne bovina dos EUA.

A auditoria do TCU diz que os atos dos então dirigentes do BNDES atentaram contra regras do próprio banco e “os princípios constitucionais da moralidade, da impessoalidade e da eficiência”.

Foi constatado que o BNDESPar pagou ágio de R$ 0,50 para cada uma das cerca de 139 milhões de ações, o que resultou em prejuízo de R$ 69,7 milhões.

De acordo com o documento, não cabia o pagamento do prêmio, pois não havia “quaisquer razões de cunho mercadológico” que justificassem “oferecer valor maior que o preço justo” para a transação.

Os auditores propõem aos ministros da Corte a abertura de uma tomada de contas especial para aprofundar a investigação sobre essas perdas e cobrar eventual ressarcimento. Além dos oito ex-diretores, 11 servidores do BNDES, que participaram do negócio, são apontados como responsáveis.

O relatório diz que Coutinho e os demais diretores aprovaram o aporte por unanimidade, “sem justificativa plausível” para aumentar o valor inicial solicitado pela empresa. Além disso, sustenta que os executivos acataram, “sem embasamento em documentação apropriada e em avaliações econômico-financeiras”, estimativas de custos acessórios da operação que montavam a 10% do valor do aumento de capital proposto pela empresa brasileira.

O resultado, diz a auditoria, foi a realização de investimento “em valor não comprovadamente necessário para a operação, beneficiando a JBS , que passou a dispor de, pelo menos, US$ 235 milhões em caixa para utilizar como bem lhe conviesse”. O relatório foi submetido ao relator do processo no TCU, Augusto Sherman, que pautou o caso para julgamento hoje.

 

Outro lado. Procurado, o BNDES informou que só vai se pronunciar após a reunião do plenário do TCU, prevista para hoje. Em nota, o banco explicou que os diretores de Controladoria, Ricardo Baldin, Jurídico, Marcelo de Siqueira Freitas, e da Área de Mercado de Capitais, Eliane Lustosa, passaram o dia de ontem em reuniões com ministros do TCU e suas equipes para “esclarecer dúvidas” sobre a compra da Swift pela JBS, e sobre o funcionamento da área de mercado de capitais do banco, a BNDESPar.

O ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho disse, em nota, ter recebido “com surpresa” as informações do Estado sobre o caso. Ele disse que não teve acesso ao processo, que corre em sigilo. Disse também que não lhe foi solicitado, ou a qualquer dos outros citados, “qualquer tipo de esclarecimento pelo TCU a respeito do caso”.

Coutinho sustentou que a operação “foi realizada dentro da mais absoluta regularidade, tendo sido analisada em todas as instâncias pelas equipes técnicas do BNDES”. ‘Todas as regras e procedimentos usuais da instituição foram observadas, sem nenhum tipo de favorecimento à JBS. Também não cabe falar em prejuízo, porque a operação foi lucrativa para a BNDESPar”, argumentou.

A JBS, em nota, disse que o TCU, “no desempenho de seu papel de órgão fiscalizador”, está auditando o BNDES, e não a empresa. “Ainda assim, a companhia sempre deixou claro a seus acionistas e ao mercado em geral que todos os atos societários advindos dos investimentos do BNDESPar foram praticados de acordo com a legislação do mercado de capitais brasileiro, são públicos e estão disponíveis no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e no site de relações com investidores da JBS.” “Vale ainda ressaltar”, prossegue a nota, “que a JBS já era uma companhia de capital aberto, com ações negociadas na Bovespa, e todos os investimentos do BNDESPar na JBS ocorreram a valores de mercado, dentro do crivo da CVM e em consonância com a legislação vigente.

 

Defesa

“Operação foi realizada dentro da mais absoluta regularidade, tendo sido analisada em todas as instâncias pelas equipes técnicas do BNDES.”

Luciano Coutinho

EX-PRESIDENTE DO BNDES

 

PARA LEMBRAR

Histórico de aquisições

A compra da Swift americana, em 2007, por US$ 1,4 bilhão (valores da época) transformou definitivamente a JBS em uma empresa global, ao se tornar, naquele momento, a terceira maior do setor de carnes nos Estados Unidos. Também assumia a posição de número um no mercado australiano. O grupo brasileiro, porém, não parou aí. Depois da Swift, adquiriu nos Estados Unidos a Smithfield Beef, por mais de US$ 500 milhões, consolidando sua posição no setor de carne bovina no mercado americano. Outra grande tacada nos EUA foi a compra da Pilgrim’s Pride, uma das maiores processadoras de aves do país, em 2009. Com todas essas aquisições, que sempre contaram com o apoio do BNDES, o JBS se firmou como o maior grupo do setor de proteína animal do mundo.

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Empréstimos do BNDES têm queda de 20,4%

Vinicius Neder

26/04/2017

 

 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 5,1 bilhões em março, encerrando o primeiro trimestre com R$ 15,1 bilhões desembolsados para empréstimos já contratados, queda de 20,4% em relação a igual período de 2016, já descontada a inflação.

O banco de fomento preferiu chamar atenção para dados desagregados, “sinais incipientes de melhoria na demanda”, para argumentar que há expectativa de melhoria da atividade econômica.

Entre os dados positivos está o aumento de 32% nas aprovações da Finame, linha para financiamento de bens de capital – no primeiro trimestre, foram R$ 4,6 bilhões em empréstimos aprovados.

“Já aparecem sinais de que a entrada de operações está melhorando”, disse o chefe do departamento de Políticas Operacionais e Informação do BNDES, Tiago Soeiro.

Ele destacou que o avanço não ficou restrito ao setor agrícola, que desde o fim do ano passado vinha demandando mais financiamento no programa Moderfrota, voltado principalmente para tratores. Embora as aprovações no Moderfrota tenham crescido 13% no primeiro trimestre na comparação com o ano passado, as operações para investimentos em caminhões e ônibus cresceram 9% em valor, enquanto as para máquinas e equipamentos avançaram 128%.

As aprovações gerais – não só da Finame – recuaram 16,3%, para R$ 12,4 bilhões. “Os desembolsos e as aprovações carregam operações que estão há muito tempo no banco”, disse Soeiro, reforçando que os valores liberados não são uma boa medida da atividade econômica porque os projetos financiados pelo BNDES são de longo prazo, ou seja, tiveram crédito contratado em anos anteriores.

No primeiro trimestre, as consultas, primeira etapa do processo de pedido de crédito, ficaram 14,6% abaixo de igual período do ano passado, com R$ 21,2 bilhões.

Na área de infraestrutura, porém, as consultas subiram 25% em relação a 2016, para R$ 9,298 bilhões.

No setor industrial os desembolsos somaram R$ 3,1 bilhões no primeiro trimestre, queda de 46%. Também houve quedas nas aprovações e consultas para projetos da indústria.

 

Empréstimos

R$ 15,1 bi foi o valor desembolsado pelo banco de fomento no primeiro trimestre do ano para empréstimos já contratados. Só em março soma chega a R$ 5,1 bilhões


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59 investigados da Carne Fraca viram réus

Ricardo Brandt

 Julia Affonso

26/04/2017

 

 

O juiz federal Marcos Josegrei da Silva levou para o banco dos réus 59 investigados da Operação Carne Fraca, que aponta corrupção e fraudes envolvendo fiscais do Ministério da Agricultura e empresários e funcionários de frigoríficos e empresas de carnes processadas.

Entre eles estão nomes da JBS e da BRF – duas gigantes do setor.

Josegrei aceitou ontem as cinco denúncias criminais apresentadas pelo Ministério Público Federal, na semana passada. Dos 59 alvos agora réus em ações penais, 24 estão presos preventivamente.

As ações penais, com base nas denúncias do Ministério Público Federal, abrangem apenas os alvos da Carne Fraca que estão presos ou que têm relação com eles.

Para os demais investigados, a Polícia Federal segue com o inquérito aberto, incluindo os crimes relacionados a lavagem de dinheiro.

Os réus serão agora notificados da decisão do juiz e terão prazo de dez dias para apresentar suas defesas iniciais no processo.

O Estado de São Paulo, n.45116 , 26/04/2017. Economia, p. B7